Blog do Flavio Gomes
F-1

N’ITÁLIA (2)

SÃO PAULO (amanhã é o dia) – No party. No problem. Assim a Mercedes tirou onda em sua conta no Twitter para festejar a sexta pole-position de Lewis Hamilton em oito corridas desta temporada. As outras duas foram de Valtteri Bottas. A partir de Monza, a FIA proibiu uma regulagem de motor que a equipe […]

SÃO PAULO (amanhã é o dia) – No party. No problem.

Assim a Mercedes tirou onda em sua conta no Twitter para festejar a sexta pole-position de Lewis Hamilton em oito corridas desta temporada. As outras duas foram de Valtteri Bottas. A partir de Monza, a FIA proibiu uma regulagem de motor que a equipe usava em classificações chamado “Party Mode”, ou “Modo Festa” — um apelido simpático para algo que os alemães faziam para aumentar a potência na hora que importa, o Q3.

Não precisou, como se viu. Hamilton fez a pole com 1min18s887, na média de 264,362 km/h. Foi, simplesmente, a maior média de velocidade numa única volta registrada na história da F-1. E nem teve procurar vácuo.

Como se imaginava, a sessão de classificação para o GP da Itália foi uma — aí sim — festa de tentativas de pegar o vácuo dos carros da frente, algo que faz muita diferença na pista italiana. Para a Mercedes, não.

Se é verdade que em quase todas as saídas para voltas rápidas o boi de piranha foi Bottas, é igualmente verdade que Hamilton deixou o finlandês abrir uma boa distância, praticamente neutralizando uma vantagem de vácuo da qual pudesse se beneficiar. O cara está, realmente, numa liga diferente.

E foi engraçado, ao final da classificação. Lewis fez a 94ª pole de sua carreira (sétima em Monza), mas o telão já veio com a informação da 90ª vitória, que ele provavelmente vai conseguir amanhã. O erro foi corrigido rapidamente, mas claro que deu para fotografar da TV…

No telão, o ato falho: vitória, só amanhã

Hamilton à parte, o nome do sábado em Monza foi Carlos Sainz Jr., terceiro no grid. O pole dos outros. Esgoelando o motor Renault da McLaren, o espanhol ficou a 0s808 do tempo de Lewis, mas o resultado foi comemorado como se fosse uma vitória nos boxes do time laranja. E no motorhome bonitão da equipe, também. Notei que aqueles pequenos escritórios brancos em forma de contêiner usados desde o GP da Áustria foram deixados de lado. Está todo mundo com seus lindos e faraônicos edifícios atrás dos boxes. Não reparei se na Bélgica também foi assim. Mas nem é tão importante.

Outro que se saiu bem hoje foi Pérez, em quarto com a Aston India. Posição igualmente festejada pela equipe rosa, que conseguiu se colocar à frente da decepção do dia, a Red Bull de Max Verstappen, apenas o quinto. “Está tudo errado no carro”, resumiu o holandês. “Tentei todos os ângulos possíveis de asa, mas não conseguimos velocidade na reta nem aderência nas curvas. Tudo errado, tudo errado”, resmungou.

Sainz em terceiro: o pole dos outros

Mas espera aí, meu filho… Você não vai dizer que a Ferrari foi a grande decepção do dia? Afinal, Vettel ficou no Q1 (larga em 17º!) e Leclerc conseguiu apenas o 13º no grid! Como assim, você está louco, esqueceu a Ferrari? A Ferrari é a grande decepção do dia!

Não. A Ferrari foi o que dela se esperava numa pista velocíssima que exige motor, algo que o time não tem desde que foi pego no pulo no ano passado. Mas falaremos dela depois. Tem informações ótimas de meu informante Gola Profonda, claro. Lá para o fim do texto.

Fez muito calor em Monza, com a temperatura chegando a 30°C no fim da sessão que definiu o grid para o GP da Itália. Vivemos as últimas semanas de verão na Europa, sempre é bom lembrar. O Q1 foi o mais bagunçado de todos, como se imaginava, com todos tentando tirar uma casquinha do vácuo alheio. Faltando três minutos para o fim da primeira parte da classificação, todos saíram juntos dos boxes para buscar algum pelinho a mais no cronômetro — as exceções foram Pérez, Sainz e Verstappen, que acharam que seus tempos já eram bons o bastante. Uma zona desgraçada. E adorável. Eu gosto dessas coisas.

Kimi x Ocon: corrida no Q1, finlandês irado e francês investigado

O treino, então, virou corrida, com neguinho na frente trancando neguinho atrás, como na imagem acima de Raikkonen tentando passar por cima de Ocon. “Esse idiota está me bloqueando!”, gritou pelo rádio Kimi, que mesmo assim conseguiu passar ao Q2 em 14º. Ficaram na degola, pela ordem, Grojã, Vettel, Giovinazzi, Jorginho Russo e Lentifi. O tempo de Tião foi 1s637 pior que o de Hamilton, que liderou a folha de tempos no Q1. Como se vê, três motores Ferrari de três equipes diferentes sendo ceifados pela realidade cruel do cronômetro.

Vettel mal falou nas entrevistas do chiqueirinho, onde ficam os jornalistas aboletados para ouvir pilotos mal-sucedidos — os primeiros que passam por ali, portanto os primeiros eliminados. Suas palavras pareciam grunhidos de homens das cavernas.

