Blog do Flavio Gomes
Automobilismo internacional

CAMPEÃO!

SÃO PAULO (parabéns!) – Pela primeira vez desde 2000 um piloto brasileiro conquistou o título da categoria de acesso à F-1. Felipe Drugovich, 22, acaba de se sagrar campeão da F-2 mesmo abandonando a primeira corrida da rodada dupla de Monza. Seu principal — e distante — perseguidor, Théo Pourchaire, não pontuou. Assim, Drugovich fechou […]

SÃO PAULO (parabéns!) – Pela primeira vez desde 2000 um piloto brasileiro conquistou o título da categoria de acesso à F-1. Felipe Drugovich, 22, acaba de se sagrar campeão da F-2 mesmo abandonando a primeira corrida da rodada dupla de Monza. Seu principal — e distante — perseguidor, Théo Pourchaire, não pontuou. Assim, Drugovich fechou a conta com três provas de antecedência. Amanhã acontece a corrida longa do fim de semana e, depois, a rodada dupla de Abu Dhabi encerra o campeonato nos dias 18 e 19 de novembro.

Paranaense de Maringá, Felipe disputou a F-2 pela terceira vez. Correu por uma equipe média, a holandesa MP, experiente na categoria mas que nunca tinha sido campeã. Ganhou cinco provas nesta temporada e só deixou de pontuar em três das 19 corridas disputadas até aqui. O melhor fim de semana foi o de Barcelona, com duas vitórias. Uma campanha baseada na regularidade com doses precisas de agressividade quando necessário. Um título incontestável.

Antes de Drugovich, o Brasil havia conquistado taças de divisões imediatamente anteriores à F-1 quatro vezes. Em todas elas, a categoria era chamada ainda de F-3000. O primeiro foi Roberto Moreno, em 1988. Depois veio Christian Fittipaldi, em 1991. Na sequência, Ricardo Zonta, em 1997. Por fim, Bruno Junqueira em 2000. Dos quatro, só Bruno não chegou à F-1. Acabou fazendo carreira nos EUA.

E essa é, precisamente, a missão de Drugovich agora. Pelo regulamento da F-2, um campeão não pode defender o título. Tem de abrir espaço para os mais jovens. Neste momento, tudo que se sabe sobre o futuro do brasileiro é que ele conversa com a Aston Martin para ser piloto de testes e desenvolvimento. Tem o apoio da XP Investimentos na casa de 7 milhões de euros — a informação foi dada pelo Grande Prêmio com exclusividade nesta semana.

É uma porta. Mas não se pode negar que a F-1 não se comoveu demais com esta temporada da F-2. E se o brasileiro não conseguir uma vaga, não terá sido a primeira vez que isso acontece com um campeão de categoria de base. Drugovich disputou sua terceira temporada e muita gente no paddock atribui sua conquista mais à experiência do que, propriamente, a uma performance extraordinária. Diferente de Piastri, por exemplo, que estreou no ano passado e já ganhou o campeonato.

Há algumas safras não muito fortes na F-2, como as de 2019 e 2020. Em 2019, De Vries foi campeão em cima de Nicholas Latifi. Não chega a ser uma façanha memorável. Arrumou uma boquinha com a Mercedes para o ano seguinte, mas acabou disputando apenas provas de endurance. Depois, foi acomodado pela montadora alemã na Fórmula E — ganhou o título de 2021. Só vai estrear na F-1 agora, depois de duas temporadas nos elétricos. Precisamente, amanhã. E isso porque Albon foi derrubado por uma apendicite. Até agora, De Vries não tem lugar assegurado no grid para 2023.

Da turma de 2020, dois foram aproveitados no ano seguinte. No caso do campeão Mick Schumacher, o sobrenome ajudou bastante. O outro foi o infame Nikita Mazepin, que entrou na Haas com um caminhão de dinheiro. O russo já foi espirrado. O filho do heptacampeão está procurando emprego para o ano que vem. Um terceiro daquela lavra acabaria aparecendo na F-1 em 2022, Guanyu Zhou. Bom piloto, está mostrando capacidade e espírito de equipe na Alfa Romeo, mas não se pode ignorar que a nacionalidade chinesa ajudou. É o primeiro piloto do país mais populoso do mundo a chegar ao topo do automobilismo mundial. Sua chegada tem mais a ver com um mercado de 1,5 bilhão de pessoas do que com os resultados que ostenta na base.

Resumindo, a passagem de um campeão da F-2 à F-1 não é automática. Depende de vários fatores. Consideram-se a idade, o desempenho, nacionalidade, o tempo passado na categoria, as relações com equipes importantes, o grid que enfrentou, o grau de dificuldade da temporada em que foi campeão, um monte de coisa. Algumas equipes da F-1, hoje, têm pilotos sendo preparados e não iriam desperdiçar o investimento feito neles para pegar alguém “de fora”, a não ser em casos excepcionais. Outros times, sem programas de desenvolvimento para jovens, preferem apostar em gente estabelecida — a Aston Martin, por exemplo, foi buscar Alonso, 41 anos, para o lugar de Vettel.

É um tabuleiro complicado, no qual nem sempre as peças se movem de maneira convencional. A corrida por uma vaga na F-1 será a mais difícil da carreira de Drugovich. Mas ele terá de disputá-la.