Blog do Flavio Gomes
F-1

TESTANDO N’AREIA (3)

SÃO PAULO (até sexta) – Escrevo sem saber se Mick Schumacher, nas duas horas extras de pista que a Haas ganhou hoje, vai fazer algum milagre (leia a ATUALIZAÇÃO no fim deste texto; não foi milagre, mas quase). Mas considerando apenas o “tempo normal”, terminou há pouco a pré-temporada da F-1 com a sexta equipe […]

Red Bull mostra as garras (ou chifres): P1 no último dia

SÃO PAULO (até sexta) – Escrevo sem saber se Mick Schumacher, nas duas horas extras de pista que a Haas ganhou hoje, vai fazer algum milagre (leia a ATUALIZAÇÃO no fim deste texto; não foi milagre, mas quase). Mas considerando apenas o “tempo normal”, terminou há pouco a pré-temporada da F-1 com a sexta equipe diferente fechando o dia com o melhor tempo em seis sessões divididas entre Barcelona e Bahrein. Desta vez, a campeã mundial de Pilotos, a Red Bull de Max Verstappen: 1min31s720 foi o tempo que o holandês marcou no começo da noite barenita, enfiando um canudo de 0s695 na Ferrari de Charles Leclerc.

(Se vocês consultaram a atualização lá embaixo, já sabem que Mick tirou o segundo lugar de Charlinho, mas é aquela coisa… Andou sozinho, com temperatura mais baixa etc. etc. etc. e tal.)

Isso faz dos rubro-taurinos favoritos à vitória domingo que vem no deserto? Sim. Para mim, é quem chega mais forte na corrida. Max deu a impressão de que nem forçou muito para não assustar os adversários. Não é um favoritismo absoluto, porém. Porque no ano passado aconteceu algo parecido e no fim quem levou a corrida de abertura do Mundial foi Lewis Hamilton, numa Mercedes que não andou nada nos treinos. Um carro complicado que, incrivelmente, venceu três das quatro primeiras etapas da temporada.

Não se deve nunca subestimar a equipe que conquistou os últimos oito títulos de Construtores e sete de Pilotos desde 2014. Os alemães têm grande capacidade de reação. E têm um piloto como Hamilton. Foi ele, aliás, quem deu a declaração mais forte do dia hoje depois de entregar o carro a George Russell, responsável pelos trabalhos no final da tarde e início da noite no Bahrein: “Neste momento, acho que não estamos lutando por vitórias”, falou. “Mas o carro tem potencial para chegar lá. Não é em uma semana que vamos conseguir, mas pelo que me disseram ainda temos bastante velocidade para tirar dele”.

Quem disseram foram os homens fortes da Mercedes, que devem ter sugerido a Lewis que compre uma daquelas camisetas onde se lê “Keep calm and [preencha com sua frase favorita]” e descanse durante alguns dias. Há uma certa desconfiança no paddock, expressa principalmente pelos sempre dramáticos italianos da Ferrari, de que o time prateado está escondendo alguma coisa. E como não se pode andar com o carro camuflado, pintado de uniforme antigo do Bragantino, ou com emblema de outra marca no capô (a Vemag meteu um “Lamborghini” no Fissore quando testava o carro pelas estradas brasileiras em 1962), é de se imaginar que estamos falando aqui de motor.

Talvez — vejam bem, talvez — a Mercedes não tenha usado seu motor a pleno. Talvez tenha optado, o tempo todo, por mapas menos agressivos, ocultando alguns cavalos para despejá-los no carro só na semana que vem, quando começa o Mundial para valer. É um medo da concorrência que se justifica pelo passado recente. Mas não convém descartar, de qualquer maneira, a possibilidade de o time ainda não ter encontrado as soluções que precisa para fazer o magricela W13 andar forte — ainda que remota. Hamilton, na entrevista que concedeu depois que terminou a labuta, disse ter ficado com a impressão de que a Ferrari tem o carro mais rápido deste começo de ano. “Talvez a Red Bull, e depois talvez nós e a McLaren”, concluiu, fazendo sua lista de apostas.

