Blog do Flavio Gomes
F-1

N’ABU DHABI NÃO VAI NADA? (2)

RIO (e não tem jogo mesmo) – “Não é mais pra mim”, disse Alonso na véspera de seu último GP, que concluiu com a dignidade possível hoje em Abu Dhabi. Ele não falava de suas condições técnicas e físicas de correr — elas são as mesmas de dez ou cinco anos atrás, é um dos […]

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RIO (e não tem jogo mesmo) – “Não é mais pra mim”, disse Alonso na véspera de seu último GP, que concluiu com a dignidade possível hoje em Abu Dhabi. Ele não falava de suas condições técnicas e físicas de correr — elas são as mesmas de dez ou cinco anos atrás, é um dos melhores, coloquem-no numa Mercedes que ele ganha o campeonato com tanta facilidade quanto Hamilton.

O que não é mais pra ele é o calvário quinzenal, ou semanal, de pular de avião em avião e de hotel em hotel e de autódromo em autódromo para sentar num carro que não anda. Resultado de suas escolhas? Mais ou menos. Mas falaremos disso em outro post, dedicado exclusivamente ao espanhol. Por enquanto, falemos da última corrida de 2018.

Foi daquelas bem mais ou menos, embora melhor que a média de Abu Dhabi — um circuito bonitinho, mas ordinário, e salve Nelson Rodrigues. Hamilton ganhou de novo, pela 11ª vez no ano e 73ª na carreira. Com mais 18, empata com Schumacher como maior vencedor de todos os tempos. Terá, facilmente, mais duas temporadas parecidas com a deste ano para conseguir. Em 2019 e 2020, o regulamento da F-1 não muda e nada indica que alguém será capaz de bater a Mercedes. Espero estar errado, mas acho que não estou. E espero estar errado não porque não goste da Mercedes, ou de Hamilton — ao contrário, acho ambos, piloto e time, o máximo. Mas gosto de corridas melhores, de competição, emoção, disputa. É disso que o esporte é feito.

A Ferrari caiu no campeonato muito cedo, quando Vettel bateu na Alemanha e entrou em parafuso, enfileirando erros. A equipe também sentiu a morte de seu presidente, Sergio Marchionne, em julho. Já a Red Bull, a terceira grande da F-1 de hoje, não tem sido páreo para os prateados desde o início da era híbrida. Ganha uma corrida ou outra, mas não é uma real candidata na imensa maioria dos GPs — foram 12 vitórias a partir de 2014, contra 74 dos alemães e 14 da Ferrari, que pelo menos, nas últimas duas temporadas, equilibrou as coisas em algum momento do Mundial.

Tal domínio se repetiu hoje em Abu Dhabi. Hamilton largou na pole e manteve a liderança sem dificuldade na relargada, que aconteceu na volta 4 — Hülkenberg tocou em Grosjean na primeira, capotou, e o safety-car foi acionado; apesar do susto, o piloto da Renault saiu ileso. Sua vitória não esteve ameaçada em nenhum momento, nem mesmo tendo parado precocemente na sétima volta, quando Raikkonen quebrou e o pelotão entrou em modo de safety-car virtual. Trocou os pneus, voltou em quinto, e ficou esperando os demais pararem para retomar a ponta na 34ª volta, quando Ricciardo fez seu pit stop tardio.

Atrás dele, apenas Verstappen, entre a turma que conta, mostrava alguma vontade de brigar, depois de uma largada ruim por conta de um problema no motor — a unidade entrou em modo de segurança por superaquecimento, e o holandês caiu para nono. As disputas do jovem rubro-taurino com Ocon, de novo ele, foram divertidas no início da prova. Na 38ª volta, depois de recuperar o terreno perdido, fez sua última e bela ultrapassagem, sobre o apagadíssimo Bottas, para entrar na zona de pódio em terceiro, longe de Vettel para tentar um ataque.

No fim das contas, Alonso acabou sendo o personagem do dia, pela importância de sua despedida. Ainda que andando atrás, o asturiano lutou com as poucas armas que tinha para chegar em 11º. No finalzinho, seu engenheiro tentou animá-lo a partir para cima de Magnussen dizendo que “um ponto está na mira”. Pelo rádio, Fernando respondeu: “Eu tenho 1.800…”. O engenheiro não se fez de rogado e, britanicamente, devolveu: “Então vamos atrás de mais um”.

Não veio. Na verdade, ele encerrou a carreira com 1.899. Até que cairia bem esse pontinho, para fechar sua linda trajetória com um número redondo. Mas depois de receber a quadriculada, foi escoltado por Vettel e Hamilton na reta dos boxes, onde fez seus “zerinhos” do adeus diante do público, para depois receber um abraço carinhoso do pentacampeão mundial, de quem foi companheiro na McLaren em 2007. “Foi uma honra competir com uma lenda”, disse o inglês. “O esporte vai sentir falta dele, todos nós vamos.”

Alonso recebeu pelo rádio um agradecimento do chefe da equipe, Zak Brown, que prometeu a ele “ir atrás da Tríplice Coroa”. Pela McLaren, ele vai tentar a vitória nas 500 Milhas de Indianápolis no ano que vem, voltando ao oval americano onde esteve em 2017 pela primeira vez. Ao lado do GP de Mônaco — que o espanhol ganhou em 2006 e 2007 — e das 24 Horas de Le Mans — que venceu neste ano pela Toyota –, a Indy 500 faz parte do trio de corridas mais importantes do mundo. Apenas um piloto na história venceu as três, Graham Hill: Indianápolis em 1966, Le Mans em 1972 e Mônaco em 1963/64/65/68/69.

Hamilton fechou o campeonato com 408 pontos, primeiro a romper a barreira dos 400 nesta F-1 que dá 25 pontos ao vencedor. O recorde anterior era de Vettel, 397 em 2013. No pódio, que a TV Globo não mostrou, o inglês chegou até a tirar a camiseta para levar um banho de champanhe de Sebastian e Verstappinho. Ricciardo, Bottas, Sainz Jr., Leclerc, Pérez, Grosjean e Magnussen foram os demais que pontuaram na noite quente e nublada do emirado árabe.

Alonso, em sua última entrevista como piloto da categoria, agradeceu “a todos” e disse um especial “obrigado à F-1”, concluindo: “Sempre serei seu fã”. Os fãs também agradecem.