Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

SÃO PAULO (freezing) – Vejam esses moços, pobres moços. De capacete branco, Max Verstappen. Amarelo, Checo Pérez. A Red Bull tem uma dupla. Com o terceiro lugar ontem em Paul Ricard, o mexicano chegou a 84 pontos. Max tem 131. Continha rápida: Pérez já soma 64,1% dos pontos que seu companheiro de equipe marcou. Agora […]

O abraço da dupla da Red Bull: equipe, finalmente, tem dois pilotos

SÃO PAULO (freezing) – Vejam esses moços, pobres moços. De capacete branco, Max Verstappen. Amarelo, Checo Pérez. A Red Bull tem uma dupla. Com o terceiro lugar ontem em Paul Ricard, o mexicano chegou a 84 pontos. Max tem 131. Continha rápida: Pérez já soma 64,1% dos pontos que seu companheiro de equipe marcou.

Agora vamos ao box vizinho, o da Mercedes. Hamilton tem 119 pontos. Bottas, 59. O finlandês somou 49,6% dos pontos que seu parceiro marcou em sete corridas. Nem é uma diferença tão brutal, gritante. Mas aposto com vocês: ao final da temporada, ela será bem maior. E essa é uma das novidades de 2021: a equipe austríaca pode contar com seus dois pilotos, e não apenas com um.

Verstappen, é bom que se diga, pode até passar a impressão de que cultiva o hábito de massacrar seus companheiros de equipe, mas nem sempre foi assim. Na Toro Rosso, é verdade, isso aconteceu em 2015 (49 pontos contra 18 de Sainz) e 2016 (13 x 4 contra o espanhol nas primeiras quatro corridas do ano). Aí se mudou para a Red Bull, substituindo Kvyat a partir do GP da Espanha, mas não bateu Ricciardo até o final do Mundial: o placar foi de 220 x 191 para o australiano nas provas em que dividiram o mesmo teto naquela temporada, e de 200 x 168 em 2017. Daniel ainda era, em tese, o primeiro piloto do time. Foi só em 2018 que aconteceu a virada: 249 x 170 para o holandês, o que motivou Ricardão a deixar o time, percebendo que seu espaço na Red Bull estava diminuindo e que seu tempo na equipe tinha acabado.

Veio 2019, e então Verstappen fez 181 x 63 em Gasly e 97 x 76 em Albon, que entrou no lugar do francês no meio do ano. Em 2020, o tailandês nem foi tão mal: perdeu de 214 x 105. E mesmo assim a equipe o mandou passear, trazendo Pérez. A intenção era óbvia: parar de fazer experiências com jovens da base, porque para ganhar um campeonato é preciso um pouco mais do que isso.

Max vence pela terceira vez no ano: equipe sabe o que precisa para ser campeã

A Red Bull foi tetracampeã entre 2010 e 2013 sempre com a mesma dupla, Vettel e Webber. De um lado um garoto talentosíssimo, faminto e no auge da forma. Do outro, um piloto mais experiente, emérito fazedor de pontos. Mark foi muito importante para a conquista dos títulos de Construtores naqueles quatro anos. Fez 242 pontos em 2010 (contra 256 de Vettel), 258 em 2011 (Seb campeão com 392), 179 em 2012 (281 para o alemão) e 199 em 2013 (397 de Tião). Um papel semelhante ao que Bottas tem desempenhado na Mercedes desde que chegou à equipe, em 2017.

É o que Pérez fará neste ano, algo que pilotos como Kvyat, Gasly e Albon não conseguiram. Talvez porque se enxergassem no mesmo nível que Verstappen, tão jovem quanto eles. Checo não é bobo. Sabe que todas as atenções da equipe estão voltadas para Max, e é mais do que normal que seja assim. Toda equipe tem um primeiro piloto. Duplas explosivas como Senna-Prost, Piquet-Mansell e Hamilton-Alonso são exceções e quase sempre terminam em brigas e rachaduras nos boxes. Por isso, o mexicano vai comer pelas beiradas subindo ao pódio com frequência, ganhando uma corrida de vez em quando, e garantindo o emprego pelo tempo que quiser.

