Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE DOMINGO DE MADRUGADA

A IMAGEM DA CORRIDA SÃO PAULO (fofo) – Querem saber? Achei legal demais essa foto aí em cima. Nela há quatro taças de campeão e 64 vitórias distribuídas rigorosamente em partes iguais. À esquerda, o veterano de 41 anos que com a idade do da direita, 25, já tinha conquistado dois títulos, também. Mas vencera […]

A IMAGEM DA CORRIDA

Alonso manda ver na selfie: dois bicampeões, 32 vitórias cada

SÃO PAULO (fofo) – Querem saber? Achei legal demais essa foto aí em cima. Nela há quatro taças de campeão e 64 vitórias distribuídas rigorosamente em partes iguais. À esquerda, o veterano de 41 anos que com a idade do da direita, 25, já tinha conquistado dois títulos, também. Mas vencera menos — 15 corridas. Outro dia, ao falar sobre o mais jovem, o mais velho lembrou de suas antigas façanhas. “Com a idade dele eu tinha feito mais ou menos os mesmos números. O problema é que hoje, 15 anos depois, eles continuam iguais”, troçou consigo mesmo. É importante saber ri de si mesmo.

Ao final do GP do Japão, Fernando Alonso foi tirar uma selfie com o novo bicampeão Max Verstappen. Que tinha oito aninhos quando o espanhol ganhou um Mundial pela primeira vez.

O tempo passa, o tempo voa. E a poupança _______________________________________. (Completem a frase, vamos ver se vocês são bons…)

O NÚMERO DE SUZUKA

13

…carros campeões do mundo, com o título de Verstappen, foram desenhados por Adrian Newey. Ele é o mais bem-sucedido projetista da história da F-1. A lista: 1992 (Mansell, Williams), 1993 (Prost, Williams) 1994 (Williams, campeã de Construtores; entre os pilotos o título ficou com Schumacher, da Benetton), 1996 (Hill, Williams), 1997 (Villeneuve, Williams) 1998 e 1999 (Hakkinen, McLaren), 2010, 2011, 2012 e 2013 (Vettel, Red Bull), 2021 e 2022 (Verstappen, Red Bull).

Verstappen ao lado do RB18: mais uma obra-prima de Adrian Newey

Hoje vamos de caixinhas multicoloridas porque estou numas de acabar rápido. Não briguem comigo. É um estilo consagrado, admitam. Estou até pensando em criar uma rede social para textos curtos. Sei lá, 140 caracteres. 280, no máximo. Pode ser uma boa ideia.

DECADENZA – Valtteri Bottas completou nove corridas seguidas fora dos pontos com a Alfa Romeo. Sua última corrida entre os dez primeiros foi no Canadá, em junho. Desde então, a equipe ítalo-helvética marcou apenas um pontinho, com Guanyu Zhou em Monza. A Aston Martin, em compensação, vem se recuperando. No mesmo intervalo de nove provas, fez 29 pontos. Ainda está atrás na classificação, com 45 pontos contra 52 dos alfisti na luta pelo sexto lugar no Mundial. Mas está chegando. Percebe-se um clima de fim de feira na Alfa. A marca só tem mais um ano de F-1. Depois, a operação tocada pela Sauber abre suas portas para a Audi.

PUNIÇÃO – Passou meio batido, mas Gasly foi punido com 20s em seu tempo total de prova porque, segundo os comissários, andou rápido demais quando a corrida já estava sob bandeira vermelha. O francês, na parada entre a interrupção da prova e o reinício, duas horas depois, se mostrou indignado com o trator na pista. A FIA devia desculpas a ele e a todos os pilotos. O pênalti ao piloto — que ainda arrastou uma placa de publicidade no bico — foi um ato autoritário e desnecessário.