Assim, primeiro vexame vermelho do dia: desde 1966 que não se via uma Ferrari fora dos 15 primeiros do grid em Monza. O autor da duvidosa façanha, 54 anos atrás, foi Giancarlo Baghetti, 16º colocado. Naquele dia, porém, nada de crise. A equipe tinha três carros inscritos para a corrida, e os dois primeiros no grid eram seus, com Mike Parkes e Ludovico Scarfiotti. E eles conseguiram uma dobradinha tranquila, com Scarfiotti em primeiro e Parkes em segundo. Tudo no jeito. Bem diferente de hoje.

Vettel a pé: mais rápido que no carro, talvez

No Q2, Bottas saiu novamente na frente de Hamilton, dando a impressão de que ele puxaria o companheiro até o fim dos tempos, já que as prioridades internas são bem claras — e não poderia ser muito diferente, mesmo. Todo mundo saiu com pneus macios, indicando que a estratégia alternativa de usar médios no começo da prova foi descartada porque a borracha soft está aguentando bem o tranco. Uma parada amanhã, registre-se.

A segunda saída foi o caos esperado, desta vez com os pilotos da Renault puxando a fila. Nem todo mundo conseguiu pegar vácuo e Bottas fechou essa parte da classificação com um temporal: 1min18s952. Ficaram pelo caminho Kvyat, Ocon, Leclerc (a 1s321 de Bottas), Raikkonen e Magnussen.

Engarrafamento no Q2: à procura do vácuo perdido

No Q3, a disputa pela pole seria exclusiva dos pilotos da Mercedes, mas Hamilton não deu nenhuma chance a Bottas. Na primeira saída, 1min19s068 para Lewis, 1min19s121 para Valtteri. Na segunda, com tempo de sobra para o final da sessão — ano passado um monte de gente deixou para fazer tempo na última hora e muitos nem conseguiram abrir volta –, Bottas melhorou para 1min18s956, mas Hamilton bateu o tempo do finlandês por 0s069. Ambos de cara para o vento, porque de novo Bottas saiu primeiro, mas Lewis deixou um espação entre os dois carros, talvez para não ser acusado de ser beneficiado pelo companheiro.

No party. No problem.

Sainz, Pérez, Verstappen (a 0s908 da pole), Norris, Ricciardo, Stroll, Albon e Gasly fecharam o grupo dos dez primeiros. Já batemos palmas para Sainz e Pérez e vaiamos Verstappen, então para os demais reservemos a indiferença, porque foi tudo mais ou menos normal. Dá para prever uma boa disputa amanhã entre os carros equipados com motores Renault, que vêm andando muito bem em Monza, e esperar alguma reação da Red Bull para tentar a vaga que vai sobrar no pódio. Os dois primeiros lugares, salvo algo muito fora do normal, serão da Mercedes.

E a Ferrari?

Duas Ferrari fora dos dez primeiros no grid: desde 1984

Desde 1984 que a Ferrari não tinha um desempenho tão pífio em posições de grid em Monza, sem nenhum carro pelo menos entre os dez primeiros. Naquele ano, Michele Alboreto se classificou em 11º (3s226 atrás do pole-position Nelson Piquet, da Brabham) e René Arnoux foi o 14º (a 4s111 do brasileiro). A tragédia só não foi completa porque no fim das contas Alboreto terminou em segundo, algo impensável amanhã para a dupla Leclerc-Vettel.

O que, claro, me fez procurar Gola Profonda imediatamente. Rapaz, que vexame!!!!, foi o que escrevi a ele agora pelo Instagram, naquela área de mensagens diretas — ele pediu, disse que seu WhatsApp andou apresentando o que chamou de “inconsistências de segurança”, seja lá o que for.

Pelo Instagram as respostas demoram mais. Mas quando ele falou, o fez pelos cotovelos e usando detestáveis hashtags. “Estamos em Party Mode aqui no motorhome, muito Labrusco, queijos da região, azeitonas, pizza aperitivo, promessa de uma noite longa u-huuuuuu! #gratidão #PartyModeEmMaranello #EuBeboPorqueÉLíquidoSeFosseSólidoComeria”, escreveu. Não entendi nada, claro. Estão comemorando o quê?, perguntei. “É que Charlito foi o melhor dos seis! #AceleramosJuntos #PisaFundoEmMonza #AlfaBoaÉSpyder #ChoraMaisHaasQueTáPouco”, respondeu. Melhor dos seis? Vocês estão fazendo festa porque Leclerc foi o melhor carro com motor Ferrari no grid, é isso? “Nossa, como você é inteligente. Chegou a essa conclusão sozinho ou teve ajuda externa? Acha pouco? #KimiJáEra #ChupaGiovinazzi #MagnussenComeBrita #GrosjeanNãoTomaBanho”, retrucou Gola, mal-educado que só ele.

Leclerc em P13: melhor Ferrari

Então perguntei de Vettel. Se você puder parar dois minutinhos de beber e comer, dá para dizer o que Seb (sempre uso a forma falsamente íntima) pretende fazer para mudar esse cenário amanhã? Porque se o Leclerc pode festejar, acho que ele não, né? A resposta demorou um pouco. “Cara, você não me deixa nem aproveitar o bom momento… Que saco. Seb já conversou com os engenheiros e resolveram tirar quase toda a asa amanhã. Ele mandou a foto de como quer o carro no nosso grupo. Vai lá no WhatsApp que te mandei. Ciao. Tenho mais o que fazer. #AsaÉProsFracos #CarretoSóAmanhã #FiasaÉVida #TrocoMeuMareaPorUmPatinete”, encerrou.

Chegou a foto.

Carro de Vettel amanhã: nada de asa