Blog do Flavio Gomes
F-1

NO PAÍS DOS SOVIETES (2)

RIO (ficando feio) – Não dá para falar dessa classificação para o GP da Rússia sem esculhambar um regulamento que ninguém mais aguenta na F-1. Falo das punições, da história dos pneus, das regras que ninguém que está do lado de fora entende direito. O Q2 de Sóchi hoje foi a demonstração mais bem acabada […]

RIO (ficando feio) – Não dá para falar dessa classificação para o GP da Rússia sem esculhambar um regulamento que ninguém mais aguenta na F-1. Falo das punições, da história dos pneus, das regras que ninguém que está do lado de fora entende direito.

O Q2 de Sóchi hoje foi a demonstração mais bem acabada de que esse modelo se esgotou. Eram 15 carros para disputar 10 vagas no Q3. Cinco não foram à pista. Os dois da Red Bul, porque estavam previamente punidos por trocas nos motores. Gasly, idem. Os dois da Renault, porque acharam que não seriam páreo para Force India, Sauber e Haas, e optaram por largar de 11º para trás para poderem escolher os pneus que vão usar no início da prova.

É abrir mão da competição. E numa competição, quem abdica dela é porque não está competindo, e tudo deixa de fazer sentido.

Como não faz sentido essa diferença brutal entre Mercedes e o resto. O campeonato acabou, como disse depois da última corrida, e vai se arrastar melancolicamente até a última das exageradas 21 etapas com corridas possivelmente ruins — espero estar errado, mas nada indica que serão boas. É hora de repensar muita coisa. Fiz uma “live” agora (é assim que chama?) no YouTube falando sobre o tema. As regras têm de ser mais claras, os motores precisam ser mais baratos e simples, o limite de unidades tem de ser ampliado para evitar essas punições que distorcem as corridas, o abismo financeiro tem de ser reduzido, a importância dos pneus precisa ser revista, a F-1 precisa entender que seu vínculo com a indústria automobilística e com a realidade do automóvel no mundo acabou, ela precisa ser um esporte, e apenas um esporte, e parar com essa história de que é laboratório disso ou daquilo, que representa a vanguarda tecnológica dos automóveis ou qualquer bobagem desse tipo que fazia sentido 20 anos atrás. Se quiser ser vanguarda tecnológica do mundo automotivo, a F-1 terá de excluir os pilotos e conceber carros elétricos e autônomos que possam ser chamados por aplicativos do celular. É nisso que a indústria investe atualmente, e é esse o futuro do automóvel. Que não tem de ser o futuro das corridas. Simples.

Bottas fez a pole, parabéns para ele. Hamilton errou na sua última volta, ficou em segundo. O finlandês parece gostar dessa pista e se dá bem nela. Foi onde ganhou sua primeira corrida, no ano passado. Hoje fez a sexta pole da carreira, segunda do ano. Pode ser até que vença a prova, porque a Mercedes não vai se desgastar por bobagem com ordens de equipe. Se Lewis chegar em segundo, não muda muita coisa na classificação, aumenta a vantagem um pouco menos do que poderia em relação a Vettel. E ele pode ganhar, também, pelo simples fato de que é melhor que o companheiro de equipe.

A tendência é de uma corrida ruim, mas às vezes acontecem alguns imprevistos e o prognóstico derrete, esperança de todos. Mas nem a pista sugere que isso vá acontecer. Sóchi é um circuito bem sem graça, sem carisma, sem desafios, sem nada. Nem as fotos lá ficam bonitas.