Alonso na batalha contra Vettel: Alpine bem, assim como o alemão da Aston Martin

MELHOR DO ANO – Com o quarto lugar de Esteban Ocon e o sétimo de Fernando Alonso, a Alpine somou 18 pontos e teve seu melhor desempenho na temporada — até então, sua maior pontuação fora a da Bélgica, com 16. O resultado devolveu ao time francês o quarto lugar no Mundial de Construtores. O placar aponta 143 x 130 frente à McLaren. É briga boa de duas equipes que mostram certa irregularidade neste ano. A Alpine leva a vantagem de ter dois pilotos pontuando com alguma frequência. Ocon já marcou 78 e Alonso, 65. Na McLaren, o problema é que só um traz resultados. Norris já fez 101 pontos. Ricciardo, apenas 29.

PALMAS PRA ELE – E não se pode deixar de elogiar Sebastian Vettel, com seu ótimo sexto lugar — igualando o melhor resultado do ano até então, no Azerbaijão. O alemão caiu para 16º na segunda volta, após um toque com Alonso, e foi de 16º que partiu para o reinício da prova, duas horas depois. Parou imediatamente para colocar pneus intermediários, caiu para último — atrás do outro malandrão da relargada, Latifi –, e quando todos os outros foram para os boxes, se instalou na sexta posição e lá ficou, resistindo aos ataques de Alonso. Fez um corridão.

SUZUKA, SUA LINDA – Vale repetir, sim, que o circuito japonês consagrou pela 12ª vez um campeão. É, de fato, uma pista histórica e destinada a grandes momentos. E nunca é demais lembrar as outras decisões: Nelson Piquet (1987), Ayrton Senna (1988), Alain Prost (1989), Senna (1990 e 1991), Damon Hill (1996), Mika Hakkinen (1998 e 1999), Michael Schumacher (2000 e 2003) e Vettel (2011). O Japão ainda fez mais dois campeões, mas em circuitos diferentes: James Hunt em Fuji (1976) e Schumacher em Aida (1995).

Bicampeão em 301 dias: recorde para Verstappen

VAPT-VUPT – Verstappen ganhou seu primeiro título mundial no dia 12 de dezembro de 2021 em Abu Dhabi. Conquistou o bi em 9 de outubro de 2022, exatos 301 dias depois. É o menor intervalo entre dois títulos de um mesmo piloto, superando os 322 dias entre o hexa e o hepta de Schumacher. O alemão foi campeão pela sexta vez no Japão em 12 de outubro de 2003 e no ano seguinte fechou a disputa na Bélgica em 29 de agosto, levantando a sétima taça.

SÉRIO? – Detalhe curioso: quando Lewis Hamilton venceu seu último GP, na Arábia Saudita no ano passado, Max ainda não tinha nenhum título. Depois daquela prova o holandês já conquistou dois campeonatos. E Lewis não ganhou nenhuma corrida desde então. (Dica de estatística aleatória do blogueiro Alexandre Neves, colaborador assíduo desta página.)

A FRASE DO JAPÃO

“Eu estive a dois metros de morrer.”

Pierre Gasly

Gasly indignado: lembrança do acidente de Bianchi

Ninguém ficou mais irritado com a presença de um trator na pista com os carros em movimento do que Pierre Gasly. A lembrança do acidente de Jules Bianchi em 2014 na mesma pista ainda está na memória de todos. A FIA prometeu fazer uma “investigação rigorosa” para saber o que aconteceu e quem autorizou a máquina a iniciar o resgate do carro de Sainz sem que todos estivessem parados nos boxes. Vamos aguardar.

Acho que domingo, no textão pós-corrida, e na minha coluna do UOL já falei tudo sobre a questão do regulamento, dos pontos fracionados, da diferença entre corrida suspensa e encurtada. Resumindo bastante, desde o GP do Canadá de 2011 (que quase virou a noite por conta de chuva, várias entradas do safety-car, interrupções, bandeiras vermelhas, acidentes e imprevistos em geral) a FIA estabeleceu uma janela de tempo para realizar uma corrida: quatro horas contadas a partir do horário da largada. Depois, esse período caiu para três horas. É o que está valendo.

