Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

RIO (como sempre pensei) – Acho que quase tudo que tinha para dizer sobre o episódio de Sóchi já escrevi ontem no textão pós-GP da Rússia. Faltou, talvez, acrescentar uma sensação que tenho a respeito de Bottas. A semelhança do caso com a infame ordem da Ferrari na Áustria em 2002 fará dele um piloto com […]

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Bottas e sua cara de bunda: carimbado para o resto da vida, como Barrichello

RIO (como sempre pensei) – Acho que quase tudo que tinha para dizer sobre o episódio de Sóchi já escrevi ontem no textão pós-GP da Rússia. Faltou, talvez, acrescentar uma sensação que tenho a respeito de Bottas. A semelhança do caso com a infame ordem da Ferrari na Áustria em 2002 fará dele um piloto com perfil muito parecido com o de Barrichello até o fim da carreira. Segundo eterno. Que poderá virar primeiro em algum momento, mas jamais numa equipe de ponta, com chances de ser campeão. O que só faz aumentar minha admiração por Rosberguinho, que ousou lutar. E venceu.

Aliás, Toto Wolff referiu-se a 2002 para tentar se explicar. Disse que teve de levar em conta o prejuízo à marca que representa, mas que, ao fim e ao cabo, não queria correr o risco de perder o título e se sentir um idiota no final do ano. Preferiu optar por ser o “malvado do dia”. Nosso cartunista oficial Maurício Falleiros não perdoou. Trocou “malvado” por “babaca”, termo que usei à exaustão ontem.

Insisto que ordens de equipe não são novidade, não começaram ontem, nem serão banidas da face da Terra porque muita gente criticou o dirigente e a Mercedes. Tanto é assim que a FIA, há alguns anos, desistiu de proibi-las. Compreendo que a F-1 é um esporte coletivo, que os interesses do time têm de ser levados em consideração, mas há ordens e ordens. As pessoas percebem quando são desnecessárias, quando os responsáveis por elas querem ser mais realistas que o rei, como se diz.

No fim, são um sintoma de insegurança e medo. E o que mais falta no mundo hoje é ousadia e destemor diante de algumas situações. No ano passado, a Mercedes foi justa com Bottas na Hungria. E ganhou o campeonato. Para mim, tudo se resume a confiar no taco. Alguém que diga com todas as letras: “Não precisamos disso”.

Mas talvez seja pedir demais nos dias de hoje.

Quase todo mundo falou sobre o assunto ontem, e foi difícil pinçar alguma frase realmente de impacto entre tantas que acabaram convergindo para o óbvio: é triste, mas temos de pensar na equipe etc. Até Vettel se mostrou compreensivo e foi na linha de que foi uma decisão sobre a qual nem cabe discussão. Bottas também contemporizou: “Sei que sou o vencedor deste fim de semana, não fiquei com o troféu de primeiro lugar, mas isso não importa”. Então tá. Fiquemos com uma do outro personagem da chanchada, sem juízos de valor.

A FRASE DA RÚSSIA

Hamilton: orgulho zero

“É o dia mais estranho da minha carreira. Nunca pediria isso, é muito desconfortável, eu não sabia o que estava planejado para o fim. É a vitória de que menos me orgulho.”

Lewis Hamilton, que venceu pela 70ª vez na carreira, oitava no ano, abrindo 50 pontos de vantagem sobre Vettel na classificação. Bottas, por sua vez, subiu ao pódio pela 20ª vez pela Mercedes.

Mas é claro que o GP da Rússia teve mais do que a troca de posições que permitiu a Hamilton ganhar mais uma vez. Houve até algo parecido mais para trás, envolvendo os pilotos da Force India, que travaram frenéticas conversas pelo rádio para saber qual dos dois seria capaz de passar Magnussen, que se mantinha heroicamente à frente da dupla rosa.

Forceíndicos: ordens lá atrás

O espevitado Ocon não conseguia, e o nervosinho Pérez pediu autorização à torre para tentar. Nenhum deles logrou êxito, e depois de inverterem posições o mexicano teve de devolver o nono lugar ao francês.

Bernie: de cavanhaque e tudo

Teve também a corridaça de Verstappinho, sobre a qual falaremos lá embaixo na consagrada sub-seção “Gostamos & Não gostamos” — óbvio que gostamos. E teve até Bernie Ecclestone e seu estiloso cavanhaque assistindo ao final da prova ao lado de Putin.

Mas teve, sobretudo, mais uma exibição das mais convincentes do futuro piloto da Ferrari, o monegasco Charles Leclerc. Ele terminou a corrida em sétimo, comemorando o fato de ter sido o verdadeiro “primeiro dos outros” — já que chegou atrás apenas das duplas de Mercedes, Ferrari e Red Bull. “Uma vitória!”, descreveu. Só que foi mais do que um simples sétimo lugar. De onde vem…

O NÚMERO DE SÓCHI

…carros apenas terminaram o GP da Rússia na mesma volta. E Leclerc foi o único, além dos pilotos das três previsíveis duplas mencionadas acima, que recebeu a bandeirada sem ver bandeira azul em nenhum momento da corrida. Foi a sétima vez que o menino da Sauber terminou nos pontos, mas não foi seu melhor resultado na F-1. Ele foi sexto no GP do Azerbaijão.

Para encerrar, já que se faz tarde da noite, os destaques positivo e negativo da corrida de ontem na chatíssima pista soviética.

Max: atuação brilhante

GOSTAMOS Muito da atuação de Verstappinho >>>, especialmente nas oito primeiras voltas. Saiu de 19º  e escalou o pelotão até o quinto lugar, onde terminaria a prova — não sem antes liderá-la por 24 voltas, com pneus mais duros e bem desgastados. Não foi à toa que levou o título de “Piloto do dia” do amigo internauta.

Toto: o vilão do domingo

NÃO GOSTAMOSDe <<< Toto Wolff, nem das suas desculpas esfarrapadas. Mas achamos sensacional a imagem dele apertando o botão de “tática”. Suponho que o pessoal da TV já tinha escutado a comunicação pelo rádio, e por isso mandaram um câmera lá para flagrar o dirigente.