Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE DOMINGO DE MANHÃ

RIO (quase lá) – Bem, esta é a foto do fim de semana em Nürburgring. Por todo o simbolismo que carrega. Hamilton e Schumacher, Schumacher e Hamilton. Feitos do mesmo material. Atletas dedicados, talentosos, perfeccionistas. Um é igual ao outro, o outro é igual ao um. Tenho conhecido ambos desde o comecinho, vejo até semelhanças […]

RIO (quase lá) – Bem, esta é a foto do fim de semana em Nürburgring. Por todo o simbolismo que carrega. Hamilton e Schumacher, Schumacher e Hamilton. Feitos do mesmo material. Atletas dedicados, talentosos, perfeccionistas. Um é igual ao outro, o outro é igual ao um. Tenho conhecido ambos desde o comecinho, vejo até semelhanças no processo de amadurecimento. Michael e Lewis eram dois jovens impetuosos e até algo arrogantes no começo de carreira. Depois dos 30, se tornaram mais tolerantes, adultos, respeitados e respeitadores.

As 91 vitórias de cada representam, juntas, 17,68% dos primeiros lugares obtidos em 1.029 GPs nos 70 anos de história da categoria. Os 14 títulos — sim, já considero Hamilton hepta –, 19,7% dos campeonatos disputados. Mas o que fizeram nas pistas até hoje vai além dos números. São milhares de quilômetros, voltas e horas dentro de um carro de corrida atrás de um único objetivo: vencer. Dois gigantes do esporte. É bom ter visto um e estar vendo o outro. Para quem gosta de automobilismo, um grande privilégio.

E que bom que essa marca do inglês se deu na Alemanha. E que bom que foi num GP que teve um cara como Ricciardo no pódio, quase dez anos depois do último da Renault e dois anos e meio depois da última taça erguida pelo australiano. E que bom que nosso cartunista oficial Marcelo Masili viu o mesmo que nós…

Os três “DVDs” escolhidos pelo Masili para resumir o GP de Eifel incluem Nico Hülkenberg como um dos improváveis protagonistas desta temporada maluca de 2020. O alemão pontuou novamente em sua terceira aparição num fim de semana de GP, novamente chamado na correria pela Aston Racing para substituir um piloto fora de combate. Primeiro, ocupou o lugar de Sergio Pérez nas duas corridas da Inglaterra — o mexicano estava com Covid-19. Depois, assumiu o cockpit de Lance Stroll, que passou mal no sábado, antes dos primeiros treinos em Nürburgring. É dele, pois…

O NÚMERO DE EIFEL

…pontos tem o piloto alemão no Mundial, em três GPs — na verdade dois, porque no primeiro de Silverstone ele nem largou. É mais do que já somaram Alfa Romeo, Haas e Williams nesta temporada (apenas oito). Dispensado pela Renault no ano passado, o incrível Hulk vem dando mostras de que tem lugar na F-1. É nome a ser considerado pelos times que ainda não fecharam suas duplas para 2021.

Hulk: chegou em cima da hora, largou em último e terminou em oitavo

Poderíamos ter escolhido as 323 largadas de Raikkonen como número do dia, mas a corrida de Kimi foi tão ruim que ele está de castigo. No começo da prova, quase mandou Russell no Nordschleife e ainda viu seu modesto companheiro Giovinazzi pontuar — ele saiu zerado, em 12º. “Um fim de semana de merda”, resumiu, quando perguntaram sobre o recorde de GPs disputados que estabeleceu. Foi mesmo. Esperava-se, inclusive, que a Alfa Romeo anunciasse sua permanência no ano que vem, e talvez até mesmo a contratação de Mick Schumacher para o outro carro.

Não aconteceu nem uma coisa nem outra. De qualquer forma, já que falamos de porcentagens lá no alto, mais uma para nosso rescaldão: Raikkonen participou de 31,38% de todas as corridas da história da F-1. É coisa pacas.

A FRASE DE NÜRBURGRING

Vettel: Schumi ainda é o maior

Michael sempre vai ser meu herói. Tinha uma coisa nele que ainda não vi em outros pilotos. Provavelmente é o fato de que o admirava quando era criança… Não tinha como admirar Lewis na infância porque estava correndo contra ele. É uma situação diferente.