É teste. É pré-temporada. Ninguém que não precisa mostra todos seus truques. Aguardemos, falta pouco para começar.

Vamos às notas coloridas? A elas, pois. Mas, antes, os tempos deste sábado, já com Schumaquinho em segundo:

Os tempos de hoje sem a prorrogação da Haas: Max na frente

FELIZÃO 1 – Um piloto em particular ficou muito satisfeito com o trabalho de hoje: Fernando Alonso. O espanhol conseguiu completar 122 voltas, duas a menos que Nicholas Latifi, da Williams, o que mais andou. E fechou o dia com um simpático terceiro tempo (quarto depois do tempo extra da Haas), ainda que quase 1s atrás de Verstappen.

FELIZÃO 2 – Ainda no “âmbito da Alpine”, como diriam aqueles procuradores azedos de Curitiba (aliás, por onde andam os canalhas?), quem recebeu uma boa notícia hoje foi o jovem Oscar Piastri, 20 anos, campeão da F-2 no ano passado e contratado como piloto de testes do time francês. A McLaren, que não sabe se terá Daniel Ricciardo recuperado da Covid para a corrida de domingo, pediu o australiano emprestado para ser seu reserva, também. E a Alpine liberou, deixando claro, porém, que Piastri segue sendo contratado do time rosa & azul. Mas, se precisar, pode ficar com ele por alguns dias, desde que pague transporte, hospedagem e alimentação.

TRISTINHOS – A McLaren, em seu site oficial, não apresenta ninguém como piloto reserva. Apenas lista dois nomes como responsáveis por desenvolvimento e trampo duro e chato no simulador: Will Stevens e Oliver Turvey, que são basicamente ninguém na fila do pão. Se Ricciardo não puder correr, uma possibilidade seria pedir Stoffel Vandoorne ou Nyck de Vries, a dupla da Mercedes na Fórmula E. Mas, pelo jeito, nenhum dos dois comove Zak Brown, o chefe do time papaia. Se Daniel não testar negativo até quinta, quem corre é Piastri. Que já deve estar fazendo banco, por via das dúvidas.

FELIZÃO 3 – Ainda no “âmbito da McLaren”, como diriam aqueles procuradores azedos de Curitiba (sumiram mesmo, né?), a equipe confirmou que o americano Colton Herta, 21, vai fazer uns testes com o carro do ano passado. A FIA criou neste ano um programa chamado TPC (Testing of Previous Cars), que permite às equipes o uso de modelos mais velhos para experimentar jovens pilotos. Herta se tornou em 2019 o mais jovem vencedor de corridas da Indy e atualmente conta, no currículo, com seis vitórias e sete poles na categoria. Hoje corre pela Andretti.

DIA FÁCIL – O chefe de operações da Haas, Ayao Komatsu, disse que a equipe pela manhã teve três “abandonos” em 36 voltas. “Depois de nove, tivemos de parar porque subiu a temperatura. Na 31ª, um vazamento de água. Na 36ª, um problema de alimentação de combustível”, descreveu, superanimado. O sempre polido Günther Steiner escutou aquilou e grunhiu: “Melhor hoje que domingo na corrida”. E virou as costas e foi embora.

FRASE DO DIA – De Max Verstappen, sobre o carro esquelético da Mercedes: “Não sei se é legal ou ilegal, mas é feio pra cacete”.

Às 19h apareçam lá no meu canal youtúbico para a gente analisar a pré-temporada.

ATUALIZAÇÃO – Só para registrar, nas duas horas extras de pista que a Haas teve hoje, a exemplo do que aconteceu ontem com Kevin Magnussen, o carro andou bem. Mick Schumacher fez uma volta 0s521 mais lenta que a de Verstappen, o que deixou o alemãozinho com o segundo melhor tempo do sábado. Parabéns para ele. Talvez a Haas sugira disputar os GPs, a partir de agora, depois que todo mundo terminar de correr.