RIO (relevância é tudo) – Difícil escolher como “imagem do GP” outra foto que não essa aí em cima, de Hamilton no pódio repetindo o gesto dos americanos Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 metros rasos nos Jogos Olímpicos de 1968 no México. Eles foram receber suas medalhas fazendo a saudação dos “Panteras Negras”, usando luvas pretas, para protestar contra a desigualdade racial em seu país.
Para quem não lembra, ou não sabe do que se trata, aqui está um bom link explicativo e, abaixo, a imagem que entrou para a história. E não deixem de ler este texto da Dorrit Harazim na “piauí” de novembro de 2006 sobre Peter Norman, o australiano que ficou com a medalha de prata. É sensacional. E um exemplo daquilo que só pode ser chamado pelo que é: solidariedade. Lídia Paralta Gomes, da “Tribuna Expresso”, de Portugal, também escreve sobre Norman aqui em texto bem mais recente.
É importante conhecer a História. Com H maiúsculo. Hamilton conhece. Outros, não. Ou a desprezam. Ontem, quatro pilotos nem foram à cerimônia do hino austríaco com a camiseta “end racism” usada domingo retrasado: Giovinazzi, Sainz Jr., Pérez e Magnussen. Verstappen, Kvyat, Leclerc e Raikkonen, como na primeira corrida, mantiveram-se de pé, ao contrário dos que se ajoelharam, mas pelo menos vestiram as camisetas.
Repito o que disse há uma semana: isso não faz de ninguém racista. Mas aderir ao gesto coletivo faria deles anti-racistas. E é disso que se trata. “Ain, lá vai você misturar política com esporte de novo”, vai resmungar a tropa minion. Misturo. Ô, se misturo.
Hoje pela manhã a caravana de caminhões das equipes pegou a estrada rumo a Budapeste, para a terceira etapa do campeonato. Ontem à noite, a Renault lavrou um protesto contra a Racing India Martin Force Point Aston acusando o time rosa de copiar a Mercedes de 2019. Não vai dar em nada. Colaboração técnica entre equipes que compartilham componentes, como é o caso do motor na parceria entre Mercedes e a ex-Jordan-Spyker-Midland, não é novidade. É o tipo de coisa difícil de controlar. Segue o jogo.
Difícil mesmo é a situação da Ferrari…
Não esperava uma Ferrari tão fraca. Esperava um motor um pouco diferente, mas não desse jeito.
A frase acima é de Toto Wolff, mais um a alfinetar a equipe italiana que no ano passado fez uma, hum…, leitura, hum…, muito particular do regulamento ao alterar os parâmetros do fluxo de combustível de seus motores. Eles passaram a render muito mais e, do nada, começaram a levar Leclerc e Vettel a poles e vitórias. O time foi pego no pulo, aparentemente por uma denúncia da Red Bull. O resultado é a lerdeza em retas que vimos nas duas primeiras corridas do ano. Mas, como se não bastasse, a dupla dinâmica ainda se enroscou na primeira volta, zerando a vida dos que se divertem com as patacoadas ferraristas. Como nosso cartunista oficial Marcelo Masili:
E teríamos algum número significativo para assinalar a passagem deste gostoso GP estírio?
Sempre tem, né?
Para finalizar, vamos aos altos e baixos da segunda etapa do Mundial porque domingo já tem mais e temos pressa!
GOSTAMOS – Muito de ver a engenheira química <<< Stephanie Travers, de 26 anos, recebendo o troféu da Mercedes pela vitória no GP da Estíria. Mulher, preta e africana, ela trabalha para a Petronas e é responsável pelos lubrificantes e combustíveis da equipe nos finais de semana de GP. Nascida no Zimbábue, Stephanie tem uma história linda que o Grande Prêmio conta aqui. Merece muito a leitura.
NÃO GOSTAMOS – Do desempenho de George Russell >>>, que tinha feito um trabalho excepcional no sábado, classificando a geringonça da Williams em 12º, mas errou bisonhamente no início da corrida e perdeu qualquer chance de lutar por pontos. Ele se desculpou com a equipe. Tem crédito. Mas precisa aproveitar as parcas chances que tem — e que, em geral, são proporcionadas por ele mesmo.