Blog do Flavio Gomes
F-1

YES, WE CARE (3)

MOSCOU (volta, rotina) – Pela primeira vez em anos o textão pós-GP ficou para o dia seguinte e acho que devo explicações aos cada vez mais parcos leitores deste blog — migrou todo mundo para as redes sociais, é uma tristeza; mas resistiremos. Como estamos, nós da Fox, numa programação de Copa que respeita o […]

MOSCOU (volta, rotina) – Pela primeira vez em anos o textão pós-GP ficou para o dia seguinte e acho que devo explicações aos cada vez mais parcos leitores deste blog — migrou todo mundo para as redes sociais, é uma tristeza; mas resistiremos.

Como estamos, nós da Fox, numa programação de Copa que respeita o fuso horário brasileiro, ontem, assim que terminou a corrida, tive de sair correndo para algum programa ao vivo que já não lembro qual era. E depois teve outro, e quando pude sentar para escrever o dia já tinha amanhecido e eu precisava fazer algo necessário para os seres humanos, que é dormir para poder acordar algumas horas depois — e retomar a rotina dos longos programas ao vivo.

[bannergoogle]Enfim, está explicado. Chega de conversinha.

Foi muito bom o GP da Inglaterra, de novo porque um protagonista se deu mal na largada e teve de remar a corrida inteira para chegar onde seus rivais já estavam desde o início. Desta vez, a vítima foi Lewis Hamilton, que levou um toque de Raikkonen nos primeiros metros da prova, caiu para último e garantiu o espetáculo. Passou todo mundo e terminou em segundo, não muito distante de Sebastian Vettel — que ampliou sua liderança no campeonato e alcançou 51 vitórias na categoria, como Prost.

O alemão da Ferrari fechou a sequência de GPs europeus em três domingos seguidos com 50 pontos marcados (um quinto, um terceiro e uma vitória), contra 43 de Lewis (uma vitória, um abandono e um segundo). Tem 171 agora, contra 163 do inglês. Estava 14 pontos atrás após o massacre da Mercedes em Paul Ricard, que abriu a série. Na Áustria e na Inglaterra, virou o jogo e agora está oito na frente. É um bom campeonato. E que bom que o Imprevisível da Silva, parente próximo do Sobrenatural de Almeida, agiu com desenvoltura nessas últimas duas corridas.

Silverstone viveu um fim de semana de calor incomum e muito sol, mesmo para o verão britânico. No domingo, a temperatura ambiente bateu nos 28°C com 53°C no asfalto. Um teste rigorosíssimo para os pneus, que acabaram tendo papel decisivo no resultado final.

Hamilton começou a perder a corrida por ter largado mal, dando a Vettel a chance de pular na frente e ficando sujeito a algum ataque insano de quem vinha babando atrás. No caso, o ataque partiu da outra Ferrari, de Kimi, que calculou mal uma freada e acabou acertando o #44, que rodou para desespero dos torcedores ingleses.

Aqui, abra-se um parêntese razoavelmente longo. Ao final da prova, Hamilton insinuou que Raikkonen bateu nele de propósito. Citou uma “estratégia interessante” da Ferrari. Foi deselegante. Mas se apressou, no dia seguinte, em corrigir o erro. Pediu desculpas e escreveu, numa de suas redes sociais que já não sei qual é, que “de vez em quando a gente fala umas merdas”. Está desculpado. Mas não estão perdoados pela verborragia três dirigentes da Mercedes, a saber: James Allison, Niki Lauda e Toto Wolff. O primeiro, ex-Ferrari, falou que o que Kimi fez foi “deliberado”. O segundo esbravejou dizendo que não é “nada engraçado” o que aconteceu. O último especulou: ou foi de caso pensado, ou incompetência, mesmo. Sustentar tais opiniões é diminuir o valor de Vettel, primeiro, e colocar em dúvida o caráter de um piloto como Raikkonen, que todos conhecem há séculos e é incapaz de baixarias desse tipo — não faz nem por ele, imagina se o faria na condição de vassalo da equipe para ajudar o companheiro. Enfim, falaram demais e falaram bobagens. Foi um incidente de corrida dos mais comuns. Kimi admitiu que errou e se desculpou. Foi punido com 10s no pit stop e não reclamou. Fechado o parêntese, sigamos.

