Blog do Flavio Gomes
F-1

PANELA VELHA É QUE FAZ… (2)

RIO (olá) – Sou fã de Vettel. Acho que ele não errou nada, antes que comecem a me cobrar uma espinafrada implacável. Mas é que Hamilton está virado para a lua. Só isso explica um toque daqueles e apenas um carro rodar. Além, claro, de estar guiando pacas. Alguém concorda que é a melhor temporada […]

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RIO (olá) – Sou fã de Vettel. Acho que ele não errou nada, antes que comecem a me cobrar uma espinafrada implacável. Mas é que Hamilton está virado para a lua. Só isso explica um toque daqueles e apenas um carro rodar.

Além, claro, de estar guiando pacas. Alguém concorda que é a melhor temporada dele em termos de pilotagem?

Foi uma pilotagem de gala que deu a Lewis a vitória em Monza, ontem. Ele ganhou com um carro um tiquinho pior. Os treinos mostraram isso. A Ferrari tinha uma ligeira vantagem, daquelas que dependendo de como é administrada acaba no degrau mais alto do pódio. Só que Sebastian acabou espanando, a começar pelo sábado por não fazer a pole. Raikkonen complicou as coisas. Pobre Kimi. Mesmo quando vai bem, atrapalha.

Atrapalha, mas não está nem aí, e não deve, mesmo. Fez sua largada, fez sua corrida, defendeu-se com lisura como sempre, não estendeu o tapete para Vettel, nem tinha de fazer isso. Se não conseguiu vencer, é porque seus pneus acabaram no fim. De qualquer forma, chegou com dignidade ao 100º pódio da carreira. Quanto a Seb…

Vettel pode ser acusado de ter tomado uma decisão errada ao proteger o lado de dentro da primeira perna da segunda chicane de Monza, e ali tomou o passão de Hamilton. Mas como acusar um piloto de ter feito uma monumental besteira numa situação tão… extrema? Largada, todo mundo junto, um no rabo do outro, numa pista rápida pacas, o sujeito tendo de olhar para a frente, para os espelhos e para os lados, sabendo que tudo pode acontecer, como exigir 100% de sangue frio nessa hora?

Em Spa, Vettel foi para cima e levou.

Em Monza, quem fez isso foi Hamilton.

É a vida.

E a rodada de Tião italiano aumentou ainda a mais a carga dramática do GP da Itália que acabou sendo disputado sob pequena expectativa de chuva, num domingo nublado de 22°C — a TV falou em chuva o tempo todo, pelo menos, mas não vi nenhum pingo, ao contrário; em determinado momento, saiu mesmo foi o sol.

O toque que fez Vettel ficar ao contrário na pista, esperando todo mundo passar, acionou o safety-car até a volta 4, quando na relargada Hamilton não perdoou e foi para o cangote de Raikkonen, assumindo a ponta. Kimi, do alto de seus 38 carnavais, devolveu na chicane seguinte. E a torcida ferrarista, que o adora, passou a sonhar com uma vitória que ele não vê desde 2013, quando ainda estava na simpática e linda Lotus preta.

À outra Ferrari, lá no fundo do pelotão, restava remar, remar e remar. Como parou para trocar o bico, Vettel já espetou pneus macios pensando em, talvez, ir até o fim da prova. Começou a recuperação rápido, entrando na zona de pontos na 15ª volta. Na frente, Hamilton só especulava. Raikkonen mantinha a ponta olimpicamente, sem se preocupar muito com eventuais ataques que Lewis acabou nem fazendo — iria deixar para o final.

Uma sequência de blefes de pit stops começou na volta 21, com a turma da Mercedes tirando os pneus da garagem. Kimi parou nessa volta, mas duvido que iludido pelo cirquinho mambembe. Foi quando tinha de ir. Hamilton ficou na pista e o finlandês voltou em quarto, 22s5 atrás. Precisaria acelerar para retomar a ponta na parada do inglês.

E isso só aconteceu na volta 28, quando a diferença já era bem menor. Talvez a Mercedes tenha esperado um pouco para ver se chovia. Talvez apenas acreditasse que seria melhor fazer um último stint mais curto para pegar os pneus de Raikkonen em petição de miséria. O fato é que quando voltou, Hamilton estava bem atrás da vermelhona #7. Mas com um detalhe. À frente do tagarela ferrarista estava seu bom companheiro Valtteri Bottas, ainda sem pit stop, na liderança. Bom companheiro de Lewis, para ficar bem claro.

Sapattos tem sido, realmente, um sujeito bacana, um cara batuta, “um grande filho da…”, concluiria Vettel — que, para registrar, na volta 30 parou pela segunda vez depois de alcançar a quinta colocação, o máximo que daria para ele tendo caído para último na primeira volta. Até a volta 37, o finlandês camarada da Mercedes, deu uma seguradinha básica e sutil em Raikkonen, permitindo que Hamilton se aproximasse. Quando foi para os boxes, deixou o colega apenas 0s6 atrás de Kimi. “Agora se vira, negão”, teria dito se houvesse tal intimidade com o parceiro. E o negão se virou. Passou na volta 45, depois de estudar com paciência o melhor momento e observar, de camarote, os pneus de Raikkonen se degradarem. Quando fez a ultrapassagem, na primeira chicane, foi embora. Kimi não tinha mais o que fazer.

Bottas voltou em quarto, e com pneus novos chegou rápido em Verstappinho, com quem tocou rodas levando a direção de prova a punir o menino holandês com cinco segundos. Ficou com o terceiro troféu do dia. Os 5s que Max levou no lombo alçaram Vettel à quarta posição e deixaram-no em quinto, resmungando e praguejando contra o mundo. Grojã tinha sido o sexto, mas foi desclassificado por irregularidade em seu carro. Ocon herdou a posição, seguido por Pérez, Sainz Jr., Stroll e Sirotkin. Duas Williams nos pontos, uma façanha memorável na atual conjuntura. E o russinho fez seu primeiro ponto na categoria, para alegria de Putin & companhia.

Foi a 68ª vitória de Hamilton na F-1, sexta no ano, quinta no templo de Monza. Abriu 30 pontos sobre Vettel, 256 a 226. Um resultado merecidíssimo. Muita gente acha que foi uma das suas maiores vitórias, por ter acontecido na casa da Ferrari num dia em que os dois carros vermelhos largavam na primeira fila.

Não sei se foi. Mas dá para dizer que o cara se alimentou das vaias que recebeu das arquibancadas, sim. Teve aquela parada em Silverstone de o Vettel dar uma zoada por ter vencido “na casa deles”, não teve? Pois o troco veio na mesmíssima moeda.