Blog do Flavio Gomes
F-1

PÔ, RICARD! (2)

SÃO PAULO (a lógica, deu ela) – Charles Leclerc cumpriu com perfeição o roteiro escrito para o GP da França pelo menos até o sábado. Fez uma pole-position previsível e, se sair falando por aí que foi suada, alguém haverá de rebater: sim, mas só por causa do calor. O favoritismo da Ferrari numa volta […]

Leclerc na pole: sétima na temporada

SÃO PAULO (a lógica, deu ela) – Charles Leclerc cumpriu com perfeição o roteiro escrito para o GP da França pelo menos até o sábado. Fez uma pole-position previsível e, se sair falando por aí que foi suada, alguém haverá de rebater: sim, mas só por causa do calor. O favoritismo da Ferrari numa volta rápida tem sido bastante evidente nesta temporada. Foi a sétima pole de Charlinho no ano, 16ª na carreira. Em 2022, o time italiano conseguiu oito das 12 poles possíveis.

Agora, na corrida…

Bem, na corrida, amanhã, as coisas podem ser diferentes. É o que espera do fundo do coração a Red Bull, que fez segundo e terceiro no grid com Max Verstappen e Sergio Pérez. O time aposta no ritmo de prova para esfriar o ímpeto ferrarista. A equipe vermelha vem de duas vitórias seguidas e está doida para derrubar os prognósticos favoráveis aos rubro-taurinos na luta pelo título. Se vencer de novo, consegue. “Mas seremos dois contra um no domingo”, falou o chefe dos energéticos, Christian Horner — aka “Buziner”. Se referia à ausência da outra Ferrari na briga, já que Sainz terá de largar do fundo do pelotão.

Verstappen, segundo: confiança na corrida

As condições climáticas no sábado foram muito parecidas com as do dia anterior, termômetros rondando os 30°C e asfalto tórrido na casa dos 55°C. O favoritismo de Leclerc à pole tinha sido colocado em dúvida depois do terceiro treino livre, que teve Verstappen na frente. Mas logo em sua primeira volta no Q1 o monegasco entrou na casa de 1min31s — precisamente 1min31s727 — pela primeira vez no fim de semana, e deu uma piscadinha dentro do capacete.

Verstappen até se aproximou, com uma volta 0s164 menos rápida — para não ter de dizer “mais lenta”, o que seria um despropósito. Sainz foi o último do quarteto que vem dominando o campeonato a fazer uma volta rápida. Ficou em terceiro, a 0s570 do companheiro. Volta desnecessária, imaginaria alguém, porque o espanhol acabou tendo tudo trocado no motor e teria de largar na última fila, ao lado de Kevin Magnussen — que fez o mesmo. Ambos, porém, foram avançando na classificação e tiraram o doce da boca daqueles que normalmente andam no fundão e torciam para que ficassem parados nos boxes, punidos que estavam. No caso de Caaaaaarlos, o objetivo era bem específico: dar u’a mão a Chaaaaarles.

Magnussen: parte do fundo do grid

Nos últimos dois minutos do Q1, nada menos do que 17 carros foram para a pista. Só a dupla da Ferrari e Lando Norris ficaram nos boxes, vendo tudo pela TV com um ventilador na cara — o inglês da McLaren estava sossegado em quinto, assim como Leclerc e Sainz.

Schumacher, Vettel, Magnussen, Albon e Tsunoda foram os que se safaram da degola num primeiro momento, com boas voltas. Mas o alemão da Haas, que tinha subido para décimo, perdeu sua melhor volta por ter excedido os limites da pista. Foram eliminados Gasly, Stroll, Zhou, o já citado e desafortunado Schumaquinho e Latifi — inamovível da lanterna.

O mais decepcionado era o francês da AlphaTauri, que foi bem ontem nos treinos livres mas, em casa, acabou ficando fora do Q2 diante de seus torcedores. O carro piorou do nada e ele mesmo não sabia explicar por quê.

