Blog do Flavio Gomes
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ORANGE JUICE (1)

SÃO PAULO (enfim) – A notícia do dia em Zandvoort veio pouco antes do início do segundo treino livre de hoje para o GP da Holanda. O CRB, que não é o Clube de Regatas Brasil de Maceió, mas sim o Conselho de Reconhecimento de Contratos da FIA, informou em breve comunicado que o “único […]

Piastri: fim da novela com anúncio da McLaren

SÃO PAULO (enfim) – A notícia do dia em Zandvoort veio pouco antes do início do segundo treino livre de hoje para o GP da Holanda. O CRB, que não é o Clube de Regatas Brasil de Maceió, mas sim o Conselho de Reconhecimento de Contratos da FIA, informou em breve comunicado que o “único contrato válido é aquele firmado entre McLaren e o sr. Piastri, assinado em 4 de julho de 2022”, e que o jovem australiano vai defender o time papaia em 2023 e 2024. Pouco depois, a McLaren oficializou sua dupla para 2023 com ele e Lando Norris.

Era esperado. A Alpine já não contava com o piloto e agora terá de lamber suas feridas: perdeu Alonso para a Aston Martin e não conseguiu reter o menino em quem investiu alguns bons milhares de euros desde 2020, quando ele disputou — e ganhou — a F-3; no ano seguinte, levou também o título de F-2. Pior foi constatar que quando perdeu Alonso já tinha perdido Piastri. E, aparentemente, não estava sabendo de nada.

A novidade no comunicado do CRB foi a revelação da data de assinatura do contrato entre Piastri e McLaren: 4 de julho, um dia depois do GP da Inglaterra, um mês antes de Alonso se pirulitar para correr no lugar de Sebastian Vettel na Aston Martin, anúncio feito pelo espanhol no dia 1º de agosto — segunda-feira após o GP da Hungria. Na terça, dia 2, a Alpine promoveu Piastri a titular. Uma hora e meia depois, o australiano de 21 anos avisou que não ia defender a equipe francesa coisa nenhuma. O “não” no meio da fuça deixou o time azul desnorteado.

O que se depreende disso tudo é que o estafe de Piastri, capitaneado pelo ex-piloto Mark Webber, não estava satisfeito com a indefinição da Alpine em relação ao seu futuro. Prometera a ele um carro para 2023, mas seguia negociando com Alonso. Considerando que a Alpine não estava cumprindo o que afiançara ao rapaz, Webber foi atrás de opções e o ofereceu à McLaren, sabendo que Ricciardo estava pela bola sete. Esta, por sua vez, assinou com ele sem definir a situação de Ricciardo, com quem tinha contrato válido para o ano que vem. Foi meio no estilo “garante o moleque aí que com Daniel a gente resolve depois”.

Ricciardo, no dia 13 de julho, em meio aos boatos sobre sua saída da equipe inglesa, fez um post de Instagram garantindo que estava comprometido com o time e que seguiria normalmente em Woking na próxima temporada. Levou uma rasteira. Nove dias atrás, rescindiu o contrato e levou uma bolada calculada em 10 milhões de euros, segundo as últimas informações — a negociação começara na casa dos 20 milhões de dinheiros europeus.

A disputa entre Alpine e McLaren por Piastri foi parar no CRB, que começou a analisar os dois contratos na segunda-feira. Hoje, o órgão informou sua decisão. A Alpine engoliu o choro. “De nossa parte, o assunto está encerrado e em breve anunciaremos nossos planos sobre pilotos para a próxima temporada. Por enquanto, vamos nos concentrar na corrida da Holanda”, disse a equipe pelo Twitter.

Os tuítes da equipe francesa: Piastri se vai e caso encerrado

Em vídeo publicado em suas redes sociais, Piastri agradeceu a todos que estão com ele desde o início de sua “jornada” que começou com as primeiras aceleradas num kart, 12 anos atrás, “incluindo meus colegas da Alpine”. O ideal para ele, agora, seria começar a trabalhar com a McLaren imediatamente. Poderia até fazer dois treinos livres de novatos em duas sextas-feiras, por exemplo. Mas duvido que a Alpine vá liberá-lo. Não vai deixar o moço nem comer papaia até o dia 31 de dezembro. Se aparecer com camiseta cor de laranja, é capaz de ser processado.

E o que será do time que pertence à Renault? Até outro dia, eu acreditava numa troca pura e simples: Piastri vai pra lá, Ricciardo volta pra cá. Acredito até que seria uma opção razoável. O australiano cheio de dentes é experiente, está longe de ser mau piloto, conhece a equipe (que defendeu em 2019 e 2020), arrisca até um “bonjour” com algum sotaque. Mas, pelo jeito, a Alpine tem outras ideias para seu segundo carro. Neste momento, está tentando convencer a Red Bull a liberar Pierre Gasly, ainda que ele e Esteban Ocon não sejam propriamente os melhores amigos, daqueles que dividem um croque-monsieur no fim da noite e um crêpe au Grand Marnier de sobremesa, seguido de um café bem forte e um Gauloises Caporal para encerrar a noite estourando o peito e cantando “Je t’aime moi no plus” abraçados.

