Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ANTEONTEM À TARDE

RIO (hoje sim) – Difícil não repetir a foto de ontem como imagem mais marcante deste GP do Canadá. Mas arrumei outra do mesmo ato simbólico e definitivo de Vettel. Nem todo mundo concorda que a punição foi injusta. Muitos legalistas defendem os 5s acrescidos ao tempo do alemão que acabaram dando a vitória a […]

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A troca das placas: protesto eloquente de Vettel

RIO (hoje sim) – Difícil não repetir a foto de ontem como imagem mais marcante deste GP do Canadá. Mas arrumei outra do mesmo ato simbólico e definitivo de Vettel.

Nem todo mundo concorda que a punição foi injusta. Muitos legalistas defendem os 5s acrescidos ao tempo do alemão que acabaram dando a vitória a Hamilton. O regulamento, porém, é pouco específico para o caso em questão. Sebastian foi citado no artigo 38.1 do compêndio esportivo, que fala apenas de “incidentes na pista”. O artigo que menciona volta à pista é o 27.3, a saber:

27.3  Drivers must make every reasonable effort to use the track at all times and may not  deliberately leave the track without a justifiable reason. Drivers will be judged to have left the track if no part of the car remains in contact with it and, for the avoidance of doubt, any white lines defining the track edges are considered to be part of the track but the kerbs are not. Should a car leave the track the driver may re‐join, however, this may only be done when it is safe to do so and without gaining any lasting advantage. At the absolute discretion of the race  director a driver may be given the opportunity to give back the whole of any advantage he gained by leaving the track.

Esse texto aí diz que se o cara sai dos limites da pista deve voltar de modo seguro e sem obter nenhuma vantagem. E confere à direção de prova a decisão de avaliar se o sujeito se deu bem com a manobra, deixando para o diretor de prova a decisão de informar ao infrator como ele deve devolver a vantagem obtida. Não foi o caso de Vettel, que não teve vantagem nenhuma. Não ganhou a posição de Hamilton — já estava à frente. Perdeu tempo, isso sim.

Mas voltou de modo seguro à pista? Aí entra a análise subjetiva descrita no artigo 38 (e nos seus vários parágrafos, que esmiúçam as penas e como pagá-las), no qual Vettel foi enquadrado. Ele dá a prerrogativa aos comissário esportivos e à direção de prova de decidir se houve alguma infração, estipulando a pena que acharem mais adequada:

38)  INCIDENTS DURING THE RACE
38.1
The race director may report any on‐track incident or suspected breach of these Sporting Regulations or the Code (an “Incident”) to the stewards. After review it shall be at the  discretion of the stewards to decide whether or not to proceed with an investigation. The stewards may also investigate an Incident noted by themselves.
38.2
a) It shall be at the discretion of the stewards to decide if any driver involved in an Incident  should be penalised. Unless it is clear to the stewards that a driver was wholly or
predominantly to blame for an Incident no penalty will be imposed.

Os comissários acharam que Vettel voltou à pista perigosamente e arbitraram os 5s. Pode-se concordar ou não. É uma interpretação das regras, não uma regra em si, que fale especificamente sobre qual é a pena para quem volta à pista de modo inseguro. Eles têm o direito de achar que Sebastian fez algo errado e puni-lo, claro. O regulamento permite isso, dá aos comissários a prerrogativa de considerar um piloto culpado por algo que considerem um “incidente” e de arbitrar uma pena. Sendo assim, nenhuma irregularidade foi cometida pela direção de prova. Mas como as regras não se referem a essa manobra específica e ao tamanho da punição que pode ser aplicada para esse caso, quem não concorda tem o direito de achar que erraram.

É meu caso, e o de muita gente. Não achei Vettel culpado de nada, e portanto não acho que ele tenha sido passível de punição. Mas há quem ache. Os comissários acharam. Rosberg achou. E olha que ele não é o maior fã de Hamilton no mundo. Paciência.