Isso significa que se uma prova está marcada para começar às 14h, às 17h tem de ir todo mundo embora para casa. Se uma tempestade inviabilizar a largada, ou se cair um meteorito na pista, paciência. Depois de três horas, o GP é suspenso. Tem a ver, claro, com TV, logística, passagens de avião, transporte para o público etc. Uma prova não pode ser adiada indefinidamente. Se nesse período houver pelo menos duas voltas com bandeira verde, a corrida passa a valer pontos. Há três escalas fracionadas: de duas a 25% das voltas previstas, de 25% a 50% e de 50% a 75%. Com mais de 75% das voltas cumpridas, a pontuação é integral. Com menos de duas voltas com bandeira verde, ninguém pontua. Isso em casos de suspensão da corrida — quando não é possível iniciá-la ou retomá-la dentro da janela de três horas.

O que aconteceu domingo no Japão foi inédito. A prova não foi suspensa. Foi apenas interrompida por duas horas. Quando foi reiniciada, faltavam ainda 45 minutos para estourar o tempo de três horas permitidas para o evento. Nesses casos, cumprem-se as voltas possíveis até expirar a janela de três horas, encerra-se a prova com bandeira quadriculada e os pontos são integrais. Está no regulamento.

Safety-car lidera o pelotão antes da relargada: foram 45 minutos e 28 voltas de corrida

A percepção geral de que corridas com menos de 75% das voltas têm uma pontuação reduzida advém do fato de que, até hoje, todas as vezes em que isso aconteceu de fato apenas metade dos pontos foram atribuídos àqueles que chegaram nas primeiras posições. Ocorre que em todas elas o que se verificou foram suspensões dos GPs sem que eles fossem reiniciados, diferentemente do que aconteceu em Suzuka.

Foram apenas seis ocasiões, todas elas célebres. A primeira, na Espanha em 1975: acidente com Rolf Stommelen, quatro mortos, prova suspensa após 29 voltas, vitória de Jochen Mass. A segunda, no mesmo ano na Áustria: chuva torrencial, prova suspensa por falta de segurança também depois de 29 voltas, vitória de Vittorio Brambilla. Depois, Mônaco/1984, a famosa corrida paralisada na 31ª volta com Alain Prost em primeiro e Ayrton Senna em segundo. Em 1991, Senna foi conclamado vencedor do GP da Austrália depois de 14 voltas debaixo de uma tempestade em Adelaide que não terminava nunca. Em 2009, na Malásia, chuva e falta de luz natural levaram à suspensão do GP com 33 voltas, vitória de Jenson Button.

Finalmente, no ano passado, na Bélgica, o diretor de prova Michael Masi ficou adiando a corrida até onde dava, a chuva não ia embora, e ele decidiu mandar os carros para duas voltas atrás do safety-car antes de estourar o prazo de três horas. Então, suspendeu a prova. Duas voltas eram suficientes, pelas regras vigentes, para declarar a corrida “realizada”, ainda que com bandeira amarela. E a pontuação seria dividida por dois. Como todo mundo achou um absurdo dar metade dos pontos para os dez primeiros numa corrida que na prática não aconteceu, o regulamento foi revisto para este ano, estabelecendo-se uma escala de pontos em função do número de voltas completadas para os casos de provas suspensas.

E é isso que aconteceu e chega de falar desse assunto. Da próxima vez, que leiam o regulamento. Inclusive pilotos e equipes prestes a conquistar o título.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS de Nicholas Latifi. Na verdade, adoramos Nicholas Latifi! Fez seus primeiros pontos no ano e mostrou que tem algum valor. Não muito, mas algum. Foi espertíssimo ao parar antes da relargada para colocar pneus intermediários, como Vettel, e a recompensa foi o nono lugar no final. E ele largou em último! Vai se despedindo da F-1 com alguma dignidade.

NÃO GOSTAMOS da patacoada do resgate do carro de Carlos Sainz, colocando todo mundo na pista em perigo. Que essas lições sejam aprendidas e fatos como esse não se repitam.