Blog do Flavio Gomes
F-1

N’ARDENNES (3)

RIO (sol com nuvens, 16° — lá, claro) – Wakanda forever again. Cinco vitórias em sete corridas neste ano, quarta em Spa, 89ª na carreira e contando. Lewis Hamilton não teve nenhuma dificuldade para vencer o GP da Bélgica, assim como a Mercedes não sofreu um minuto sequer para fazer a 50ª dobradinha desde sua […]

RIO (sol com nuvens, 16° — lá, claro) – Wakanda forever again. Cinco vitórias em sete corridas neste ano, quarta em Spa, 89ª na carreira e contando.

Lewis Hamilton não teve nenhuma dificuldade para vencer o GP da Bélgica, assim como a Mercedes não sofreu um minuto sequer para fazer a 50ª dobradinha desde sua volta à F-1, em 2010. Valtteri Bottas, apagadíssimo, foi o segundo colocado. E Max Verstappen, entediado, terminou a prova na terceira colocação.

Spa é assim. Quando dá para fazer corrida ruim, capricha. Já vimos provas espetaculares, dramáticas, malucas, com chuva, tempestade, acidentes múltiplos, um pouco de tudo. Mas também já vimos corridas sem graça, como a de hoje. Não fosse a recuperação de Gasly no final e a boa atuação da Renault, com Ricardão em quarto e L’Ocon em quinto, este GP da Bélgica teria servido bem como sonífero matinal.

Ah, e teve o vexame da Ferrari, também, sobre o qual, como já é tradição neste espaço, falaremos depois. Tem muita coisa para falar, inclusive. Gola Profonda está me mandando uma mensagem atrás da outra, mas nem abri, ainda.

Gasly: o melhor da corrida, segundo o amigo internauta

Então vamos começar com o melhor coadjuvante do dia. Em 12º no grid, Gasly foi um dos que largaram bem e se aproveitaram da ausência de Sainz Jr., sétimo no grid, que nem alinhou porque a McLaren encontrou um problema no escapamento de seu carro. Na quinta volta, já estava em oitavo, alegremente desfrutando da boa e surpreendente performance de seus pneus duros — escolha corajosa para início de corrida.

Até ali, pouca coisa havia acontecido nos mais de 7 km da pista belga. Hamilton deu uma vacilada na largada, que descreveu como “horrível”, mas Bottas vacilou mais ainda quando todos contornaram a Source e não conseguiu aproveitar a enorme reta até o topo da floresta com a Eau Rouge no meio para pegar um vácuo esperto e passar o parceiro. Defender a posição ali, na primeira volta, é duro. Mas o finlandês, como disse, perdeu o “momentum”. Oxe.

No mais, voltando à quinta volta, Verstappen se acomodava já em terceiro, Ricciardo e Ocon vinham na sequência e, depois deles, Albon e Stroll. Atrás do francês da AlphaTauri colocavam-se Pérez e Leclerc.

Charlinho já tinha sido ultrapassado pelos dois à sua frente e depois tomaria de Norris e Kvyat. A Ferrari, nas retas, parecia um trator arrastando um arado. Uma coisa melancólica. Então, na volta 11, um acidente feio — felizmente de poucas consequências. Giovinazzi bateu sozinho, arrebentou seu carro, e Russell, que vinha atrás, acertou um pneu voador e bateu também.

O safety-car foi acionado e todo mundo aproveitou para fazer a parada única que costuma ser a estratégia padrão para Spa. Todo mundo menos Gasly e Pérez, que apareceram em quarto e quinto quando a prova foi retomada, na volta 15. Dos que estavam na pista, todos tinham pneus duros, menos Albon e Pérez. O tailandês optou pelos médios. O mexicano seguia com os macios da largada.

