Blog do Flavio Gomes
F-1

TEXANAS (3)

ITACARÉ (tenso!) – Max Verstappen confirmou seu favoritismo e venceu o GP dos EUA hoje em Austin. Mas foi com emoção. Lewis Hamilton terminou em segundo a apenas 1s3 do holandês, que ampliou sua vantagem no Mundial de seis para 12 pontos. Foi uma prova tensa até o final, com duas paradas para todo mundo, […]

Verstappen: 18 vitórias, oito no ano

ITACARÉ (tenso!) – Max Verstappen confirmou seu favoritismo e venceu o GP dos EUA hoje em Austin. Mas foi com emoção. Lewis Hamilton terminou em segundo a apenas 1s3 do holandês, que ampliou sua vantagem no Mundial de seis para 12 pontos. Foi uma prova tensa até o final, com duas paradas para todo mundo, a Red Bull trocando pneus antes que a Mercedes nos dois pit stops e, por isso, terminando a prova com uma borracha bem pior que a do inglês. A estratégia agressiva valeu a pena. E a equipe austríaca comemorou uma vitória categórica de seu primeiro piloto e o terceiro lugar do outro, Sergio Pérez, chegando a 200 pódios em sua história na categoria.

Foi uma corrida boa, apesar de ter sido decidida nos boxes. Nem mesmo a cafonice da chegada do troféu num carro conversível com chifres, com Shaquille O’Neal de portador, arranhou a qualidade do espetáculo, que teve aulas de pilotagem dos dois primeiros colocados. Pérez, o terceiro, chegou mais de 40s depois deles.

Shaquille O’Neal com a taça no Cadillac chifrudo: breguice total

Com céu azul, sol e calor, 29°C, apenas dois pilotos largaram para a primeira etapa americana do Mundial com pneus macios: o ferrarista Carlos Sainz e o alphataurista Yuki Tsunoda. Primeira americana porque as próximas duas também são nas Américas, México e Brasil, é bom deixar claro. Diferentemente da maioria das corridas deste ano, a estratégia padrão para todo mundo seria de duas paradas, por conta das características do asfalto de Austin.

Hamilton largou muito bem subiu a ladeira como um raio e jogou duro na primeira curva, apesar da tentativa de Verstappen de manter a ponta. Nela, saiu da pista na curva 1 e só não perdeu o segunda posição porque quem estava por lá era o compañero Sergio Pérez, que tirou o pé e deixou o colega se aprumar. Um pouco mais para trás, as duplas de Ferrari e McLaren trocavam tinta numa briga que, até o fim do ano, vai valer o terceiro lugar entre as equipes. Russell foi quem mais lucrou na largada: de 20º para 13º, aproveitando uma ligeira confusão entre Stroll e Latifi. Mas ficou nisso e ninguém mais ouviu falar dele até o fim da prova.

Max aperta Lewis na largada: inglês jogou duro e assumiu a ponta

As primeiras voltas mostraram que o inglês teria enormes dificuldades para segurar a liderança até o fim. Seu carro, com pneus médios, não rendia bem. Verstappen se aproximava rápido e estudava a trajetória do rival. “O carro dele está escorregando muito”, avisou pelo rádio. Lewis se esgoelava para ficar na frente e Max apenas observava. Na volta 7, o mercêdico falou: “Ele está mais rápido que eu”. Ninguém respondeu. Lewis não conseguia abrir mais de 1s para o adversário, que só comboiava o #44 e de vez em quando piscava os faróis. Em terceiro, Pérez não ousava se aproximar dos dois.

Virou uma corrida de paciência para o holandês. Com um ritmo melhor, restava ao rubro-taurino esperar pelo momento dos pit stops para dar o bote. Os cálculos passaram a ser feitos nos boxes da Red Bull. Era preciso saber exatamente a hora de parar, principalmente levando em conta a posição em que o piloto iria voltar na pista. Cair no tráfego poderia ser fatal. E o time resolveu tomar uma atitude bem antes do previsto para dar o “undercut” em Hamilton.

Casa cheia em Austin: 400 mil pessoas em três dias

Na volta 11, Max parou. Colocou pneus duros e voltou em quinto, atrás de Ricciardo. O australiano não foi exatamente um aliado de Hamilton. Verstappen passou por ele sem dificuldades e partiu para cima de Leclerc, que antes mesmo de perder a posição foi para os boxes. Muito rápido com seus pneus novos, o holandês começou a tirar tempo em relação ao líder Hamilton. Na volta 13, a diferença era de 16s388. Se parasse naquele momento, Lewis voltaria atrás do rival. Parou na volta seguinte, a 14ª. E quando saiu dos boxes, estava mais de 6s atrás de Verstappen. O pulo do gato, ou do touro vermelho, estava concluído.

