RIO (11 taças) – Foi duro escolher a melhor imagem do GP da Turquia, com tanta história para contar dessa corrida. Acabei ficando com Vettel cumprimentando Hamilton assim que o inglês estacionou o carro no Parque Fechado. A reverência do alemão foi muito bonita. Esses caras ganharam 11 dos 13 campeonatos disputados desde 2008 — sete para Lewis, quatro para Sebastian; Button, em 2009, e Rosberg, em 2016, foram os intrusos.
Vettel voltou ao pódio depois de mais um ano. O último fora no GP do México do ano passado, um belo segundo lugar atrás do mesmo Hamilton. Não sei bem o que aconteceu no painel eletrônico atrás dele, mas creio que erraram as bandeiras. Trocaram a da Alemanha pela do México, que deveria estar do outro lado, sobre Pérez. Acontece. Selecionei algumas imagens do pódio para a posteridade. Vai saber quando Vettel e Hamilton subirão juntos novamente, né? Ano que vem o alemão estará na Aston Martin, atual Racing India. E descolar um troféu correndo numa equipe menor é duro…
Vettel — estou falando bastante dele porque foi um dos destaques da prova, como não? — disse que chegou a cogitar colocar slicks no final da corrida. E que se tivesse feito isso, daria até para ganhar. Mas será que dava mesmo? A julgar pelo estado dos pneus de Hamilton quando a prova terminou, arrisco dizer que sim. Vejam:
Esses pneus aí em cima já não drenavam mais nada. Aliás, legal saber que os atuais “biscoito” drenam nada menos do que 85 litros de água por segundo a 300 km/h quando a pista está bem molhada. Apareceu na TV. Os intermediários jogam 30 litros de água por segundo para trás, o que explica a rodada besta de Verstappen atrás de Pérez na 17ª volta da corrida. Ele mergulhou, numa conta fácil, numa enxurrada de 120 litros — um pouco menos, talvez, porque a velocidade era menor. Foi mal, Verstappen.
O NÚMERO DE ISTAMBUL
Hamilton e Schumacher, Schumacher e Hamilton. Feitos do mesmo material. Sempre procuro lembrar aos desavisados: Lewis assumiu o cockpit da Mercedes em 2013 justamente no lugar de Michael, que largou a aposentadoria em 2010 para ajudar na montagem da equipe alemã por três anos. Quando estreou, em 2007, Hamilton não teve de enfrentar Schumacher, que decidira encerrar a carreira na temporada anterior. Abaixo, os dois fazendo o mesmo gesto. Os dois maiores de todos os tempos.
Foi uma vitória espetacular de Hamilton, sem dúvida. Mas ficou a pergunta: como é que Stroll, líder até a volta 37, conseguiu perder essa corrida depois de um início tão bom?
A Martin Point explicou a queda de rendimento do canadense depois da segunda parada. Segundo o time rosa, a asa dianteira do carro de Lance foi danificada, fazendo com que seus pneus se deteriorassem dramaticamente. A parte final da prova, para ele, foi desastrosa. E os mecânicos não esconderam sua decepção.
Pelo menos Pérez compensou a tristeza com um belo segundo lugar. E veio graças a um erro de Leclerc que, pelo rádio, assim que recebeu a bandeirada, mostrou todo seu inconformismo quando recebeu os parabéns de seu engenheiro pelo “bom trabalho”. “Fiz um trabalho de merda!”, gritou pelo menos meia-dúzia de vezes. Foi engraçado, até. Só parou de berrar quando o engenheiro disse a ele “basta, Charles, basta”. Depois, no fim, se disse feliz por Vettel. Mas, de fato, perdeu um pódio fácil. Depois de passar por Pérez, escorregou na última curva e perdeu duas posições, caindo de segundo para quarto nos metros finais do GP turco.
Mas não foi um trabalho de merda, longe disso. Não precisava se autoflagelar desse jeito. A Ferrari somou 27 pontos e fez sua melhor apresentação no ano, mesmo tendo largado lá atrás. Antes, tinha como pontuação mais alta os 19 da primeira corrida da temporada, na Áustria. Calma, Charlinho!
Muito desse resultado se deve à largada excepcional de Vettel, saindo de 11º para terceiro antes mesmo de terminar a primeira volta. Ela pode ser vista aqui. Vista, revista e vista de novo, como aquela de Raikkonen em Portugal. Foi mesmo sensacional.
Igualmente sensacional a definição de Cléber Machado para Hamilton. Quando em determinado momento da transmissão algum piloto perguntou pelo rádio se devia parar para trocar pneus, ficar na pista ou comprar uma bicicleta, o narrador da Globo mandou, não sei se exatamente com essas palavras (o que vale é o sentido):
A FRASE DA TURQUIA
“Essa é a diferença de Hamilton para os outros. Enquanto uns perguntam o que têm de fazer, ele diz para a equipe o que vai fazer”.
Lewis, no caso, avisou que não ia trocar pneus. Foi uma de suas maiores vitórias. E foi, também, o dia em que ele lançou sua mais nova cruzada: pelos direitos humanos. Nosso cartunista oficial Marcelo Masili, claro, percebeu na hora.
Fatura decidida, três corridas faltando, a briga no campeonato segue legal pelo terceiro lugar entre as equipes (Aston Racing 154, McLaren 149, Renault 136, Ferrari 130) e pelo quarto lugar entre os pilotos (Pérez 100, Leclerc 97, Ricciardo 96). É a tal posição conhecida como “primeira dos outros”. No Mundial de Construtores, Mercedes (504) e Red Bull (240) já fecharam a conta como campeã e vice. No Mundial de Pilotos, Hamilton (307), Bottas (197) e Verstappen (170) também disputaram um campeonato à parte.
E antes do “Gostamos & Não gostamos”, mais algumas imagens de Hamilton em Istambul para fechar o pacote de grandes fotos dessa corrida:
Agora sim, hora do epílogo deste rescaldão.
GOSTAMOS
…do quinto lugar de <<< Carlos Sainz Jr., que sofreu uma punição no sábado, largou em 15º e foi buscar seus pontos com uma prova cheia de ultrapassagens e excelente controle do carro em condições muito difíceis.
NÃO GOSTAMOS
…da atuação horrorosa de Valtteri Bottas >>>, que rodou seis vezes, tomou uma volta de Hamilton e disse pelo rádio, quando lhe informaram que faltavam quatro voltas para o final: “Eu queria que não fossem tantas assim”.