Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE DOMINGO DE MANHÃ

SÃO PAULO (aqui pode tudo) – Pode parecer estranho escolher como imagem de uma corrida tão boa um carro saindo do atoleiro de ré. Mas vocês têm algo melhor? Na boa, Hamilton tem feito coisas de tirar o chapéu nos últimos tempos. Essa aí em Ímola foi mais uma. E poucos segundos antes ele tentou […]

Marcha-à-ré de Hamilton: a imagem da corrida

SÃO PAULO (aqui pode tudo) – Pode parecer estranho escolher como imagem de uma corrida tão boa um carro saindo do atoleiro de ré. Mas vocês têm algo melhor? Na boa, Hamilton tem feito coisas de tirar o chapéu nos últimos tempos. Essa aí em Ímola foi mais uma. E poucos segundos antes ele tentou um cavalo de pau (tem hífen?) com o carro grudado na barreira de pneus, cena digna de, sei lá, Yuji Ide. Quebrou o bico, uma cagada federal. Mas aí engatou a ré, voltou à pista, teve bandeira vermelha, voltou à corrida, terminou em segundo.

Olha, vou te contar…

ÍMOLA BY MASILI

Enquanto tudo de estranho acontecia lá atrás, na ponta Verstappen seguia incólume, tendo tomado apenas um sustinho atrás do safety-car — que se resulta numa rodada, nossa…

Foi a leitura de nosso cartunista oficial Marcelo Masili, que continua ilustrando nossos rescaldões nesta temporada com o talento de sempre.

Verstappen, 11 vitórias: o que menos sofreu no GP da Emilia-Romagna

Max fez um corridão e, mais uma vez, mostrou que, na chuva, é um dos melhores que temos. Na história. Porque o que ele já fez em piso molhado (lembro daquela de Interlagos que foi absolutamente sensacional) permite que o coloquemos entre os maiores de todos desde sempre. E quem não concorda, que discorde, uai!

Seguindo, com coisinhas que não percebi domingo…

Uma delas, a decisão do diretor de prova de não fazer uma largada com todos parados no grid, como acontecera em Mugello no ano passado. Chutei que era uma prerrogativa do cara — Michael Masi. Não estava tão errado assim. Era, mesmo. Mas faltou dar o motivo. Que fui ler no blog do Fábio Seixas. Como a pista tinha um trilho seco e um lado molhado, seria sacanagem alinhar metade do pelotão no asfalto bom e outra metade sobre a água. A largada seria um caos.

Fez muito bem, o diretor de prova. Está explicado. Eu devia ter percebido.

A FRASE DE ÍMOLA

“Sempre digo ao George que se ele trabalhar bem, pode estar na Mercedes um dia, em vez de disputar a Copa Clio. Hoje ele está mais perto da Copa Clio.”

Toto Woll, chefe da Mercedes
Wolff: bravo com o pupilo

Ficou bravo com George Russell, o chefão da Mercedes — que o mantém sob contrato, emprestado à Williams há quase três anos. Com razão. Russell acabou se desculpando, dois dias depois. Sigo com a mesma opinião: ele acertou ao tentar ultrapassar Bottas. Depois, errou em tudo: na reação, nas entrevistas, mesmo no acidente — que aconteceu porque estava com asa aberta na parte molhada da pista, sem aderência, e aí perdeu o controle do carro.

Acontece. Não vamos pregar um selo de mau-caráter na testa do menino. O importante, agora, é ele limpar a barra com a chefia. E, como ele mesmo disse, aprender com o erro.

Carro de Bottas: prejuízo grande

A ira de Wolff tem a ver não só com a reação de Russell. Tem a ver com o fato de dois de seus pilotos baterem, de ver alguém como Bottas perto de ser humilhado, e com o custo do acidente. Em ano de teto de gastos, reconstruir um carro custa caro. “Muitas atualizações que poderíamos fazer nas próximas semanas ficam comprometidas”, disse.

Para quem acha que batida de carro de F-1 não custa dinheiro, ficou bem claro que custa, né? Mais do que um martelinho de ouro. Não tem essa de “lavou, tá novo”. É caro, bem caro.

Só para constar, a FIA considerou a batida um “incidente de corrida” e não culpou ninguém. Estou quase concordando com eles.

Alpine: primeiros pontos no ano

Registremos aqui os primeiros pontos na temporada da Alpine, que graças à punição a Raikkonen, que tinha terminado em nono, ganhou uma posição com Ocon e Alonso, os dois últimos entre o top-10 da prova. Mas que isso não iluda ninguém. O time azul está devendo. E Alonso, também. Aliás, ele sabe bem disso. “Preciso melhorar”, foi o que falou o espanhol.

