Blog do Flavio Gomes
F-1

TESTING, TESTING (3)

SÃO PAULO (pra constar) – Meio tarde para falar do último dia de testes em Barcelona, né? Acho que sim. Dia longo, muita coisa para resolver, deixei para a derradeira hora da sexta-feira. Paciência. Mas pelo menos dá para escrever com calma. Bem, comecemos com o resultado do dia: Hamilton em primeiro, fechando a semana […]

Russell: segundo tempo geral com a Mercedes

SÃO PAULO (pra constar) – Meio tarde para falar do último dia de testes em Barcelona, né? Acho que sim. Dia longo, muita coisa para resolver, deixei para a derradeira hora da sexta-feira. Paciência. Mas pelo menos dá para escrever com calma.

Bem, comecemos com o resultado do dia: Hamilton em primeiro, fechando a semana com o melhor tempo da pré-temporada. Nada de excepcional, nenhum massacre na concorrência, mas sinal de vida da Mercedes. E podia ter sido um pouco mais rápido, abriu voltas que não foram concluídas com boas parciais, mas isso não vem ao caso. Todo mundo, entre os que importam, guardou alguma coisinha em Barcelona.

Vamos aos tempos agregados dos três dias. A informação pneumática é importante. A gama da Pirelli vai de C1, borracha mais dura, a C5, a mais mole e veloz. Como dá para perceber, a Red Bull não se preocupou em saber o que dava para fazer com os pneus mais aderentes. A Ferrari também não fez muita questão.

O melhor tempo na pré-temporada de 2020 em Barcelona (em 2021 os testes foram deslocados para o Bahrein) foi de Hamilton com 1min15s732. Hoje o inglês fechou sua volta mais rápida 3s055 acima do tempo de dois anos atrás. Mas segundo quase todo mundo das equipes na segunda metade do campeonato os tempos serão parecidos. Os carros nasceram mais lentos, mas seu desenvolvimento será rápido e há muita margem para melhorar.

No geral, quem deixou uma impressão mais positiva, inclusive na concorrência, foi a Ferrari. A equipe teve um desempenho sólido, consistente e muito confiável. Foi o time que completou mais voltas: 439 entre Leclerc e Sainz. Depois vieram Mercedes (393), McLaren (367), Red Bull (358), Williams (347), AlphaTauri (308), Aston Martin (296), Alpine (266), Alfa Romeo (175) e Haas (160).

Sainz e a Ferrari: bom começo

De tarde, molharam a pista para experimentar os pneus de chuva, mas nem todo mundo andou. Alguns com problemas técnicos, outros por desinteresse, mesmo. Aston Martin e Alpine encontraram algumas dificuldades pela manhã e o carro azul e rosa de Alonso chegou a ter um princípio de incêndio.

A Haas, como prometido, retirou todas as inscrições de sua patrocinadora russa e as cores da bandeira do país de Nikita Mazepin — que, no entanto, treinou normalmente. Günther Steiner, o chefe do time, foi questionado sobre uma possível substituição do piloto caso a Haas perca o patrocínio da empresa de seu pai, a Uralkali. Falou que Pietro Fittipaldi seria a primeira opção para o lugar, pois é o reserva oficial, já disputou dois GPs em 2020 (quando Grosjean sofreu o acidente no Bahrein) e conhece o time por dentro.

Mazepin na Haas: toda branca

Mas a situação, claro, não é tão simples assim. Sem o dinheiro da Rússia, a Haas vai ter dificuldades até para sobreviver. Alguém terá de vir em seu socorro, pois seria um vexame a F-1 começar a temporada com apenas nove equipes. O nome de Michael Andretti foi muito falado hoje no paddock. O ex-piloto tentou comprar a Sauber/Alfa Romeo no ano passado, não conseguiu, e há alguns dias tornou pública sua intenção de montar uma equipe própria, americana e com um piloto dos EUA — seria Colton Herta.

Se a Gene Haas perceber que não tem para onde correr — não vai querer bancar a operação do bolso, já tomou muito prejuízo nessa brincadeira –, é só dar um telefonema e oferecer a equipe prontinha para Michael. “Paga quando e como puder”, dirá. Andretti vai curtir a ideia. E ninguém vai se opor.

Ainda efeitos do conflito na Ucrânia: a F-1 anunciou o cancelamento do GP da Rússia, marcado para 25 de setembro, dizendo ser impossível correr lá “nas atuais circunstâncias”. Não ficou claro se o cancelamento é definitivo. Se as atuais circunstâncias forem outras em setembro, quem sabe… Mas pelo tom do comunicado e das reações da F-1 — toda ela baseada na Europa Ocidental e controlada por americanos –, dá para esquecer, sim, essa corrida. As feridas não cicatrizarão tão cedo. Malásia e Turquia são destinos possíveis para a data. Portugal também pode tentar, já que o GP da Rússia estava no calendário como etapa seguinte à de Monza, ainda na Europa. Quem pagar mais leva.

Pérez: Red Bull ainda discreta

Foi interessante, depois de três dias, ouvir dos pilotos o que eles acharam de seguir de perto os adversários com os novos carros, cujo conceito foi elaborado justamente para permitir que a turbulência gerada pelo carro da frente não fosse tão prejudicial à eficiência aerodinâmica de quem está atrás. Isso vai permitir que eles andem mais próximos, aumentando as possibilidades de ultrapassagens.

Quem descreveu melhor o que sentiu foi Sainz, da Ferrari. “Quando você está entre um e três segundos atrás, melhorou. Não se sente a perda de ‘downforce’ como antes. Entre meio e um segundo, o comportamento do carro é similar. Quando se está a menos de meio segundo do carro da frente, é bem melhor”, explicou. No geral, seus colegas concordaram. Ninguém reclamou muito dos novos carros, destacando apenas algumas características pontuais — como a visibilidade pior por causa das rodas de 18 polegadas com os pneus dianteiros cobertos por asinhas.

É tudo questão de se adaptar. Nada grave, resumindo.

Os carros agora voltam à pista de 10 a 12 de março no Bahrein, para mais três dias de pré-temporada. A impressão geral é que Mercedes e Red Bull devem se apresentar com muitas modificações em seus carros, e que a Ferrari, neste momento, está um pouquinho à frente na preparação para prova de abertura do Mundial no dia 20, lá mesmo no deserto de Sakhir.