Blog do Flavio Gomes
F-1

N’OVAL (1)

RIO (epílogo) – O que aconteceu hoje no “oval” do Bahrein era tudo que Valtteri Bottas temia. Um moleque mal saído das fraldas sentou no carro do companheiro de equipe, o multicampeão Lewis Hamilton, afastado com Covid-19, e meteu tempo nele. Foi o mais rápido nos dois treinos livres para a penúltima etapa do Mundial. […]

RIO (epílogo) – O que aconteceu hoje no “oval” do Bahrein era tudo que Valtteri Bottas temia. Um moleque mal saído das fraldas sentou no carro do companheiro de equipe, o multicampeão Lewis Hamilton, afastado com Covid-19, e meteu tempo nele. Foi o mais rápido nos dois treinos livres para a penúltima etapa do Mundial. Para piorar, no segundo o finlandês ficou em 11º.

Isso é o que vai ficar para a História, com H maiúsculo. Na papeleta de tempos — que não é mais de papel, nem sei se vocês sabem do que estou falando — está lá, na primeira posição: George Russell, 54s713. De manhã, no primeiro treino livre, foi ainda mais rápido: 54s 546. Oficialmente, a volta mais rápida da F-1 em todos os tempos, num dia em que todos os pilotos andaram abaixo de um minuto pela primeira vez desde 1974. Naquele ano, em Dijon-Prenois, Niki Lauda, de Ferrari, completou uma volta em 58s79. Na F-1 atual, a volta mais curta até as de hoje, completadas no traçado externo de Sakhir, foi a de Bottas na Áustria neste ano: 1min02s939. O circuito escolhido para o GP de Sakhir (nome do deserto onde fica a pista) tem 3.543 m de extensão e a corrida será disputada em 87 voltas.

O que a História não destacará é que Bottas teve sua melhor volta no segundo treino livre anulada por ultrapassar os limites da pista, e ela foi registrada em 54s506. Russell foi o primeiro a não se animar muito com a P1 na folha de classificação, admitindo que Valtteri fora mais rápido e que ele ainda tem muito trabalhar a fazer na sua estreia pela Mercedes. Quanto ao primeiro treino livre, talvez a História, sempre cruel com os perdedores, não se preocupe muito em registrar também que Bottas passou forte numa zebra na curva 8, arrebentou o assoalho de seu carro e, como ele mesmo disse, o resto da sessão foi um “desperdício de tempo”.

De qualquer forma, como se vê abaixo, nosso querido Sapattos estava um pouco ansioso demais, hoje, cometendo alguns errinhos que na situação em que está, ameaçado por um fedelho sorridente e sem pressão nenhuma, é melhor evitar.

Seja como for, Russell mostrou que é rápido, e que pode muito bem lutar pela pole e ganhar a prova domingo com o carro do heptacampeão mundial. Não seria uma supresa gigantesca. Hamilton, registre-se, está de cama “e não se sente muito bem”, segundo a Mercedes. Nada garante ainda que poderá estar no cockpit preto no dia 13, para o encerramento da temporada em Abu Dhabi.

Se isso acontecer — Russell na pole e no degrau mais alto do pódio –, será um vexame para Bottas. Ficar atrás no primeiro dia de treinos ainda não é. Acontecem, alguns imprevistos. Devagar com o andor, antes de atirar Valtteri na vala dos rejeitados. Melhor esperar o sábado e o domingo para esculhambar o rapaz definitivamente, ou para eleger Russell à categoria de fenômenos imberbes.

Russell: primeiro dia com melhor tempo

Da mesma forma, que ninguém se precipite, por causa de dois treinos livres, e saia dizendo “tá vendo? É o carro!” para desmerecer o que Hamilton vem fazendo nos últimos anos. É óbvio que é o carro. Mas não só isso. É o carro, o piloto, o trabalho do piloto junto ao seu engenheiro, a leitura de corrida do piloto, sua capacidade de concentração, de improvisar, de largar bem, de ultrapassar… Por favor, evitem simplificar as coisas. O que menos precisamos nestes dias são conclusões burras e binárias sobre tudo. Russell é bom, o carro é espetacular, Hamilton é sensacional, Bottas não é uma besta, e não é um dia de treinos num circuito esquisito que mudará nenhuma dessas realidades.

Mas que para Jorginho o dia foi bom, foi…

Pietro: bom trabalho no primeiro dia de GP pela Haas

No mais, vimos a estreia de Pietro Fittipaldi fazendo o que dá para fazer com a Haas. Ficou em 18º, a 1s397 de Russell. Magnussen, seu companheiro, foi o 14º, 1s025 atrás do inglês da Mercedes. Absolutamente normal. “Foi fantástico. Fazia um ano que não guiava um F-1 e oito meses que não dirigia nada numa pista”, disse o brasileiro, neto de Emerson. A equipe me ajudou muito, fomos melhorando passo a passo, estou muito feliz.” É isso aí. Não cometeu erros, cumpriu o que lhe foi pedido, e assim se começa. O mesmo vale para Jack Aitken, que ficou em 19º. O último foi Leclerc, que teve um problema no semieixo e não fez tempo. Mas a Ferrari foi mal. Vettel terminou o dia apenas em 16º.

Como a pista é curtinha, entre o primeiro e o 13º a diferença foi de 0s820. A classificação amanhã será tumultuada, especialmente no Q1, com todos na pista, tráfego, vácuo, uma zona. Sei que tem muita gente torcendo para o Russell — é muito legal quando essas fábulas são escritas na F-1. Mas, sendo bem realista, o favorito à pole é Bottas. E à vitória, também. Melhor esperar até domingo à tarde para avaliar se o segundão de Hamilton foi um vexame, ou não.