Gasly e Pérez teriam de parar em algum momento e despencariam para o fim do pelotão, o que me fez anotar no meu bloquinho: “Burros”. De fato, quando parou, na volta 19, o piloto da Mercedes rosa voltou em 17º e último. Gasly foi se segurando como pôde, mas ao perceber que todo mundo passava por ele com a facilidade com que se corta manteiga com uma faca quente, parou na volta 27 e despencou para 15º. Burros, deveriam ter parado no safety-car.

Foi quando começou o show particular de Gasly, porém. Ele atropelou todo mundo que estava à frente com pneus piores, fez ultrapassagens difíceis e estilosas e recebeu a bandeirada num mais do que honroso oitavo lugar, o que lhe valeu, por parte do amigo internauta, o título de “piloto do dia”. Parabéns.

Ricciardo & Ocon: recorde de pontos para o time amarelo

A Renault também teve um domingo legal e, com 23 pontos somados, obteve seu melhor resultado na F-1 desde a adoção do atual sistema de pontuação, que premia os dez primeiros colocados. Até então, os 22 obtidos em Monza no ano passado estavam no topo de suas glórias discutíveis — também um quarto e quinto, com Ricciardo e Hülkenberg. Mas como o australiano do #3 fez a melhor volta da prova hoje, levou um pontinho extra para júbilo da montadora francesa.

(Gosto muito da Renault, que tem no Twingo seu melhor produto historicamente, embora eu ainda sonhe com um Renault 4L como esse aí embaixo, talvez meu último sonho automotivo. Mas tem de ser assim, bege. Se possível com placas francesas pretas. OK, as placas eu aceito das novas. Bom, se alguém achar algum à venda por aí, quem sabe na Bretanha, me avisa que vou correndo. Aproveito e fico por lá.)

Renault 4L: o segundo melhor carro da história francesa, depois do Twingo

Como vocês percebem, estou falando dessa corrida em capítulos, porque se tivesse de resumi-la em um parágrafo para os alfarrábios da humanidade seria algo assim: “Lewis Hamilton venceu o GP da Bélgica, sétima etapa do Mundial de F-1 de 2020, com enorme facilidade. Valtteri Bottas e Max Verstappen fecharam o pódio. Ricciardo, Ocon, Albon, Norris, Gasly, Stroll e Pérez foram os outros que terminaram a prova na zona de pontos. A corrida teve como destaque os bons desempenhos da Renault e do francês Pierre Gasly, da AlphaTauri. E mais uma decepção da Ferrari, que concluiu a prova com Vettel em 13º e Leclerc em 14º. Hamilton ampliou sua liderança no campeonato para 157 pontos, seguido por Verstappen, com 110, e Bottas, com 107.”

E estava bom.

O resultado do GP da Bélgica: Force Martin também decepcionou

Claro que Hamilton e a Mercedes merecem mais algumas linhas, já que este blog não é exatamente um alfarrábio da humanidade. A atuação do inglês foi impecável — em que pese o fato de que ele mesmo tenha achado sua largada ruim. O cara vive um momento encantado. De novo, em suas palavras: “Estou com 35 anos, quase 36, e me sinto melhor do que nunca”. Lewis disse que entende quando os fãs da F-1 reclamam da mesmice, que só a Mercedes ganha, mas chama a atenção para algo que não deve ser desprezado: o intenso trabalho da equipe. “Esses caras já devem estar na fábrica estudando o que fazer para ganhar a próxima”, falou. E ninguém deve duvidar disso.

Comandante Amilton contou que sua única preocupação dominical foram as vibrações no pneu dianteiro direito no final da corrida. “Fiquei com medo de acontecer algo parecido com Silverstone”, disse. Lá, o pneu estourou na última volta. Mas ele ganhou mesmo assim. O problema em Spa foi o frio. A borracha nunca atingiu a temperatura ideal e, assim, foi-se desgastando além da conta. Mas ao fim e ao cabo, ninguém passou aperto. Quem estava com dificuldades tirou um pouco o pé e terminou a corrida sem sustos.

