Blog do Flavio Gomes
F-1

ASTON MARTIN AMR22

SÃO PAULO (ficou bonitão) – Uma das mais importantes decisões da Aston Martin neste ano foi demitir o chefe Otmar Szafnauer. Importante porque ninguém, nem o próprio, conseguia escrever seu sobrenome sem consultar o Google. E ninguém, nem mesmo seus avós, era capaz de pronunciá-lo sem engasgar. Para seu lugar, a equipe contratou Mike Krack. […]

SÃO PAULO (ficou bonitão) – Uma das mais importantes decisões da Aston Martin neste ano foi demitir o chefe Otmar Szafnauer. Importante porque ninguém, nem o próprio, conseguia escrever seu sobrenome sem consultar o Google. E ninguém, nem mesmo seus avós, era capaz de pronunciá-lo sem engasgar.

Para seu lugar, a equipe contratou Mike Krack. Britânico, ele chegou à F-1 em 2001 pela Sauber. Trabalhou com Vettel, inclusive, quando o piloto estava ainda no Jardim de Infância, tendo passado para o Pré-II direto, já que era muito esperto. Depois de oito anos na equipe suíça, saiu por aí e passou pela F-3, pelo DTM, pela Porsche no WEC e, depois, foi para a BMW (que se fala bê-eme-vê). É um craque, dizem todos.

Hoje foi dia de apresentar o carro novo, e desta vez veio carro, mesmo, e não aqueles mockups que vimos da Haas e da Red Bull, iguais aos que colocam em posto de gasolina em semana de GP para o povo tirar selfie. Desse aí dá para dizer algumas coisas. Como, por exemplo, que o bico é mais chato que as coisas que vimos até aqui, mais chato que o Tiago Abravanel. Ou que a asa dianteira é um pouco diferente das vistas até agora, com a primeira lâmina, de baixo para cima, pendurada na extremidade do nariz — o que não quer dizer nada, porque as vistas até agora são iguais à do do modelo apresentado pela FIA no ano passado para mostrar como seriam os carros de 2022. A asa traseira tem o mecanismo do DRS. Bom sinal, é mesmo um carro de verdade. Aliás, ele já anda amanhã em Silverstone, os 100 km regulamentares para fazer uns filminhos e postar no stories do Instagram.

Notei também, e acho que todos notamos, que sobre as laterais da carenagem há fendas.

Não se iludam. As fendas, chamadas de guelras pelos biólogos do Grande Prêmio, não foram inspiradas em aparelhos respiratórios de peixes. Guelra não é uma palavra bonita, pra começo de conversa. Por isso, depois de analisar direitinho o desenho do carro e chegar ao requinte de contar quantas ranhuras havia de cada lado (15, não precisam abrir a foto, já contei), lembrei que tais cortes são sobejamente utilizados na cosedura de vestes femininas e masculinas desde os tempos do antigo Egito. Adaptadas, as fendas, à alta costura contemporânea, tornaram-se um sucesso.

Como todo mundo está cansado de saber, Aston Martin é uma marca muito ligada a Bond, James Bond. Que, por seu turno, causava frisson entre as mulheres, incluindo aquelas com vestidos de fendas. As imagens abaixo não me deixam mentir. Há uma profusão de fendas ligadas ao modelo mais clássico da montadora inglesa. Sendo assim, por que não encher o carro de fendas?

E assim foi. Mas é claro que limitar a observação das soluções aerodinâmicas do novo Aston Martin às fendas é reducionismo. Até porque muitos carros na história adotaram esse recurso para refrigerar seus motores, sendo o Fuscão o mais célebre de todos. No caso do carro novo do time britânico, desconfio que elas terão alguma outra função, como reforçar o efeito-solo gerado pelos novos assoalhos estipulados pelo novo regulamento.

As fendas, enfim, são o de menos. O que chamou mesmo a atenção hoje no lançamento do AMR22 — este é o nome do automóvel — foi o telhado de Vettel.

Quando chegou à Aston Martin, depois de seis anos na Ferrari, Sebastian estava desse jeito da foto da direita aí em cima. A calvície acentuada foi atribuída aos tempos difíceis pelos quais passou na equipe italiana. Não se sabe com exatidão o que aconteceu nos últimos 12 meses, mas o fato é que a cabeleira do alemão prosperou extraordinariamente, ainda que seu primeiro campeonato pelo novo time não tenha sido brilhante — 12º lugar no campeonato e um pódio solitário no Azerbaijão.

Vettel disse que este é apenas o segundo ano de um projeto quinquenal que pretende elevar a Aston Martin à condição de protagonista na F-1. Lawrence Stroll, dono da equipe e pai do outro piloto, Lance, está gastando os tubos na construção de uma nova fábrica e na contratação de pessoal técnico com passagens pelas grandonas como Mercedes e Red Bull.

No ano passado a ex-Jordan/Midland/MF1/Spyker/Force India/Racing Point decepcionou, com a sétima posição no Mundial de Construtores depois de uma quarta colocação surpreendente em 2020 — que seria terceira, não fosse a perda de alguns pontos determinada pela FIA porque o time copiou umas peças da Mercedes. Foram 77 pontos apenas, contra 142 da AlphaTauri, a sexta colocada.

Stroll com Vettel: mais relaxado

Há de melhorar. E é essa esperança que orientou o batismo do carro após diálogo entre os dois pilotos depois dos primeiros testes em simuladores na fábrica de Silverstone. Stroll, quase sempre enfezado e mal-humorado, resmungou assim que saiu da poltrona de videogame que lhe foi destinada: “Anda menos [que uma] romiseta”. Em seguida, correu para o Twitter: “Shit, AMR”, escreveu na rede social conhecida por seus textos curtos eivados de abreviações. Vettel, que não usa redes sociais, já ganhou uma penca de corridas e tem quatro títulos mundiais na prateleira, procurou acalmar o garoto-enxaqueca, inundando o ambiente de fé e ilusão: “Ah, mano, relaxa!”. Lance, então, tuitou de novo: “AMR, told me Seb”.

O 22 são dois patinhos na lagoa.