A FRASE DE MONTREAL

Vettel x Hamilton: alemão reclama

“Eu vou direto para a grama, tenho pneus sujos, dou um jeito de não rodar, mantenho o carro de alguma forma na pista, o que mais poderia fazer? Se você me mostrar um piloto que consegue ir para a grama com uma mão no volante, olhar no retrovisor e falar no rádio ao mesmo tempo, esse não sou eu. Se isso é necessário para estar aqui, preciso encontrar outra coisa para fazer.”

Sebastian Vettel, defendendo-se da acusação de ter prensado Hamilton no muro

Vettel pode não ter vencido a prova, mas pela 100ª vez na carreira liderou um GP, uma marca importante. À frente dele nesse item das estatísticas, apenas Michael Schumacher (que esteve em primeiro, em algum momento, em 142 corridas) e Hamilton (135).

Nem preciso dizer que nosso cartunista oficial, o Marcelo Masili, brilhou mais uma vez na sua leitura mordaz da corrida. Aproveitando o ensejo oferecido pela adoção da arbitragem eletrônica no futebol mundial, mandou essa aqui, ó:

Os verdadeiros heróis dessa vitória de Hamilton foram os mecânicos da Mercedes. Na manhã de domingo, foi notado um vazamento hidráulico no carro do inglês. “Tivemos de desmontar o carro inteiro, ele foi praticamente reconstruído. A gente não tinha certeza nem se ia correr. Se conseguisse largar, não sabíamos se daria para chegar ao fim”, dramatizou Toto Wolff. Daí, creio, a comemoração de Lewis assim que estacionou no Parque Fechado. Depois, na salinha com Vettel e Leclerc, foi mais discreto.

Lewis comemora: festa com os mecânicos e discrição na salinha

Muito bem. Alguns numerinhos interessantes desta corrida até chegar no escolhido para nossa cifra mais relevante do GP. Leclerc conseguiu seu segundo pódio. Não foi avisado da punição a Vettel, mas acho que aí a Ferrari fez bem. Melhor não arrumar mais confusão. A Renault fez pontos com seus dois pilotos pela primeira vez no ano — Ricciardo em sexto, Hülkenberg em sétimo. Hamilton pulou para 162 pontos e abriu 29 de Bottas e 62 de Vettel na classificação. O campeonato is over. O inglês venceu no Canadá pela sétima vez. Em 2007, 2010 e 2012, ganhou de McLaren. Em 2015, 2016, 2017 e 2019, de Mercedes. É nessa pista que tem seu melhor retrospecto.

O NÚMERO DO CANADÁ

…vezes na história o piloto que recebeu a bandeira quadriculada em primeiro não foi declarado vencedor de um GP. A última corrida que terminou assim, curiosamente, teve Hamilton como protagonista — em 2008, na Bélgica, Massa herdou a vitória porque o inglês foi punido com 25s por ter jogado Raikkonen para fora da pista. Piquet, duas vezes, e Senna estão nessa lista, que pode ser vista aqui.

E deu, né? Talvez devam ser citados alguns outros personagens dessa prova antes do “Gostamos & Não gostamos”. Vamos lá. Verstappinho, de nono no grid para quinto no final (era 11º, mas dois à sua frente foram punidos), fez uma boa corrida. Stroll, de 17º para nono, também — no fim, salvou uns pontinhos para a India Point mesmo correndo com o motor velho da Mercedes, já que o novo explodiu no terceiro treino livre. Gasly, que pela primeira vez no ano largou na frente de Max, chegou atrás. Não vem muito bem, o moço. Bottas fez o ponto extra da melhor volta com 1min13s078, batendo o recorde da pista em corrida — que era de 2004, de Barrichello: 1min13s622.

Passemos a régua, pois:

GOSTAMOS – De saber que 307 mil pessoas estiveram nas arquibancadas do circuito canadense nos quatro dias de evento (sim, lá as atividades começam na quinta-feira com passeio pelo parque e tal). Montreal é uma cidade que abraça a F-1 como poucas.

NÃO GOSTAMOS – De nada da Alfa Romeo no fim de semana. Como se não bastasse a lerdeza do carro, que precisa melhorar urgente, Raikkonen largou a parada dos pilotos antes da corrida no meio do caminho. Pulou do carro que o levava e foi embora. Kimi sabe ser deselegante quando quer.

Raikkonen some do desfile: feio, isso