Blog do Flavio Gomes
F-1

MOSLEY, 81

SÃO PAULO – E gostava de Max Mosley. Bastante. Gentil, educado, de discurso irritantemente lógico e claro, passei a simpatizar mais ainda em 2008, quando o “News of the World”, tabloide inglês, o pegou no flagra numas putarias sadomasoquistas. Havia algo em seu passado, sim, que incomodava muito: o pai Oswald, um fascista militante, apoiador […]

SÃO PAULO – E gostava de Max Mosley. Bastante. Gentil, educado, de discurso irritantemente lógico e claro, passei a simpatizar mais ainda em 2008, quando o “News of the World”, tabloide inglês, o pegou no flagra numas putarias sadomasoquistas.

Havia algo em seu passado, sim, que incomodava muito: o pai Oswald, um fascista militante, apoiador do nazismo, um bosta, em resumo, que deve ter incutido algumas de suas ideias depravadas na cabeça do filho.

Mosley era advogado, foi piloto nos anos 60, assumiu o controle da March no final daquela década, conheceu Bernie Ecclestone no início dos anos 70 e, com ele, formou a dupla que por mais tempo deteve o poder não só na categoria, como nos rumos do automobilismo mundial.

Mosley sucedeu Jean-Marie Balestre na presidência da FIA em 1993 e ocupou o cargo por 16 anos, até o fim de 2009 — quando, ainda sob o impacto das revelações da imprensa sobre sua apimentada vida sexual, nem concorreu à reeleição e passou o bastão a Jean Todt. Sob sua gestão, carros e autódromos ficaram mais seguros e a F-1 cresceu de forma monumental do ponto de vista financeiro, entrando no século 21 com uma base sólida e funcional.

Defensor do teto de gastos na categoria — algo que quase causou uma cisão lá atrás, mas que acabou sendo aprovado agora –, desconfiado quanto às intenções das montadoras nas pistas (“Elas vão e vêm, não dá para confiar em conselhos de administração”, costumava dizer), entusiasta das novas equipes, Mosley é o grande arquiteto legal do Pacto da Concórdia, documento que até hoje rege as relações entre a FIA, as equipes e os detentores de direitos comerciais da F-1.

Era um homem inteligentíssimo e, acreditem, conciliador. Sobre as aventuras e festinhas com cinta-liga de couro e chicotinhos, fico com duas opiniões registradas na época, quando personagens da F-1 foram ouvidos a respeito em busca de discursos moralizantes e palatáveis para a tradicional família cristã. “Participei de todas as reuniões a que Max foi nos últimos 30 anos, menos a essa, que muito me interessava”, falou seu amigo Bernie. E a segunda: “Eu queria ter sido convidado”.

O autor da última foi Kimi Raikkonen.