A recuperação de Hamilton foi empolgante e levantou o público em Silverstone — 340 mil pessoas nos três dias, um espanto. Na sexta volta, já estava em décimo, entrando nos pontos pela primeira vez, 25s atrás do líder Vettel. Na 11ª, livrara-se de todos os adversários de segundo e terceiro escalões e aparecia em sexto, na rabeira da turma da ponta — lá na frente estavam Sebastian, Bottas, Verstappinho, Raikkonen e Ricciardo, este 13s à frente do inglês.

Na volta 14 começaram os pit stops, com a entrada de Kimi nos boxes para pagar o pênalti. Só na 21ª Vettel parou, e Hamilton esticou seu stint até a 25ª, quando sua borracha macia já estava abrindo o bico. Voltou em sexto de novo, já com pneus médios. Em tese, seria corrida para apenas uma parada. Mas na 31ª Ricardão entrou de novo para colocar um segundo jogo de macios. O calor e o ritmo fortíssimo dos ponteiros estavam judiando dos pneus e tudo indicava que todos teriam de fazer o mesmo que o australiano.

[bannergoogle]Só que veio um safety-car, na volta 32, por conta de uma batida de Ericsson. Quase todo mundo aproveitou e foi para os boxes. Menos os dois pilotos da Mercedes. Era uma aposta bem arriscada. Bottas assumiu a liderança com pneus médios usados, com Vettel de macios novos em segundo e Lewis em terceiro também com pneus médios já bem rodados. Depois deles apareciam Verstappen, Raikkonen e Ricciardo — que se deu mal porque parou um pouco antes –, todos com macios novos.

Os pneus da dupla prateada aguentariam até o final? Era a grande pergunta que se fazia nos boxes dos dois times protagonistas da temporada. A relargada aconteceu na volta 38, mas nem deu tempo de acelerar direito porque na 39 Sainz Jr. e Grosjean bateram e novo safety-car foi necessário para limpar a pista. E ele só saiu na 42ª. Essas nove voltas em fila indiana e ritmo lento ajudaram a Mercedes, sem dúvida. Deu para poupar um pouco de borracha e garantir um final de prova sem ter de parar de novo. Só que os demais tinham borracha mais aderente, fresquinha e reluzente. Segurá-los seria tarefa inglória.

As últimas voltas, com Mercedes/Ferrari/Mercedes/Ferrari separados por fios de cabelo foram alucinantes — a Red Bull, sem a mesma velocidade de reta, ficou um pouco para trás. Na 47ª, Sebastian fez uma manobra brilhante e passou Valtteri, que logo depois perderia a posição também para Hamilton e Raikkonen. Os pneus do #77 já não aguentavam mais. Kimi, com mais algumas voltas, talvez conseguisse passar Lewis, também. Mas não deu tempo. Ficou em terceiro. Bottas, Ricciardo, Hülkenberg, Ocon, Alonso, Magnussen e Pérez fecharam os pontos.

“Ganhamos na casa deles!”, festejou um mui sorridente Vettel no pódio, ao lado de um Hamilton contrariado e cabisbaixo. Foi mesmo uma grande vitória, de um piloto que tem cometido seus erros neste ano, sim, mas que pode ser acusado de qualquer coisa, menos de não lutar. Sebastian tem sido um leão em 2018. É o que tem garantido a emoção de um Mundial de altos e baixos, que teve em Silverstone, sem dúvida, um de seus altos.

Ah, o “Sobre ontem…”, com o rescaldão do GP, fica para amanhã. Ou, no meu fuso, para hoje, só que mais tarde. São 4h aqui…