FRANÇA BY MASILI

Pac-Man da Red Bull em ação: Áustria será decisiva

Nosso cartunista oficial Marcelo Masili tem leitura parecida com a minha sobre o que pode acontecer neste campeonato. As próximas duas etapas, na Áustria, serão decisivas. A Mercedes vai reagir rápido? Vai tomar duas surras em Spielberg? Correndo o risco de errar feio, farei meu vaticínio: quem sair na liderança depois da segunda corrida austríaca será campeão. Se a Mercedes quer virar o jogo, é agora.

Falando em Pérez, ainda, uma explicação tardia sobre um episódio ocorrido no final da prova. Muita gente achou que a FIA poderia ter punido o mexicano porque ele excedeu os limites da pista na curva 10, depois que ele ultrapassou Bottas na volta 49. Mas a justificativa está justamente no advérbio. Ele saiu da pista depois de fazer a ultrapassagem, segundo os comissários. Não se valeu disso para ganhar a posição e ainda perdeu tempo, de acordo com a avaliação da direção de prova.

De qualquer forma, a Mercedes esperava por uma punição. E, por isso, não chamou Bottas para colocar pneus macios e tentar a melhor volta no final. Pelo menos foi o que disse Pebolim Wolff. Se Pérez recebesse um pênalti de 5 segundos por exemplo, Valtteri poderia recuperar o terceiro lugar, desde que estivesse perto o bastante do mexicano. Uma parada extra o deixaria bem longe.

A FRASE DE PAUL RICARD

“Por que ninguém me escutou quando eu disse que essa

corrida era para duas paradas?”

Valtteri Bottas
Bottas: ninguém me dá atenção

Bottas poderia vencer se fizesse, ele, duas paradas? A Mercedes chamou o finlandês para seu pit stop na volta 18 para tentar um “undercut” em Verstappen, que estava em segundo, mas não muito distante. Não deu certo porque Max veio para os boxes na volta seguinte e, quando saiu, continuou na frente.

Talvez fosse o caso, sim, de rever a estratégia e chamá-lo mais uma vez lá pela volta 30, como fez a Red Bull com o holandês. Em geral, é de bom tom, em corridas assim, ter uma certa flexibilidade para usar duas estratégias diferentes, uma com cada piloto. Na Red Bull, Verstappen fez duas paradas e Pérez, uma. Na Mercedes, os caras fincaram pé na tática inicial de um pit stop e morreram abraçados com ela.

E Hamilton poderia ter feito uma segunda parada antes que Verstappen? Talvez. Só que a reação seria imediata, a Red Bull pararia Max na volta seguinte e ele dificilmente perderia a posição, porque já estava na frente. Seria uma boa tentativa, porém. Agora, chamar Hamilton depois que Verstappen parou a segunda vez não teria efeito algum. Ele certamente voltaria atrás, sem ter como se recuperar. Ainda poderia tomar um chapéu de Pérez. Naquela situação, o melhor mesmo era ficar na pista e torcer para alguma coisa de errado acontecer com Max. Não aconteceu.

Às vezes falta jogo de cintura à Mercedes, poderá argumentar alguém. Mas é bom lembrar que na Espanha a equipe fez exatamente o mesmo que a Red Bull ontem. E ganhou a corrida com Hamilton. Um dia é da caça, o outro do caçador. Assim é a vida. Não dá para acertar sempre. Mesmo assim, o engenheiro de Lewis assumiu a culpa pela derrota no rádio. “Essa fica na nossa conta”, disse Bono.

O NÚMERO DA FRANÇA

170

…pódios tem Hamilton depois do segundo lugar em Paul Ricard. Ele lidera esse ranking das estatísticas seguido por Schumacher (155), Vettel (122), Prost (106) e Raikkonen (103) — os únicos que já entraram na casa dos três dígitos em troféus conquistados.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

Russell: na frente de carros mais rápidos e um ótimo 12º lugar

GOSTAMOS do 12º lugar de George Russell (acima), que numa corrida sem nenhum abandono conseguiu, com o fraco carro da Williams, ver a bandeira quadriculada na frente de duas Alfa Romeo, de uma Ferrari, uma AlphaTauri e um Alpine. O inglês disse que foi sua melhor corrida pela equipe.

NÃO GOSTAMOS da péssima apresentação da Ferrari (abaixo), que depois de duas poles e algum protagonismo em Mônaco e Baku se arrastou na França, terminando a prova com os dois carros fora da zona de pontos. Sainz foi o 11º e Leclerc (que fez duas paradas, como Verstappen), o 16º.

Sainz, à frente, e Leclerc: corrida decepcionante da Ferrari