Blog do Flavio Gomes
F-1

TÁ ACABANDO (3)

SÃO PAULO (e é hoje) – Sergio Pérez foi o nome da noite de domingo em Singapura. O mexicano largou em segundo, assumiu a liderança nos primeiros metros da corrida e foi assim até o final, ainda sob ameaça de uma punição pelos comissários esportivos por possíveis infrações numa entrada de safety-car. Foi sua segunda […]

Festa de Pérez no pódio: quarta vitória na carreira

SÃO PAULO (e é hoje) – Sergio Pérez foi o nome da noite de domingo em Singapura. O mexicano largou em segundo, assumiu a liderança nos primeiros metros da corrida e foi assim até o final, ainda sob ameaça de uma punição pelos comissários esportivos por possíveis infrações numa entrada de safety-car. Foi sua segunda vitória no ano, quarta na carreira. E a terceira em pista de rua – venceu também em Baku e Mônaco, no passado. Cruzou a linha com 7s5 de vantagem sobre o segundo colocado, o que lhe garantiu a vitória mesmo com a punição de 5s (ele não manteve a distância mínima para o safety-car na volta 36 antes de uma relargada). A Ferrari fechou o pódio com o pole Charles Leclerc e Carlos Sainz. O líder do Mundial, Max Verstappen, terminou em sétimo. Assim, não garantiu o título matematicamente. Tem 341 pontos, contra 237 de Leclerc e 235 de Pérez.

Largada com pista molhada: mais de uma hora de atraso

A prova começou com 1h05min de atraso por causa das fortes chuvas que deixaram a pista completamente encharcada perto do horário original da largada. Quando a água parou de cair, foi preciso esperar para que o asfalto secasse pelo menos um pouco para começar a corrida.

Mesmo com condições bem melhores do que na hora do temporal, foi preciso largar com pneus intermediários. Havia poças em alguns trechos, o spray seria um fator extra de dificuldade e a iluminação artificial só pioraria as coisas. Resumindo, a expectativa quando os 19 carros alinharam – Russell largou dos boxes – era de um festival de rodadas, erros, batidas, escapadas, abandonos, bandeiras amarelas e possíveis surpresas. Corrida de sobrevivência.

Pérez largou muito bem assumindo a ponta quando as luzes se apagaram. Leclerc não teve tempo nem de pensar. Seu companheiro Verstappen, em compensação, despencou de oitavo para 12º. Na hora, desconfiei: será que não trocaram os pilotos?

Maldade à parte, a verdade é que mesmo na liderança e sem água na cara o mexicano não conseguiu abrir de Leclerc no início. O monegasco se mantinha a menos de 1s de diferença, ameaçando dar o bote a qualquer deslize do Red Bull #11.

Mexicano na ponta: boa largada foi decisiva

Max, lá no fundão, começava uma recuperação. Na quarta volta, estava em nono. Mas a distância para a ponta era gigantesca, mais de 20s. Incrivelmente ninguém bateu ou rodou nas primeiras voltas, apesar do piso escorregadio e traiçoeiro. Nem nas seguintes. E as posições se acomodaram com diferenças grandes entre os carros. A exceção era Verstappen, que tinha de escalar o pelotão. Mas tinha dificuldades. Cada ultrapassagem era um parto da montanha.

A primeira treta da corrida aconteceu no fundão, entre Latifi e Zhou. O canadense bateu no chinês de forma grotesca. Não teve nada a ver com chuva, pista molhada, estrelas no céu. Barbeiragem pura, mesmo. O piloto da Alfa Romeo abandonou. O canadense furou o pneu, tentou seguir, mas também deixou a corrida. E tome safety-car, na sétima volta. Verstappen estava 38s atrás do líder, em nono. À sua frente, Vettel. Foi bom para ele. Max deveria mandar panetones para Latifi todo fim de ano. Dos bons, não daqueles com marca de supermercado.

O pelotão se juntou enquanto o carro de Zhou era retirado da pista. Ninguém ousou trocar pneus – a única parada foi de Magnussen, com um pedaço da asa quebrado. A relargada aconteceu na volta 11. Pérez, Leclerc, Sainz, Hamilton, Norris e Alonso eram os seis primeiros. Max passou o alemão da Aston Martin e foi para oitavo. Aqueles 38s para o líder viraram 8s graças ao safety-car. Gasly foi fácil de passar, afinal a equipe é do mesmo dono. Não ofereceu nenhuma resistência. Assim, antes de fechar a 11ª volta o holandês já estava em sétimo. O próximo alvo era mais, digamos, duro de roer: Alonso.

Na frente, Pérez tentava se descolar de Leclerc e só pela altura da 20ª volta conseguiu abrir mais de 2s sobre a Ferrari #16. As primeiras posições se mantinham e ninguém atacava ninguém. Mesmo Verstappen, perseguindo Alonso, não fazia menção de tentar uma ultrapassagem. A prova entrou num ritmo de espera pelos primeiros pit stops sob a interrogação: será que já dava para colocar pneus slick?

Antes da prova, a foto histórica: Alonso recordista com 350 GPs

Na volta 21, tristeza para Alonso. O espanhol, que chegou ao recorde absoluto de 350 largadas, quebrou – facilitando a vida do líder do campeonato, que subiu para sexto. A direção de prova acionou o safety-car virtual. E George Russell foi o primeiro a colocar pneus para pista seca – compostos médios. Estava lá atrás, não tinha muito a perder.

