Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

SÃO PAULO (allez!) – Não dava para ser outra, a foto do GP da Hungria: duas gerações de pilotos levando ao degrau mais alto do pódio da F-1 uma marca histórica, Alpine, que já ganhou Mundial de Rali e 24 Horas de Le Mans. A empresa criada lá nos anos 50 por Jean Rédélé, concessionário […]

Alonso e Ocon: a lendária Alpine, finalmente, no alto do pódio da F-1

SÃO PAULO (allez!) – Não dava para ser outra, a foto do GP da Hungria: duas gerações de pilotos levando ao degrau mais alto do pódio da F-1 uma marca histórica, Alpine, que já ganhou Mundial de Rali e 24 Horas de Le Mans. A empresa criada lá nos anos 50 por Jean Rédélé, concessionário Renault em Dieppe, na Normandia, merecia a glória. Glória alcançada.

Aliás, se quiserem fazer uma longa pausa para conhecer a história da Alpine, em texto produzido pela assessoria de imprensa da Renault, vale a leitura aqui. Depois voltem ao nosso rescaldão. E aproveitem, também, para escutar aqui a narração da vitória do locutor francês Julien Fébreau, que foi à loucura com a vitória do piloto de seu país.

Enfim, foi um domingo de muitas emoções.

HUNGRIA BY MASILI

Nosso cartunista Marcelo Masili enxergou assim um dos domingos mais emocionantes dos últimos tempos no esporte

Sobraram reclamações da Red Bull pelo acidente causado por Bottas na primeira volta da corrida. Verstappen teve metade de seu carro arrancada pela Mercedes do finlandês. A equipe informou que Max correu com menos “downforce” que a Haas de Mick Schumacher, por exemplo. No fundo, foi quase um milagre o holandês terminar a prova com seu carro todo arrebentado. Vejam como ficou:

Christian Horner, irritadíssimo, anda resmungando pelos cantos sobre a conta para consertar tudo. Em tempos de orçamento limitado, cada batida custa uma fortuna. Mas há pouco a fazer, além de engolir o choro. O negócio, agora, é torcer para que o motor não tenha sido afetado, já que o time está no limite de trocas para toda a temporada, correndo o risco de sofrer uma punição se tiver de substituir algum componente.

Sobre a desclassificação de Vettel, agora. Vai ser difícil reverter. O regulamento é muito claro e, como disse ontem, já aconteceram punições semelhantes no passado. A Aston Martin jura que tinha 1,74 l de gasolina no tanque, que pode ter havido algum problema na bomba, sei lá. Só conseguiram tirar 300 ml. Portanto, a se confirmar o que diz a equipe, ainda tem 1,44 l lá dentro. Tomara que consigam. Que virem o carro de cabeça para baixo. De qualquer maneira, o resultado, neste momento, exclui Vettel da prova. Houve uma certa confusão ontem porque a FIA manteve o alemão em segundo na divulgação do resultado provisório, com a observação de que sua homologação ainda dependia do recurso que o time informou que interporá. Depois, publicaram nova papeleta sem o #5 na segunda colocação.

De novo: vou torcer loucamente para que consigam achar a gasolina e para que as imagens abaixo não sejam apenas uma lembrança amarga para o piloto. Ao lado delas, a classificação das equipes sem os pontos de Vettel. O prejuízo para a Aston Martin foi muito grande, 18 pontos valiosos na briga contra AlphaTauri e Alpine.

Dúvida de ontem que tentarei esclarecer agora. Vocês lembram que assim que Hamilton passou pela saída de box após a segunda largada, que teve apenas ele no grid, quem saiu logo atrás de seu carro foi Russell, que apareceu em segundo na classificação. Algumas dezenas de metros à frente, o inglês da Williams foi ficando para trás, até se posicionar em sétimo.

O que aconteceu ali foi que quando saiu de sua garagem, depois de esperar pela troca dos pneus de Latifi, que estava em terceiro, Russell viu uma fila de carros parados ao seu lado. Os boxes da Williams ficam no final do pitlane. Ele, então, simplesmente não entrou na fila. Assim que a luz se acendeu, passou na frente de todo mundo e foi embora. Mas, imediatamente, perguntou pelo rádio: “Gente, eu podia fazer isso?”. Seu engenheiro, na hora, respondeu: “Negativo. Você tem de esperar o pessoal passar e se posicionar atrás de Alonso. Primeiro vão passar três carros, aí tem um gap, mais um, e depois Alonso. Um pouco atrás está Kimi. Você tem de voltar na frente de Kimi”.

Russell na frente de todo mundo: equipe orientou o piloto a devolver posições

Jorginho nem questionou. Seguiu a orientação do time e deixou os demais passarem para se colocar na posição original antes das paradas. O diretor de prova, Michael Masi, contou que o piloto seria punido se não fizesse isso. “Mas como a equipe se prontificou a corrigir sua posição, entendemos que não houve má-fé de ninguém.”