Outro que precisa melhorar é Vettel. E querem saber? Vamos mudar a ordem tradicional das seções deste rescaldão.

GOSTAMOS – De Lando Norris, excelente terceiro lugar, atuação precisa, paciente, mostrando uma maturidade acima da média para alguém tão jovem. Na foto abaixo, ele recebe o cumprimento de Hamilton — que, na véspera, deu uma força ao menino no Twitter, depois que ele perdeu a volta que lhe daria o terceiro lugar no grid.

Norris: segundo pódio na carreira com atuação madura e segura

NÃO GOSTAMOS – De Sebastian Vettel durante todo o fim de semana. Tomou tempo de Stroll nos treinos, no grid, na corrida. OK, largou dos boxes, teve algum problema no carro (freios, segundo a Aston Martin), mas em nenhum momento esboçou uma recuperação. Acabou abandonando melancolicamente na última volta, com o câmbio falhando. A adaptação ao novo time tem sido difícil. Mas começo a me perguntar se Sebastian ainda tem algo a mostrar na F-1. Ele anda apagado demais.

Vettel: começo de vida muito ruim na Aston Martin

Sobre o calendário, agora. A Liberty anunciou que no ano que vem deve mesmo acontecer um GP em Miami, numa pista de rua. Na verdade, quase uma pista de estacionamento, em volta do estádio do Miami Dolphins. Publicaram o desenho, esse que está logo abaixo.

Há uma obsessão da F-1 por duas corridas nos EUA, embora eu ache que uma só está de bom tamanho. E a pista de Austin é ótima. Mas, enfim… Se tem quem pague, que corram onde quiserem. Para quem já fez corrida em estacionamento de hotel (Las Vegas, lá nos anos 80), dar voltas em torno de um estádio de futebol americano não me surpreende.

O contrato é de dez anos. O circuito idealizado tem 5.141 m de extensão, 19 curvas, três retas e três zonas de DRS. Será a 11ª pista a receber um GP nos EUA na história. As outras: Riverside, Sebring, Watkins Glen, Long Beach, Las Vegas, Detroit, Dallas, Phoenix, Indianápolis e Austin.

Circuito de Miami: no calendário de 2022

Falou-se muito sobre o cancelamento do GP do Canadá deste ano, por causa da pandemia. Ainda não é oficial. Candidatos à data? Nürburgring e Hockenheim, na Alemanha, e Istambul, na Turquia. Tudo na base da especulação, ainda. Se acontecer o cancelamento, acho que acabam correndo em Nürburgring. Mas é puro achismo.

No “Gostamos & Não gostamos” aí em cima, falei de Norris e Vettel, mas poderia ter escolhido, também, Sainz e Pérez. O espanhol, em que pesem alguns errinhos na corrida, saiu de 11º no grid para quinto no final. Está bom, não está? Já o mexicano, putz… Depois de um belíssimo segundo lugar no grid, abusou dos erros na corrida e terminou fora dos pontos.

Mas calma. Checo é muito bom. Chegou agora, foi apenas sua segunda corrida na Red Bull. Nada de julgamentos precipitados. Tem muito campeonato pela frente. E ele é um cara que já mostrou ter poder de reação. Na carreira e numa mesma corrida.

Pérez: trapalhadas a granel num dia muito ruim

O NÚMERO DA EMILIA-ROMAGNA

…anos se passaram desde o último pódio com dois pilotos ingleses. Foi no GP da China de 2012, vencido pelo alemão Nico Rosberg, da Mercedes, com Jenson Button e Lewis Hamilton, ambos da McLaren, em segundo e terceiro.

Dois ingleses no pódio: desde 2012 não acontecia

Por fim, a TV. Parabéns a todos da equipe da Bandeirantes que resistiram à tentação fácil de citar Ayrton Senna a cada passagem de algum carro pela Tamburello. Conferiu equilíbrio à transmissão. Não, o brasileiro não tem de ser esquecido. Mas tem de ser lembrado quando as circunstâncias exigirem. Assim como outros pilotos e eventos históricos. Se não tem motivo para citar alguém, que não seja citado. Simples assim.

A audiência, segundo os informes, foi de 4.3 pontos de média e 6 pontos de pico. Menos do que na Globo. Mas índices bem razoáveis para a segunda corrida do ano. Aos poucos o povo vai entender que a F-1 mudou de canal.