Blog do Flavio Gomes
F-1

PRIVÍU DE LOSAIL

ITACARÉ (dois pneus, tudo bem…) – “Privíu” é palavra que não existe, mas é assim que se pronuncia “preview”, e hoje é véspera da abertura de um novo GP no calendário. É a primeira vez que a F-1 corre no circuito de Losail, no Catar, e “privíu” rima com Losail. A gente precisa explicar tudo… […]

ITACARÉ (dois pneus, tudo bem…) – “Privíu” é palavra que não existe, mas é assim que se pronuncia “preview”, e hoje é véspera da abertura de um novo GP no calendário. É a primeira vez que a F-1 corre no circuito de Losail, no Catar, e “privíu” rima com Losail. A gente precisa explicar tudo…

No ritmo da semana passada em Interlagos, notinhas do dia para preparar o espírito para a antepenúltima etapa do campeonato. Vamos lá!

Hamilton de patinete: fuga das polêmicas

PAPO LONGO – Comissários desportivos e diretor de prova da FIA se reuniram hoje desde as 11h (de Brasília) para analisar as “novas evidências” apresentadas pela Mercedes pedindo revisão da não-punição a Verstappen por manobra espalhafatosa na 48ª volta do GP do Brasil. Para quem não lembra, Max “alargou” a curva na descida do Lago, jogando Hamilton quase dentro d’água. Ele próprio só conseguiu fazer a curva pela área de escape. No domingo, ninguém puniu o holandês. Michael Masi, diretor da corrida, disse que não teve acesso às imagens de dentro de seu carro, o que me parece um absurdo. Aliás, dois absurdos: 1) não ter acesso à on-board de Verstappen; 2) não exigir na hora essa imagem, que pode ser recuperada em questão de segundos. No fim da noite, a entidade avisou que qualquer decisão sobre o episódio só será anunciada amanhã.

PREJU À VISTA – E qual pode ser a decisão? Uma punição a posteriori para Verstappen. Que, no caso, pode ser o acréscimo de 10s ao seu tempo total de prova, ou a perda de algumas posições no grid catariano. Em ambos o piloto fica no prejuízo. Se tomar o pênalti de tempo, cai de segundo para terceiro em Interlagos e sua vantagem no campeonato passa a ser de 11 pontos em vez de 14. Bottas seria alçado à segunda colocação. Se levar um toco no grid, terá óbvias dificuldades na prova de domingo.

TEM DEFESA – Acho que acrescentar tempo e tirar o segundo lugar de Max no Brasil seria o fim da picada. Porque ele não tem culpa se os caras foram incapazes de analisar na hora o que deveria ser feito. Se é punido com a corrida em andamento e sabe a diferença que tem de abrir do terceiro colocado para se manter em segundo, sua atuação é uma. Se não sabe, é outra. Como não foi punido no momento da manobra e acabou sendo ultrapassado, Verstappen fez as últimas voltas da prova em ritmo de passeio no parque, sabendo que não conseguiria mais alcançar Lewis nem ser ultrapassado por Bottas.

Leclerc, à direita: se não punirem, vai guiar feito louco

SORRY, GUYS – Perder posições no grid da corrida seguinte por incidente que não teve consequência nenhuma na prova anterior? Me parece outro absurdo. Se tivesse tirado Hamilton da corrida, batido nele, tocado em seus pneus, trepado na sua asa, OK. Mereceria uma punição. Mas no fim isso não aconteceu e o inglês acabou ganhando a corrida. O melhor que a FIA teria a fazer seria reconhecer o erro de não ter corrido atrás da on-board do piloto da Red Bull e pedir desculpas.

VALENTÕES – Mas a Mercedes está pressionando, e não é pouco. Além do mais, os pilotos que deram entrevistas hoje no Catar acharam, em sua maioria, que Max deveria ser punido, sim. “Se não acontecer nada com ele, vou mudar meu estilo de pilotagem”, disse Leclerc, ameaçando mandar qualquer piloto que disputar posição com ele para o meio do deserto. Pode ser apenas fanfarronice. Mas há um clima pró-punição no ar. E adiar a decisão para amanhã indica que a turma do jurídico está fazendo ginástica verbal para escrever o comunicado que deverá sem emitido antes do início dos treinos. Para dar voz aos envolvidos: Verstappen, rapidamente, disse que a disputa com Hamilton foi dura “porque não estamos no jardim de infância”; Lewis garantiu que não está pensando no assunto e que sua maior preocupação no momento é acertar seu carro para uma corrida em circuito novo.

SCHEDULE – Falando nisso, horários: amanhã, treinos livres às 7h30 e 11h. Sábado, treino livre às 8h e classificação às 11h. Domingo, largada às 11h. A corrida é noturna e terá 57 voltas.

A PISTA – Falemos de Losail, agora. O autódromo, no meio do nada, foi inaugurado em 2004 e desde então o que de mais importante acontece por lá, no deserto, são corridas da MotoGP. Mas o circuito também é usado para carros, claro. O recorde oficial da pista para automóveis é de 2009: 1min35s741 na antiga GP2 Asiática. O dono da marca é Nico Hülkenberg. A pista tem 5.380 m de extensão, 16 curvas, é percorrida no sentido horário, tem uma reta de 1 km e a maioria das curvas é de média e alta velocidade. Só haverá uma zona de asa-móvel, na reta dos boxes. Do pole até a primeira freada são 420 m de distância. Os cálculos indicam que durante uma volta os pilotos ficarão 61% do tempo com o pé afundado no acelerador. O desgaste de pneus será alto, porque o asfalto é abrasivo. A Pirelli vai levar os mais duros de seu portfólio. É tudo que sei.

MAIS DEZ ANOS – Agora, sobre o Catar… A F-1 assinou um contrato de dez anos com o país, válido a partir de 2023. Losail não está no calendário do ano que vem. A corrida de domingo é emergencial, um quebra-galho para substituir o Japão. E também não estará nos dez anos de contrato, depois. O palco do GP do Catar a partir de 2023 será outro — pode ser uma pista de rua, pode ser um novo autódromo, já que dinheiro lá brota da areia.