Torcida de Gasly, o #10: decepção

As primeiras voltas do Q2 tiveram as cores da Red Bull. Max virou 1min31s990, com Pérez 0s130 atrás. Chaleclé fez um tempo discreto, a 0s597 do neerlandês — ou país-baixense, já que agora querem que a gente chame a Holanda de Países Baixos, MAS EU ME RECUSO! Sainz, sim, foi quem fez uma voltaça logo depois: 1min31s081, 0s909 na frente de Verstappen. Era um sinal do que a Ferrari seria capaz de fazer logo depois, uma espécie de “alerta de pole” para o Q3 — havia uma sobrinha de desempenho ali, estava na cara.

Os últimos instantes do Q2 foram de tensão para alguns pilotos, que não podiam errar nada em suas voltas derradeiras, incluindo a dupla da Mercedes. Leclerc se aproximou do companheiro e fez o segundo tempo, 0s135 menos rápido. Depois, briga de foice no escuro. Os tempos foram caindo como peças de dominó numa troca frenética de posições. Os dois punidos, Sainz e Magnussen, avançaram de novo, ocupando vagas no Q3 que poderiam ficar com potenciais excluídos. Imagino a raiva dos que quedaram pelo meio do caminho. E esses foram Ricciardo (de novo), Ocon (mais um francês desiludido), Bottas, Vettel e Albon.

Quarto e sexto na Mercedes: terceira força

A primeira bateria de voltas rápidas no Q3 teve “empate técnico”, por assim dizer: 1min31s209 para Leclerc, ridículos 0s008 de diferença para Verstappen. Sainz foi para a pista, mas não fechou volta. Solamente percorreu parte dos 5.842 m do circuito para oferecer, gentilmente, um vácuo ao companheiro. Regalo que Max não recebeu de Pérez, por falta de sintonia da Red Bull ou, talvez, por desprezo voluntário do líder do campeonato, que não costuma pedir ajuda de ninguém para arrumar suas meias na gaveta.

O papel do espanhol na classificação, como já dito, era claro: ajudar Leclerc. Aliás, ele contou depois da sessão que tudo tinha sido combinado internamente desde tempos imemoriais. “Como já estava decidido que eu ia perder posições no grid, antes mesmo de chegarmos aqui o plano era esse: levar meu carro ao Q3 e dar um vácuo para ele. Não chegamos a treinar isso na pista, mas sabíamos como fazer e deu tudo certo.”

A ordem de saída dos boxes na segunda jornada de “flying laps” foi idêntica à primeira, com Sainz puxando Charlinho e Checo apartado de Verstappen por quilômetros de asfalto. O engenho da Ferrari funcionou à perfeição, o que é singular quando se considera o tanto de bobagem que o time já fez neste ano. Sugado por Sainz, Leclerc fechou sua volta em 1min30s872. “Grandíssimo, Carlos! Grande, Carlos!”, disse pelo rádio, agradecido.

Verstappen, sem vácuo de ninguém, ainda melhorou seu tempo e ficou em segundo — a 0s304 do monegasco, com 1min31s217. Pérez foi o terceiro, 0s463 atrás. Dividirá a segunda fila com Hamilton, o quarto. Norris, Russell, Alonso e Tsunoda os seguiram, até o oitavo lugar. Apesar do papel de “vácuo-man”, Sainz não fechou volta cronometrada, assim como Magnussen. Ricciardo e Ocon herdarão nona e décima posições no grid.

Os tempos da classificação: poucas surpresas

A corrida, amanhã, começa às 10h e terá 53 voltas. Palpites? Bom, o meu tem sido o mesmo desde o início da semana: Verstappen leva. Aliás, ele acha isso, também. “Temos mais velocidade em reta do que eles. Isso vai ser importante amanhã”, disse. A chefia confirmou: “Nossa visão desta prova é um pouco diferente da que Ferrari tem. Eles estão com mais asa, mais pressão aerodinâmica, fazem algumas curvas bem… Nós temos a velocidade nas retas. Veremos.”

Ui, veremos! Parece o Alcides ameaçando o Joventino! Mas Horner tem razão. A estratégia dos líderes do campeonato vem sendo desenhada desde sexta, com ótimas chances de dar certo. Já que uma pole para Leclerc eram favas contadas, a Red Bull queimou todo seu fosfato refletindo sobre como lograr êxito na travessia dominical.

Falaremos disso às 19h no meu empoeirado canal iutúbico, em emissão ao vivo, via Embratel.