Blog do Flavio Gomes
F-1

N’ANIVERSÁRIO (2)

RIO (tentando viver) – Quem diria que em agosto de 2020 eu iria escrever “Hülkenberg foi o cara do dia em Silverstone no GP que celebra os 70 anos da Fórmula 1!”, com ponto de exclamação e tudo? Pois lá vai. Hülkenberg foi o cara do dia em Silverstone no GP que celebra os 70 […]

RIO (tentando viver) – Quem diria que em agosto de 2020 eu iria escrever “Hülkenberg foi o cara do dia em Silverstone no GP que celebra os 70 anos da Fórmula 1!”, com ponto de exclamação e tudo?

Pois lá vai.

Hülkenberg foi o cara do dia em Silverstone no GP que celebra os 70 anos da Fórmula 1!

Como pode? Como assim? Cadê todo mundo?

Tá todo mundo batendo palmas para o alemão. Merecidos aplausos. Nico foi chamado às pressas semana passada para substituir Sergio Pérez, que testou positivo para o novo coronavírus. Fazia nove meses que não sentava num carro de corrida. No fim da última temporada, foi avisado pela Renault que seu contrato não seria renovado.

Hulk chegou aos solavancos à Inglaterra, nem macacão tinha, gastou um tempinho no simulador, classificou o carro e, no domingo, o diabo do motor não funcionou.

Piloto com mais GPs disputados na história sem ter conseguido um pódio sequer — são 177 largadas e zero troféu –, Nico é considerado por muita gente um dos mais azarados de todos os tempos. Pombas, até Maldonado ganhou corrida!

Bem, é preciso ver se o copo está meio cheio ou meio vazio. Verdade, Hülkenberg não tem nenhum pódio, coitado. Tantas corridas, puza, que azar. Mas ser convocado de repente para cair num carrão dos melhores quando já se julgava aposentado não pode ser chamado de sorte, não?

Sortudo!

E competente. Se tudo der certo, o incrível Hulk levanta uma tacinha amanhã com o não menos incrível — e protestado, e contestado, e demonizado pela concorrência — carro da Martin Point, que simplesmente larga, com ele, em terceiro no GP dos 70 Anos da F-1.

É sua melhor posição no grid desde o igualmente incrível segundo lugar na Áustria com a Force India em 2016. Mas não a melhor, porque ele fez uma incrível pole com a Williams no Brasil em 2010. Por isso seu time postou a imagem abaixo no Twitter.

Ao menos nos últimos dez dias, tudo parece incrível na vida desse moço, de quem ninguém mais se lembrava. Só que agora, diante do que vem fazendo nos últimos dois finais de semana, ele se recoloca com força no mercado como candidato a alguma vaguinha que porventura possa sobrar em 2021. Haas, Alfa Romeo e talvez AlphaTauri são times que, no ano que vem, terão de mexer no seu elenco. Do jeito que estão, não dá. Giovinazzi é fraco e Raikkonen está apagando na Alfa. A dupla da Haas serve para seriado da Netflix, não muito mais que isso. E Kvyat, putz… Falo dele mais adiante.

E o resto neste sábado ensolarado e ameno de Silverstone?

Nada de muito especial. A Mercedes fez 1-2 de novo, desta vez com Bottas na frente. O finlandês marcou a 13ª pole de sua carreira e segunda no ano. As outras três da temporada foram de Hamilton, que ficou em segundo no grid. Tempo de Valtteri: 1min25s154. De Lewis: 0s063 pior. “Ele mereceu”, resumiu o inglês, líder do Mundial com 30 pontos de vantagem sobre o parceiro. Não estava muito satisfeito, não.

Sapattos renovou seu contrato esta semana e ficará mais um ano na Mercedes. Aí crava a pole dias depois. É muita felicidade, né? Nada como guiar um carro imbatível. Hulk, o terceiro, ficou 0s928 atrás de Bottas. Verstappinho, quarto no grid, foi 1s022 mais lento. A Mercedes, em média um segundo por volta mais rápida que suas adversárias mais próximas, tem a chance de ganhar todas as corridas deste ano — o campeonato, por enquanto, tem 13 etapas confirmadas. Que aproveite.

A prova de amanhã vai ser um pouco diferente da da semana passada porque todo mundo deve fazer duas paradas para troca de pneus, já que a Pirelli baixou um grau na moleza da borracha. O resultado é que os pneus macios, letrinhas vermelhas como na foto de Ricciardo aí em cima, degradam rapidamente e quem largar com eles vai dar meia dúzia de voltas, se tanto.

Por isso que no Q2 Verstappen fez questão de registrar seu tempo com pneus duros (que foram os médios na prova de domingo), para não correr o risco de ver sua borracha esfarelando no início. A dupla da Mercedes vai de médios — aliás, seus tempos no Q3 foram feitos com estes, também, porque os macios terminaram depois de dois terços de volta.

São estratégias diferentes, mas que ninguém se anime muito. A tendência é ver os dois mercêdicos disparando na frente, se largarem sem problemas, e Max brigando pelo terceiro lugar com Hülkenberg — se este conseguir um ritmo bom de corrida, algo que a Aston India ainda não conseguiu encontrar neste ano, ao contrário do que faz nas classificações.

E vamos falar dos demais, então. Começamos com o garoto acima, todo sorridente atrás da máscara. É Pierre Gasly, sétimo no grid com a AlphaTauri. E sétimo é para comemorar desse jeito? Sim, se você tiver ficado à frente de uma Ferrari, uma Red Bull e uma McLaren, por exemplo. Foi o que Gasly conseguiu.

Eu tinha dado o grid até Verstappen, em quarto. Ricciardo foi o quinto e Stroll, o sexto. O australiano foi também uma boa surpresa com a Renault, que vem andando bem desde ontem. O canadense, normal — embora tenha ficado meio contrariado por levar um cacete de Nico, que não sabe nem o nome do porteiro da fábrica.

E aí veio Gasly, 1s380 atrás da pole, mas com uma performance das mais impressionantes. Ainda mais quando se compara seu trabalho com o de Kvyat, que nem passou do Q1. O russo, desconfio, só fica na equipe se tiver mesmo sete vidas. Nada justifica sua manutenção diante de tanta instabilidade. E não dá para reclamar de falta de chances. Pierre, rebaixado no ano passado pela Red Bull para a equipe satélite, deixou Leclerc, Albon e Norris para trás no Q3. Não é de se desprezar, não.

Charlinho ficou 1s460 atrás de Bottas. Essa é a Ferrari neste momento. Uma força intermediária, incapaz de brigar com Mercedes, Red Bull e India Martin, e suando para andar junto de Renault, McLaren e AlphaTauri. Vejam Vettel hoje. Com pneus macios, não conseguiu passar do Q2. Ficou em 12º e só vai largar uma posição à frente porque Ocon, igualmente decepcionante com o outro carro da Renault, perdeu três posições por atrapalhar Russell na classificação. Esses três, mais Sainz Jr. e Grojã, foram os limados na segunda parte da classificação.

Por fim, os degradados do Q1: Kvyat, Magnussen, Latifi, Giovinazzi e Raikkonen. A Alfa Romeo conseguiu a proeza de fazer um carro pior que a Williams este ano. A Haas está ali na ruindade. São três times figurantes e melancólicos. Patinam, patinam e ficam no mesmo lugar. O que é uma pena — pelo nome da Williams, pelo charme da marca Alfa Romeo, pelas expectativas que a Haas criou quando chegou à categoria.

Vocês devem estar se perguntando onde está Gola Profonda, né? Bom, meu informante mandou mensagem dizendo que mais tarde tem coisas para contar. Aguardemos.