SÃO PAULO (debaixo d’água) – É claro que a volta da F-1 a Imola será repleta de momentos emocionantes e lembranças por conta de 1994. O único piloto do grid que já disputou um GP de F-1 na pista onde Senna e Ratzenberger morreram foi Raikkonen, que já estava na categoria em 2006, ano do último GP no histórico autódromo Enzo & Dino Ferrari. Hamilton estava na GP2 naquela temporada, ainda.
Assim, hoje foi dia de romaria ao memorial erguido para Senna logo depois de sua morte — onde foi instalada uma estátua de bronze com ar muito triste, no lado interno da Tamburello. É local visitado o ano inteiro por fãs do brasileiro e da F-1 como um todo. Já estive lá algumas vezes. Muitas, na verdade, porque cobri todos os GPs de San Marino até 2005. Aquele local sempre rende uma matéria, uma foto, alguma coisa.
Imola não é marcante na carreira de Senna só pela óbvia razão de ter sido o circuito onde morreu há mais de 26 anos. Foi lá, também, que ele não conseguiu se classificar para o grid de um GP pela primeira vez, em 1984 — uma treta da Toleman envolvendo fornecedor de pneus, a troca de Pirelli por Michelin, acabou zoando todo seu fim de semana. Depois, faria sete poles seguidas na pista, de 1985 a 1991 (as três primeiras de Lotus, as outras com a McLaren), ganharia três corridas (1988, sua primeira vitória pela McLaren, 1989 e 1991) e, numa delas, explodiria de vez sua briga com Alain Prost. Foi em 1989, quando o brasileiro desrespeitou um acordo interno que proibia disputa de posição entre os dois na primeira volta do GP. Na segunda largada — a prova fora interrompida pelo acidente de Gerhard Berger na Tamburello –, Ayrton não quis nem saber e foi para cima do francês.
E com toda essa rica história que envolve as corridas em Imola — tem muito mais, como Prost rodando na volta de apresentação, público torcendo contra piloto italiano para ver a Ferrari vencer, boicote de equipes, batida de Piquet… –, digo a vocês que ficou lindo o cartaz que a Racing India divulgou para promover a prova deste fim de semana. Reparem no pódio. Quem vocês veem? Legal, legal demais.
E quem conhece Imola bate o olho na ilustração e, na hora, lembra dessas mesinhas e desses banquinhos atrás das arquibancadas. Um dos lugares mais gostosos do mundo para se sentar, comer uma fatia de pizza e tomar uma Nastro Azzurro no intervalo entre um treino e outro, olhando o movimento e sentindo a F-1 de verdade. Cansei de almoçar aí, no meio do povo, mesmo podendo comer nos motorhomes das equipes — que na Itália capricham. Pelo menos uma vez a cada GP escapava do paddock, atravessava o túnel e caía no meio da galera.
Saudades de lá, adoro o lugar.
Homenagens à parte, a semana também tem sido pródiga em anúncios para o futuro próximo do Mundial. Resumindo:
- A AlphaTauri anunciou a renovação com Pierre Gasly, mas ainda não com Kvyat. Que deve sair. Yuki Tsunoda, da F-2, deverá ser seu substituto. O japonês tem 20 anos e vínculos com a Red Bull. E é bom piloto.
- Alfa Romeo e Sauber ampliaram a parceria até o fim de 2021 e a equipe suíça segue usando o nome da marca italiana.
- Pouco depois, o time confirmou a permanência de Raikkonen e Giovinazzi para o ano que vem. “É minha família”, disse Kimi cheio de ternura, lembrando que a equipe está repleta de gente que já estava lá quando ele chegou, em 2001.
- O anúncio, até surpreendente, tira de Mick Schumacher a chance de estrear na próxima temporada pela Alfa Romeo. Mas não nos esqueçamos da Haas, que também usa motores Ferrari — o filho de Michael vem da academia ferrarista. A Haas já avisou que vai trocar os dois pilotos. Por isso, uma dupla com Mick Schumacher e o russo endinheirado Nikita Mazepin, ambos oriundos da F-2, passa a ser a possibilidade mais concreta no time americano.
- A Williams também anunciou a permanência de George Russell e Nicholas Latifi para 2021. Azar do inglês, que merece coisa melhor. Mas não há vagas disponíveis. Nicholas é lento, mas traz grana para a equipe. Tem lugar garantido enquanto o pai pagar.
- E Pérez? Só sobrou, na prática, um cockpit na Red Bull. Aliás, o próprio Pérez já falou: hoje, é a única opção que considera. Se a equipe optar por mudar sua política e colocar alguém mais experiente num de seus carros, em vez de um novato formado nas suas escolinhas, Albon roda e o mexicano assume. Intuição? Acho que é o que vai acontecer.
Todas as homenagens a Senna são justas e merecidas — Gasly, por exemplo, vai correr com uma pintura de capacete que lembra o do brasileiro. O mesmo vale, claro, para Ratzenberger. O austríaco não ganhou estátua nenhuma em Imola e o memorial informal no local de sua morte, a curva Villeneuve, é menos concorrido pelos visitantes do Parco delle Acque Minerali, onde fica o autódromo. Não vi ainda nenhuma foto dos pilotos naquele ponto do circuito, mas não quero ser injusto. Acho, até, que a maioria deve ter ido lá.
Na pista, será um fim de semana também diferente por reduzir as atividades a dois dias. Amanhã de manhã haverá um treino livre de 90 minutos e, depois, a classificação. A corrida, domingo, começa às 9h10 no horário de Brasília. Como já comentei outro dia, é um ensaio da Liberty para chegar a um calendário de 25 etapas em algum momento. Para isso, será preciso que algumas dessas provas tenham apenas dois dias de atividade. Não creio que teremos um Mundial com todas os eventos resumidos a sábado e domingo. Mas vai saber…
E essas portas dos boxes com janelinhas que lembram escotilhas? Tem coisa mais com a cara de Imola que isso? Espero que a corrida seja sensacional para, um dia, o circuito voltar a receber a F-1 para sempre, porque ainda sonho em ver um GP ali sentado na Colina da Paixão no meio dos torcedores mais divertidos do mundo, que são os italianos.
Ah, e quem está em Imola é outro veterano, que também já disputou vários GPs de San Marino e venceu um deles, em 2005 — o deste ano, reforcemos, se chama GP da Emilia-Romagna. Trata-se de Fernando Alonso, que foi confirmado pela Renault para fazer dois dias de testes no Bahrein, com o carro de 2018. Com a volta de Alonso e a permanência de Raikkonen, teremos nada menos do que 14 títulos mundiais na pista em 2021: os sete de Hamilton (estou contando o deste ano), os quatro de Vettel, os dois de Fernandinho e um de Kimi.
Não é pouco, não.