Mesmo assim, Russell conseguiu, pela primeira vez na Williams, marcar pontos. Ficou em oitavo, com seu parceiro Nicholas Latifi, incrível, em sétimo. Foi o melhor resultado da equipe desde o GP da Itália de 2018, quando Stroll terminou em nono e Sirotkin (lembram dele?), em décimo. Abaixo, imagens marcantes de um domingo inesquecível para a Williams: Russell chorando na entrevista à TV húngara, Latifi sorrindo com o resultado improvável, a alegria de integrantes da equipe e a foto histórica com todo mundo feliz da vida em Hungaroring:

Números, agora. Foram muitas as cifras produzidas pela corrida húngara. Meu brother Fábio Seixas destacou na nossa live no UOL que a Mercedes, nas últimas duas corridas, marcou 61 pontos, contra cinco da Red Bull. E poderiam ser 62, se Gasly, a pedido da Red Bull (!), não tivesse parado no fim para colocar pneus novos e fazer a melhor volta da prova, tirando um ponto extra de Hamilton e da equipe rival. Foi, destaque-se aqui, a primeira vez que a AlphaTauri fez a melhor volta de uma corrida.

Poderíamos também, destacar que Ocon foi 111º piloto a conquistar uma vitória na F-1. Ou que uma equipe francesa, com motor francês e piloto idem, não vencia uma corrida desde Alain Prost com a Renault na Áustria em 1983 (sei que alguém vai falar de Panis, da Ligier, em Mônaco/1996; mas a equipe, naquele ano, usava motores Mugen-Honda, japoneses). E já que estamos falando de franceses, é deles…

O NÚMERO DA HUNGRIA

81

…vitórias tem a França na F-1, perdendo nas estatísticas apenas para Grã-Bretanha (303), Alemanha (179) e Brasil (101)

Sobre Ocon, palmas para o menino que tem uma história muito bonita no automobilismo. Seus pais venderam tudo que tinham para bancar sua carreira no kart, que começou aos 9 anos. Até a casa. Chegaram a morar numa van. “Depois das corridas, domingo à noite, meu pai estacionava o furgão na frente da escola e quando tocava o sino eu acordava e ia para a aula”, contou há alguns anos num podcast da F-1. “Eu era muito feliz”.

Nada do perfil de menininho rico com hobby de milionário, portanto. O pai Laurent, de origem argelina e espanhola, trabalhava como mecânico. Nascido na pequena Évreux, cidade de 48 mil habitantes na Normandia, seu nome inteiro é Esteban José Jean-Pierre Ocon-Khelfane. Sentou num F-1 pela primeira vez em 2014, aos 17 anos, para fazer testes na Lotus. Ganhou o título europeu de Fórmula 3 no mesmo ano em cima de Max Verstappen e em 2015 foi adotado pela Mercedes, ano em que foi campeão da GP3 e fez testes na Force India, sempre sob supervisão da fábrica alemã. Em 2016 correu no DTM, fez testes na Renault e estreou na F-1 pela pequena Manor disputando nove GPs. No ano seguinte, correu pela Force India e fez impressionantes 87 pontos em sua primeira temporada completa, terminando o Mundial em oitavo.

Parecia que a aposta da Mercedes seria toda nele, mas a escolha de Bottas para substituir Rosberg em 2017 acabou jogando o garoto para baixo. Ele disputou o campeonato de novo pela Force India em 2018, fez 49 pontos, terminou em 12º e ficou sem vaga para 2019. Passou o ano como piloto reserva da equipe prateada, mas no final da temporada foi dispensado, quando a Mercedes resolveu jogar todas suas fichas em Russell. Acabou assinando com a Renault e voltou ao grid no ano passado como companheiro de Daniel Ricciardo.

É uma história de lutas. Que começou desse jeito aí embaixo:

O dentucinho Ocon: infância numa van

A FRASE DE BUDAPESTE

“Depois de 70 voltas atrás dele, definitivamente posso dizer que aprendi a soletrar ‘Alpine’!”

Sebastian Vettel

Escolhi a frase engraçadinha de Vettel, mas é claro que o que de mais importante ele fez ontem foi dar um tapa na cara de Viktor Orbán e suas leis homofóbicas. O primeiro-ministro húngaro foi alvo direto do alemão. Que disse que faria tudo de novo, e que seu protesto era muito claro: contra um governo que em vez de proteger as pessoas, as ameaça.

Vettel merece aplausos de pé. Pela corrida também, claro. Não se pode esquecer que recebeu a bandeirada em segundo lugar. Se não tinha gasolina suficiente para análises no tanque, é óbvio que ele não tem culpa nenhuma.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS muito da corrida de Hamilton, claro. E dos momentos que ele protagonizou: o único a levar o carro para o Parque Fechado, o único no grid da segunda largada, o duelo maravilhoso com Alonso. Lewis, mais uma vez, mostrou o piloto que é. Caiu para último depois de trocar pneus após a largada solitária. E terminou em terceiro — segundo com a punição a Vettel. Corrida de gala.

NÃO GOSTAMOS da barbeiragem incrível de Bottas, embora seja preciso reconhecer que graças a ela a corrida foi uma deliciosa maluquice. Mas o finlandês tirou dois carros completamente da prova — os de Norris e Pérez — e causou um enorme prejuízo a Verstappen. Por conta disso, já perdeu cinco posições no grid para o GP da Bélgica, no fim do mês.