Duas voltas depois a luz verde apareceu e a prova foi retomada sem que ninguém mais arriscasse alguma traquinagem pneumática. Um novo safety-car virtual foi acionado na volta 26 quando Albon espetou o muro e perdeu o bico. Deu ré, foi para os boxes e abandonou. Ninguém parou. Um caboclo tirou o bico quebrado da pista e a corrida foi reiniciada. Na 28ª foi a vez de Ocon parar, com o motor estourado. Outro safety-car virtual, desta vez mais demorado. Enquanto a pista não era liberada, Hamilton, em quarto, e Sainz, em terceiro, ficaram se provocando. Na volta 30, luz verde de novo.

Sem poder usar a asa móvel, vetada em condição de chuva, ninguém arriscava muito. Lewis atormentava o espanhol da Ferrari e Verstappen, em sexto, fazia o mesmo com Norris, em quinto. Foi quando Hamilton errou, na volta 33. Bateu de leve, danificou a asa dianteira, perdeu contato com Sainz. Manobrou e voltou justamente entre a McLaren de Lando e a Red Bull de Max, em quinto.

A pista estava secando. Gasly foi para os boxes e colocou pneus slick médios. Os tempos de Russell, que tinha feito o mesmo voltas antes, começaram a melhorar. Foi a senha. Leclerc entrou e colocou pneus para pista seca, caindo para terceiro. Hamilton também parou, trocou pneus e bico. Todo mundo começou a parar. Na 36ª volta, o líder Pérez tirou os intermediários. Sainz veio em seguida. Depois, Verstappen.

Max, sétimo colocado: pagou pelo erro na classificação, ontem

Mas nem todo mundo conseguiu se manter na pista com os novos pneus. Tsunoda bateu logo depois de sair dos boxes e o safety-car de verdade foi chamado à lida. Como a turma da frente já tinha parado, ninguém aproveitou a neutralização do carro de segurança. Pérez seguia na liderança, com Leclerc, Sainz, Norris, Verstappen e Ricciardo nas seis primeiras posições. Hamilton, por causa da parada mais lenta, caiu para nono. Pelo rádio, pediu desculpas ao time. “De boa, jovem, faz parte, hashtag tamojunto”, respondeu seu engenheiro Bono Vox.

O safety-car saiu quando o número de voltas originais, 61, já tinha ido para o espaço e o cronômetro regressivo foi acionado com 35min para o tempo limite de duas horas de prova. Verstappen, assim que viu a luz verde, perdeu a paciência e foi para cima de Norris. Passou direto e saiu da pista. Arregaçou os pneus na freada, não bateu em nada e voltou em oitavo, à frente de Hamilton. Teve de visitar os boxes mais uma vez para colocar pneus novos, porque os outros ficaram quadrados. Caiu para 12º.

A prova se arrastava em sua meia hora final quando, do nada, Leclerc decidiu atacar Pérez pela vitória. Ele percebeu que o carro do mexicano começou a perder rendimento. Se pudesse ouvir o rádio da Red Bull, ficaria ainda animado. O piloto da Red Bull começou a relatar problemas de todas as ordens. Foi na mesma hora em que a direção de prova liberou o uso da asa móvel. Brigas à vista, enfim!

Safety-car à frente de Pérez: infração notada

E é preciso que se diga. A perseguição de Charlinho para cima de Checo foi bonita. Pérez se mantinha impassível, enquanto o monegasco se esgoelava com o carro rabeando para todos os lados. Durou umas cinco voltas. Até que o mexicano conseguiu se descolar um pouco do carro vermelho, abrindo mais de 1s de vantagem e se livrando da ação da asa móvel.

Verstappen voltou à zona de pontos a 14min da quadriculada ao passar Bottas. Como já estava de pneus macios, tinha o melhor ritmo de todos na corrida. Partiu para cima de Gasly e subiu para nono. Estava se divertindo.

Faltavam 10min quando a Red Bull avisou Pérez, pelo rádio, que ele estava sendo investigado por uma suposta infração sob regime de safety-car. “O quê?”, perguntou. A equipe confirmou e solicitou a gentileza ao piloto de enfiar o pé no acelerador para tentar abrir pelo menos 5s sobre Leclerc, caso recebesse uma punição de tempo – o normal, nesses casos. Charlinho recebeu a mesma informação e a ele foi solicitada a gentileza de não deixar Pérez abrir mais do que 5s.

Justiça seja feita, Pérez foi muito bem. A 1min28s do fim, conseguiu os 5s que precisava. Mais atrás, no meio de um sanduíche de Vettel e Verstappen, Hamilton errou e caiu para nono, perdendo a posição para o holandês. A diferença do líder para Leclerc subiu para mais de 7s, para não ficar nenhuma dúvida. Aplausos, porque mereceu.

Pérez sai da torre sorrindo: “Nenhum problema”, garantiu

Pérez, Leclerc, Sainz, Norris, Ricciardo, Stroll, Verstappen, Vettel, Hamilton e Gasly pontuaram. Seis pilotos abandonaram o GP de Singapura, 17º da temporada. “Foi sua melhor corrida!”, vibrou o chefe da Red Bull, Christian Horner, ao cumprimentar o vencedor pelo rádio. Depois, foi ao pódio receber o troféu com seu pupilo.

A decisão do título ficou para Suzuka, domingo que vem, ou além. Max tem 104 pontos de vantagem sobre Leclerc e 107 em cima de Pérez. Faltam cinco etapas, uma delas com Sprint, em Interlagos — minicorrida que dá oito pontos ao vencedor. Se o holandês sair do Japão com 112 pontos de vantagem sobre o vice-líder, acabou. Outra conta fácil: se vencer com melhor volta, já era. Agora, é só esperar.