Lá no fundo, atrás do mato, tem uma Alpine: equipe corre atrás de piloto

Neste momento, tem muita coisa acontecendo no mercado de pilotos. Ricciardo quer continuar correndo e está de conversinha com a Haas, que não tem mais nenhuma obrigação de segurar Mick Schumacher — já que seu contrato de aprendiz com a Ferrari será encerrado no fim do ano. O filho do heptacampeão mundial anda se insinuando à Williams, que não deve renovar com Nicholas Latifi, mas segue ligado no que pode acontecer na Alpha Tauri se Gasly sair. O time-satélite da Red Bull, por seu turno, flerta com Colton Herta, de olho na simpatia do mercado norte-americano. Helmut Marko, o velho do rio da fabricante de energéticos, falou que não vai se opor a uma saída de Gasly “se todas as condições forem atendidas” — por “condições” entenda-se alguma compensação financeira, já que Pierre tem contrato para 2023. “Sei que é um sonho dele correr por uma equipe oficial francesa”, assentiu. Sobre Schumaquinho, foi mais direto: “Mick não faz parte dos nossos planos. É júnior da Ferrari, nunca negociamos com ele. Temos nosso próprio programa de pilotos. Claro que preferimos nosso pessoal”. Herta, porém, faz: “Ele é bom, fez um teste na McLaren, mas não vamos entrar em detalhes agora, melhor esperar para ver o que acontecer”.

E tem mais gente que ainda não sabe o que vai fazer em 2023, como Yuki Tsunoda e Guanyu Zhou — ambos esperam continuar onde estão, mas nunca se sabe… Fato é que todo mundo que tem alguma ambição para 2023 precisa se mexer. E isso inclui, claro, Felipe Drugovich. O brasileiro está prestes a conquistar o título da F-2 (fez mais uma pole hoje, a quarta na temporada) e com tanto entra-e-sai à vista pode ser que sobre espaço para ele. Nem que seja como piloto reserva, o que já seria alguma coisa.

Ferrari em primeiro e segundo: bom começo na Holanda

Na pista, a novidade hoje foi o mau dia de Verstappen e da Red Bull diante da enlouquecida torcida holandesa que encheu as arquibancadas do rudimentar — e adorável — circuito de Zandvoort. O líder do campeonato teve um problema de transmissão logo no início do primeiro treino e praticamente perdeu a sessão. No segundo, ficou em oitavo, 0s697 atrás do mais rápido do dia, Charles Leclerc.

O monegasco da Ferrari fez a melhor volta da sexta em 1min12s345, com seu companheiro Carlos Sainz em segundo a 0s004 de distância e Lewis Hamilton em terceiro a 0s072. Norris, Russell, Stroll, Alonso, Max, Ocon e Ricciardo fecharam a turma dos dez mais velozes. Sergio Pérez, com o outro carro da Red Bull, ficou apenas em 12º.

Animada estava a Mercedes. “Muito melhor que em Spa”, aliviou-se Russell. “O carro se comporta muito melhor aqui”, concordou Hamilton, que domingo passado zerou pela primeira vez no ano. A equipe espera repetir um desempenho semelhante ao que teve na Hungria, onde ficou em segundo e terceiro. O desenho de Zandvoort ajuda.

O grid será definido amanhã com a classificação marcada para as 10h de Brasília. A corrida, domingo, começa também às 10h e terá 72 voltas. As duas sessões de hoje aconteceram com tempo firme, sol e calor, e um ou outro incidente ligado ao tráfego na pista muito estreita do autódromo holandês. Nada muito sério.

Verstappen: quebra na transmissão e dia ruim em casa

Séria, mesmo, está ficando a negociação entre Red Bull e Porsche para 2026. Numa longa entrevista à Sky da Inglaterra, Christian Horner mandou vários recados à montadora de Stuttgart. A parceria proposta pelos alemães é de compra de metade da equipe de F-1 que pertence à companhia austríaca. Até aí, tudo bem. Mas aparentemente a Porsche quer alguma ingerência na parte técnica do time, o que a Red Bull não vai aceitar. “Sempre fomos independentes, isso está no nosso DNA. Somos uma equipe de corrida, uma organização que não opera corporativamente. Isso é um pré-requisito absoluto para qualquer um que quiser se juntar a nós”, falou. “O tempo dirá se abraçaremos um parceiro nesse programa [de fabricação de motores, o que a Red Bull começou a fazer usando a base deixada pela Honda], ou se continuaremos por conta própria. Eles vão ter de decidir se querem se juntar a nós na nossa festa. Terão de aceitar nossos termos e nossa cultura.”

Ou seja: se os germânicos quiserem chegar cheios de planilhas, procedimentos, “compliance”, roupinha engomada e corte de cabelo padrão, serão rechaçados sem muito papo. Aqui é Red Bull, mano. Com uísque e uma pedra de gelo.

Combinação que até dá para engolir. Ainda mais se ganhar corridas e campeonatos.