Blog do Flavio Gomes
F-1

SPA EM CHAMAS (4)

SÃO PAULO (tudo sob controle) – O que posso dizer a vocês é: férias dão trabalho, quando a gente decide não parar um minuto. Explicado o atraso. Vamos em frente. Nada de chuva, apesar de um friozinho de 17°C. Tudo para ser uma corrida chata. Foram muitas assim, nessa que é a pista mais espetacular […]

bel181

SÃO PAULO (tudo sob controle) – O que posso dizer a vocês é: férias dão trabalho, quando a gente decide não parar um minuto.

Explicado o atraso. Vamos em frente.

Nada de chuva, apesar de um friozinho de 17°C. Tudo para ser uma corrida chata. Foram muitas assim, nessa que é a pista mais espetacular de todas. Que ninguém se iluda. A gente tem na memória grandes provas na Bélgica. Mas quando o tempo está firme demais, o favoritismo de quem tem o melhor carro sempre se confirma em Spa-Francorchamps, porque todo mundo se espalha pelo circuito rapidamente demais. E aí não tem milagre.

Foi assim, domingo. A bem da verdade, tudo que de importante, dramático, emocionante e decisivo aconteceu nessa corrida se passou na primeira volta. A começar pelo assustador acidente envolvendo Nico Hülkenberg, Fernando Alonso e Charles Leclerc.

Não foi propriamente um acidente incomum — neguinho voando na largada em Spa é algo que acontece de vez em quando. A distância da largada até a freada fortíssima para a Source é muito grande, e como se sabe a aceleração dos carros de F-1 é brutal. Eles chegam lá como se já viessem de cano cheio lá da Bus Stop. Aí, freio frio é uma desgraça. E receio que tenha sido isso, aliado a um erro de cálculo inadmissível do alemão da Renault, que resultou naquela porrada absurda na traseira de Fernandinho.

Na hora, ao ver Alonso voando, exclamei (exclamei!): porra, esse cara ligou o foda-se mesmo! Afinal, dias atrás anunciou que está deixando a F-1 e tal… Ninguém escutou minha exclamação, e então fiquei quieto. E sorte minha que ninguém escutou, porque era uma bobagem sem tamanho o julgamento precipitado.

Nico encheu o carro do espanhol, que decolou sobre o de Leclerc, e todos se espatifaram. Grande Halo, não? Pela marca no carro do monegasco, pode-se afirmar que a gaiola protegeu o piloto, sim. Ah, se não tivesse nada passava direto!, pode argumentar alguém. Gente, nunca se sabe. E mesmo se isso for verdade, e daí? Odeio o Halo, acho feio e outro dia escrevi que, pombas, de vez em quando acontece alguma coisa mesmo, é corrida… Bobagem, também. É horrível, mas se salvar vidas, não dá para questionar.

Houve efeitos colaterais. Na confusão, a asa de Ricciardo foi arrancada e ele tocou em Raikkonen, furando seu pneu. E Bottas acertou Sirotkin.

Felizmente não foram acionadas bandeiras amarelas em toda a pista na hora, e nem o safety-car foi convocado imediatamente — graças ao tamanho do circuito, até todo mundo chegar lá de novo o pessoal teria pelo menos dois minutos para avaliar a situação. Porque foi até a metade da primeira volta que a corrida acabou sendo efetivamente decidida.

Vettel, que perdera a pole para Hamilton no sábado muito em função da chuva, partiu feito um maluco para cima do inglês para aproveitar a sequência velocíssima de Eau Rouge, Raidillon e Kemmel, onde o vácuo chupa o carro de trás lindamente. O mesmo fizeram Ocon e Pérez, que formavam a segunda fila com a nova Racing Point Force India, e na aproximação da Combes, chicane lá no alto, os quatro estavam lado a lado na reta. Belíssima imagem.

Mas ninguém quis virar herói na primeira volta, um cedeu aqui, outro ali, e as coisas se ajeitaram: Vettel freou mais tarde e levou a ponta; Pérez ficou na frente de Ocon, que achou melhor ficar na dele. E quando essa situação estava já resolvida, o safety-car foi chamado, impedindo uma tentativa imediata de reação de Hamilton que até poderia acontecer, no calor da contenda, no trecho bem rápido da Blanchimont — que leva até a chicane construída onde ficava a clássica Bus Stop.

Só na quarta volta a prova foi reiniciada, e Vettel se defendeu bem dos ataques previsíveis, mas talvez um tanto tímidos, de Hamilton. Experiência conta muito, nessa hora. Pérez, Ocon, Verstappen, Grosjean, Magnussen, Gasly, Ericsson e Sirotkin formavam o pelotão dos dez primeiros.

Até a décima volta, Verstappen já tinha se livrado dos dois carros rosáceos e assumido o terceiro lugar para correr sozinho até o fim. Vettel, àquela altura, tinha 3s5 sobre Hamilton. Dizer que a corrida terminou aí não seria exagero nenhum. Raikkonen, pouco antes, havia abandonado com um problema no eixo causado pela volta inteira de pneu furado que dera no início. Um pouco mais adiante, era Ricciardo quem abandonaria, já muito prejudicado pela quebra da asa também no comecinho.

Para não dizer que ninguém suou o macacão para se recuperar, é justo que se mencione Bottas, que largou do fundo do pelotão e teve de trocar o bico logo de cara. Com um carro muito melhor do que os demais, foi escalando o pelotão até chegar em Pérez a quatro voltas do final. Passou e assumiu o lugar que dava, quarto, porque os três primeiros já estavam léguas belgas à frente.

Vettel, Hamilton, Verstappinho, Sapattos, Pérez, Ocon, Grojã, Magnussen, Gasly e Ericsson fecharam nos pontos. Vejam que em relação às posições da primeira volta, inseriu-se apenas Bottas nessa lista, excluindo-se dela o soviético Sirotkin. E o jovem Max, para alegria dos milhares de holandeses presentes em Spa, passou os dois da Force India (não sei ainda como chamar essa equipe). Daí se conclui que a corrida não foi grande coisa. Não esteve à altura dos melhores GPs da Bélgica da história, em resumo.

Foi a 52ª vitória da carreira de Tião Italiano, agora isolado como terceiro maior vencedor da história — atrás apenas de Schumacher e Hamilton. Foi a 214 pontos, reduzindo de 24 para 17 pontos a desvantagem na classificação em relação ao britânico da Mercedes. Tem água para rolar debaixo dessa ponte, ainda. Domingo é na Itália. E, de novo, pode-se afirmar: em condições normais, sem chuva, punições, acidentes esquisitos com terceiros, a Ferrari é favorita. Neste momento do campeonato, seu motorzão anda fazendo a festa. E, em Monza, é tudo que se precisa.