Hamilton e a Mercedes: mais uma vitória, 50 dobradinhas desde 2010

Os próximos dois domingos serão interessantes. Duas corridas na Itália, a primeira em Monza e a segunda em Mugello — que estreia no calendário e, de quebra, ainda celebra a milésima participação da Ferrari em um GP.

Mil GPs. Que coisa linda, Ferrari!

Mas que momento, Ferrari…

Neste fim de semana, deu dó. Até no Toto Wolff, que ontem deu uma entrevista lamentando a lerdeza dos carros vermelhos. Gente do céu, todo mundo passava Vettel e Leclerc nas retas… E nas curvas também. Raikkonen passou Vettel! Uma Alfa Romeo passando uma Ferrari. Se isso acontece na rua, dá briga.

E está aí a foto que não me deixa mentir.

Kimi passando Vettel: como pode?

A Ferrari terminou a prova à frente apenas de dois carros da Haas e de um da Williams, o de Latifi — que nem conta, é muito ruim. “Não tem milagre”, resumiu Vettel. Imaginem o que será em Monza, onde quem não tem motor apanha que nem cachorro vira-lata. A sorte ferrarista é que as arquibancadas estarão vazias. Caso contrário, voariam tomates. Já em Mugello, estão querendo colocar exatas 2.880 almas nos camarotes e em algumas tribunas. Afinal, é dia de festa. Mas fazer festa nessa situação? Sei não, sei não…

A coisa foi tão feia hoje que Leclerc chegou a fazer um segundo pit stop que demorou tanto que parecia quando a gente vai no posto e o frentista pergunta se quer ver a água, o óleo ou lavar o para-brisa. E foi quase isso. Um mecânico chegou a injetar ar comprimido com uma mangueira para equalizar algum sistema que devia estar petro de entrar em pane. Charlito perguntou pelo rádio o que tinha acontecido. “Explicamos depois”, ouviu de seu engenheiro. Não sei se já explicaram.

Ar comprimido no carro de Leclerc: que diabos está acontecendo?

Foi a segunda vez no ano que a Ferrari saiu zerada de um GP, o que mantém o time na quinta colocação entre os construtores. Mas a queda na classificação é iminente. São 61 pontos, contra 59 da Renault — que deve voltar a andar bem em Monza. A McLaren é a terceira com 68 e a Force Point aparece em quarto com 66. Lá na frente estão Mercedes (264) e Red Bull (158).

Claro que nessa hora Gola Profonda ganha relevância como informante, por isso abri o WhatsApp para ler o que ele tanto queria me contar com o frenético envio de mensagens logo depois da bandeirada.

“Tá quebrando o pau aqui!!!!!”, escreveu na primeira, cheio de pontos de exclamação. Como eu não respondia, ocupado que estava, Gola seguiu com seu relato. “Charles pediu para mandarem Vettel embora. Disse que bateu nele e que isso não se faz. Aí o Binotto falou que não podia porque a equipe esqueceu de depositar o FGTS e Seb podia processar todo mundo. Aí o Charlito falou que no mínimo ele tinha de ser suspenso, e então Vettel chegou, ouviu aquela conversa e disse que se fosse suspenso contaria para a mãe do Charlito que ele foi dormir tarde ontem porque ficou jogando videogame. Aí Charlito perguntou como ele sabia disso, e Vettel falou que viu pela janela da sua Kombi Safari que a luz do motorhome do Leclerc ficou acesa até três e meia da manhã. Aí o Charlito perguntou o que ele, Vettel, estava fazendo acordado até aquela hora, e o Vettel respondeu que estava trabalhando num projeto para a equipe, pegou o computador e mostrou a sugestão pra usar até o fim do ano, então um projetista nosso que não sei o nome quis ver o que era, e quando viu falou que a ideia era muito boa, e parece que vai ser assim em Monza, e aí as coisas acalmaram porque até o Charlito gostou.”

Pedi para ver o projeto. Gola mandou.

Vettel sugeriu, e parece que a equipe gostou da ideia