Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

SALVADOR (até breve) – Sempre abro o rescaldão dos GPs com a foto mais marcante do domingo. Ou do fim de semana, quando é o caso. Bem, selecionar apenas uma do Bahrein foi difícil. Fiquei com essa, que mostra a dinâmica do salvamento de Grosjean. À esquerda, vemos o fiscal de pista direcionando o jato […]

SALVADOR (até breve) – Sempre abro o rescaldão dos GPs com a foto mais marcante do domingo. Ou do fim de semana, quando é o caso. Bem, selecionar apenas uma do Bahrein foi difícil. Fiquei com essa, que mostra a dinâmica do salvamento de Grosjean.

À esquerda, vemos o fiscal de pista direcionando o jato do extintor de incêndio exatamente para o local que Ian Roberts, de costas, vestindo macacão preto e capacete, indicava. Roberts é delegado-médico da FIA e foi o primeiro a chegar ao local do acidente, já que é um dos ocupantes do Medical Car — que sai atrás do pelotão na largada. Ao se aproximar das chamas, viu Grosjean saindo do cockpit. Estamos vendo também, na imagem acima. É impressionante.

Quando percebeu o piloto consciente e tentando escapar do inferno, Ian intuiu que seria necessário abrir um “caminho” para Romain no meio do fogo. Foi o que orientou ao moço do extintor. Depois, esticou a mão para ajudar a retirar o francês dali. Foram menos de 30 segundos da explosão até o resgate. Grosjean sobreviveu. Como disse ontem, graças ao Halo, ao Nomex de suas roupas, ao médico, ao cara do extintor, à resistência do cockpit, ao próprio preparo físico. Perdeu uma sapatilha, queimou um pé. Teve de segurar firme no Halo em brasa para sair do cockpit, acabou queimando as mãos. Mas sobreviveu.

E assim nosso cartunista Marcelo Masili registrou a nova vida de Romain.

A FRASE DE SAKHIR

Antonio Giovinazzi, da Alfa Romeo

“Foi um milagre da tecnologia.”

 

E eis o fruto desse milagre coletivo ai embaixo, já num hospital militar de Manama, a capital do país. Grosjean recebeu, entre outras, a visita de Jean Todt na noite de domingo. O presidente da FIA já estivera no centro médico do autódromo logo depois do acidente, e graças a ele Romain pôde falar com sua mulher, Marion Jolles. Todt ligou para ela e passou o telefone ao piloto, ainda na maca. Foi o suficiente para a jornalista, com quem Grosjean tem três filhos, se acalmar um pouco.

Visita de Jean Todt no hospital: o presidente da FIA telefonou para a mulher de Grosjean

Consequência direta da impossibilidade de Grosjean correr domingo no GP de Sakhir, pelo anel externo do circuito barenita, foi a confirmação, hoje mesmo, de Pietro Fittipaldi em seu lugar. O brasileiro — nascido em Miami — é piloto reserva da Haas, e sendo assim a escolha era mesmo óbvia.

Pietro Fittipaldi: estreia domingo pela Haas

Aos 24 anos, Pietro já tem alguma intimidade com a equipe, fez vários testes, convive com todos nos finais de semana de corrida. Será o quarto Fittipaldi na F-1, o que segundo os alfarrábios é um recorde. Nunca na história um sobrenome tinha se repetido tantas vezes na categoria. A dinastia começou com Emerson, em 1970, passou por seu irmão Wilson, virou nome de equipe nas décadas de 70 e 80, esbarrou no sobrinho Christian nos anos 90 e, agora, chega ao neto do bicampeão mundial (1972 e 1974).

Pietro ostenta uma carreira incomum, que começou nos EUA nas divisões regionais de base da Nascar, passou pela antiga World Series, resvalou no Japão, fez uma parada na Alemanha (no DTM, com a Audi) e bateu na Haas no ano passado.

Será o primeiro neto de um ex-piloto a guiar na categoria, rompendo um jejum de quase três temporadas completas de brasileiros na F-1. Depois do GP de Abu Dhabi de 2017, que marcou a despedida de Felipe Massa, nenhum outro piloto do país apareceu no grid.

O NÚMERO DO BAHREIN

…pilotos brasileiros terão participado de ao menos uma corrida de F-1 quando Pietro Fittipaldi alinhar no GP de Sakhir, domingo que vem. Rubens Barrichello, com 322 largadas, foi quem mais correu. Luiz Pereira Bueno é o único que aparece na lista com apenas uma prova disputada

“Oval” do Bahrein: voltas em menos de 1min

O jovem Fittipaldi, claro, não fará milagre. O carro da Haas é ruim, anda lá atrás e, para piorar, a prova acontecerá num traçado desconhecido de todos, com voltas que podem ser completadas em menos de um minuto.

Mas se eu tivesse de lhe dar um conselho, diria apenas para aproveitar a oportunidade, curtir cada segundo, fazer o melhor que puder. Até porque não sabe quando — ou se — terá outra.

E tivemos uma corrida, né? Que foi até legal. Mas no fim ninguém estava muito radiante no pódio, não. Vejam as fotos abaixo. Hamilton foi discreto na comemoração. Verstappen estava meio puto porque achou que a Red Bull foi muito conservadora na escolha dos pneus. Albon sabia que o pódio tinha sido quase casual, porque Pérez quebrou no fim, e continua sob pressão na equipe.

Bem, cada um com seus problemas.

Se teve um time que saiu contrariado dessa prova foi a Force Point (já posso voltar a brincar com o nome da equipe, não me tirem esse prazer!). Primeiro, foi Stroll que capotou. Uma imagem que assustou, principalmente porque aconteceu logo depois da segunda largada, ainda sob a tensão do acidente de Grosjean. O canadense deu roda com roda em Kvyat, felizmente num ponto de baixa velocidade. O russo foi punido.

E no fim, Pérez, firme e forte em terceiro, viu seu motor ir aos ares a três voltas da quadriculada, perdendo um pódio que estava assegurado — e ele bem que merecia, pois fez duas grandes largadas e um corridão.

Restou ao chefe rosa dizer “oh céus, oh dia!”, e nada mais.

Bom, entre mortos e feridos todos sobreviveram e no fim, como disse o mesmo Pérez domingo, isso é o que importa. Numa corrida dessas, o resultado tem pouca relevância. De qualquer maneira, temos nosso tribunal do dia seguinte para encerrar o rescaldão barenita. A ele.

GOSTAMOS

McLaren: pontos importantes

…de ver a <<< McLaren competitiva com Norris em quarto e Sainz em quinto. O espanhol foi o autor das melhores ultrapassagens da prova, saindo de 15º no grid para quinto no final. E poderia ter sido ainda melhor, se o time não se embananasse em uma de suas paradas. Mas o resultado foi importantíssimo. Foram 22 pontos contra zero da India Martin e oito da Renault, se firmando em terceiro no Mundial de Construtores.

NÃO GOSTAMOS

Max: papo autoritário e babaca

…da conversinha de Max Verstappen >>> na entrevista coletiva. Ele disse que se fosse chefe de equipe e seu piloto se recusasse a largar depois de um acidente como o de Grosjean, “daria um pé na bunda dele”. Hamilton, ao seu lado, se espantou: “Como?”. Max insistiu e Lewis falou: “Espero que você nunca seja meu chefe”. Verstappen tentou corrigir: “E eu espero nunca ser chefe de equipe, de qualquer forma”. Então Hamilton, contrariado, encerrou, indignado: “Lamento muito por quem tiver de ser seu piloto no futuro”.