É isso. Também poderia ter escolhido alguma frase de Hamilton sobre o recorde, mas achei a maioria delas protocolares. OK, destacarei algumas abaixo, tranquilizem-se. Mas é que achei… fofo o que Sebastian disse. Não tem jeito. Nossos heróis da infância serão sempre os maiores, ainda que apareçam outros com superpoderes mais fabulosos. O que uma criança constrói é indestrutível.

Lewis, na verdade, não fez tantas menções assim a Schumacher. Fez os elogios de praxe, foi educado e reverente — “é uma honra, nunca imaginei que alcançaria esses números” –, mas acabou falando mais de sua carreira, de como chegou onde chegou. Lembrou da primeira vitória, em 2007 no Canadá, como a mais importante de todas. “Porque foi quando deixei meu pai [Anthony] orgulhoso”, contou. “Meu pai e minha madrasta [Linda] se sacrificaram muito para que eu chegasse à F-1. E quando você sobe ao alto do pódio pela primeira vez, tem a sensação de finalmente ter chegado ao topo da montanha. Eu o deixei orgulhoso, e por isso vou me lembrar sempre desse momento.”

Hamilton também falou sobre a saída da McLaren, no fim de 2012, que para ele foi o momento “mais difícil” que teve de enfrentar na carreira. “Era uma equipe que estava comigo desde meus 13 anos de idade, me apoiou e acreditou em mim. Dizer ao Ron [Dennis] que estava saindo foi muito duro. Mas, ao mesmo tempo, tenho muito orgulho de estar com a Mercedes desde o início. Sou muito, muito grato a todos.”

Vettel x Raikkonen: dois veteranos em dia ruim na Alemanha

O GP de Eifel acabou sendo, por vias tortas, um teste para algo que a Liberty estuda para o futuro da categoria, a saber: eventos com apenas dois dias de atividades de pista. Como o tempo não permitiu que ninguém ligasse o motor na sexta, por causa da neblina, tudo aconteceu no sábado. O GP da Emília-Romanha (eu ia escrever Emilia Romagna sem acento e sem hífen, com a grafia italiana, mas Victor Martins iria me deserdar), em Imola, será assim.

Menos treinos, mais dificuldades para todos. Fica mais complicado acertar o carro, escolher os pneus, simular ritmo de corrida e de classificação, e tudo é mais ligeiro e imprevisível. As três horas de treinos livres na sexta-feira praticamente desenham o fim de semana e permitem às equipes corrigir qualquer coisa. Com tudo no sábado, isso é mais difícil. E mais barato, também.

Pergunto: gostaram? Eu fico no meio-termo. Acho que, num calendário de 21 corridas, umas cinco ou seus podem ser assim, um pouco mais enxutas. Seria legal até para dar uma folga a todos que trabalham feito loucos para colocar um GP de pé — estou falando especificamente dos mecânicos, que sofrem barbaridade. E, assim, teríamos um campeonato com uma certa alternância de formatos. Já que vivemos tempos de mudanças, alguns finais de semana poderiam até ter duas corridas, uma mais longa e uma mais curta, com pontuação variável. Se é para inventar, que se mexa em um monte de coisa de uma vez.

E agora, para terminar…

GOSTAMOS

Ricciardo: pódio redentor

…muito, do terceiro lugar de Daniel Ricciardo >>> e da volta da Renault ao pódio. Já disse domingo, repito agora: foi o primeiro desde o GP da Malásia de 2011, um terceirão de Nick Heidfeld em Sepang. Falando em Renault, Alonso andou com o carro da equipe hoje em Barcelona. Se disse “enferrujado”. WD40 nele.

NÃO GOSTAMOS

Kimi: frio nas mãos e na corrida

…de ver <<< Kimi Raikkonen tão apagado justo no dia em que bateu o recorde de largadas em GPs. O finlandês ainda tem alguma lenha para queimar, será importante se Mick Schumacher vier a ser contratado, mas de vez em quando seu jeitão “não tô nem aí” incomoda um pouco. OK, ele sempre foi assim, mas gostamos de Kimi brigando. Ou, pelo menos, falando umas coisas engraçadas pelo rádio.