Os primeiros colocados foram se espalhando pelos 5.513 m do Circuito das Américas, que recebeu 400 mil torcedores em três dias de evento. Algumas disputas, é verdade, aconteciam no fundão. Alonso versus Raikkonen, primeiro, e versus Giovinazzi, depois, foi divertido. Valiam 10ª, 11ª e 12ª posições, nada muito honroso, mas Fernandinho reclamou que foi empurrado por Kimi, depois passou o italiano por fora da pista e deve ter soltado vários impropérios pelo rádio quando foi obrigado a devolver a posição. Mas o espanhol não se rendeu, partiu para cima de Toninho da Alfa Romeo e passou de novo.

Lá na frente, a diferença entre Verstappen e Hamilton se mantinha estável na casa dos 6s. Mas começou a cair na altura da volta 24, despencando perigosamente para 3s na volta 26. Avisado, Max voltou a acelerar, mas sem conseguir desgarrar do carro preto da Mercedes. Por isso, na volta 30, parou e colocou um novo jogo de pneus duros. Foi quando a equipe mandou o heptacampeão, de novo na liderança, socar o pé no porão para, em sua segunda parada, tentar voltar à frente de Verstappen. Mas ele precisaria construir mais de 20s de vantagem para isso. E o cronômetro, nessas horas, é cruel: Max estava 17s atrás, apenas.

Hamilton na segunda parada: só foi alcançar Max no fim

Hamilton foi ficando na pista, para ter pneus mais novos e talvez mais macios que Verstappen na fase final da prova. Era um jogo de xadrez e seria uma aposta interessante da Mercedes. Mas na volta 35 o #33 da Red Bull começou a virar tempos cerca de 1s3 por volta melhores que o inglês. Assim, nada de muito espalhafatoso foi tentado pelo time alemão. Lewis parou na volta 38 e colocou pneus duros, mesmo. Voltou em segundo, 8s5 atrás de Max, com uma borracha oito voltas mais nova. Era outra aposta: pneus em melhores condições para, quem sabe, se lançar a um ataque no apagar das luzes da corrida.

E as primeiras voltas de Hamilton com pneus novos foram bem promissoras. Na 42ª, a diferença já tinha caído para 5s. Na 44ª, 4s. Lewis fazia das tripas coração para se aproximar de Verstappen. Em algum momento seus pneus também perderiam rendimento, e era nisso que a Red Bull apostava para não levar nenhum susto no fim — assim como na competente gestão da borracha de seu garoto enxaqueca. Mas o inglês não desistia. A dez voltas do final, na 46ª, meros 2s8 separavam os dois pilotos.

Pérez, terceiro colocado: muito longe dos dois primeiros

Para quem está na frente, esse tipo de aproximação é um filme de terror. Na volta 49, a diferença caiu para 1s8. Verstappen passou a ver Hamilton no retrovisor. Era uma corrida à parte. O terceiro colocado, Pérez, estava mais de meio minuto atrás dos dois primeiros.

Christian Horner, chefe da Red Bull, dissera antes da corrida que o GP dos EUA seria decidido nas últimas cinco voltas, tipo um jogo de basquete que se resolve nos segundos finais. Tinha razão. Na volta 54, Hamilton se aproximou ainda mais, 1s1, deixando o público em pé no autódromo. Chegar é uma coisa, passar é outra, diria neste momento Galvão Bueno se ainda estivesse transmitindo F-1 pela TV.

Como previu Horner, ainda que Max tenha vencido, foi, sim, uma prova decidida no crepúsculo do espetáculo — salve, Fiori Gigliotti! Verstappen recebeu a quadriculada apenas 1s333 à frente do britânico, o que significa que qualquer errinho, dele ou da equipe, teria sido letal. Se ele espirrasse numa entrada de curva, perderia. Se um mecânico tivesse de coçar o olho num pit stop, idem. A precisão do time em toda a operação de troca de pneus e a maestria da pilotagem de Max definiram o resultado da corrida.

Pérez, Leclerc, Ricciardo, Bottas, Sainz, Norris, Tsunoda e Vettel fecharam a zona de pontos. Max foi a 287,5 pontos, contra 275,5 de Hamilton — que acabou fazendo o ponto extra da volta mais rápida. Foi a segunda derrota da Mercedes em Austin desde o início da era híbrida da F-1, em 2014. A outra aconteceu em 2018 para a Ferrari, com Raikkonen — seu último triunfo na categoria.

Verstappen chegou a 18 vitórias na carreira, oito no ano. É o favorito ao título? Faltando cinco etapas para o fim, 12 pontos não são de se desprezar… Sim, é favorito. Mas Hamilton crescendo no espelhinho de Max nas últimas voltas do GP dos EUA foi quase um recado. O cara não desistiu, não. Portanto, é melhor não vacilar. Ficou mais difícil, porém. E todo mundo na Mercedes sabe disso.