Blog do Flavio Gomes
F-1

EXISTE GP EM SP (2)

SÃO PAULO (esperem um pouco…) – Não creio que alguém vá bater a cabeça no muro do autódromo quando souber que não haverá anúncio da Haas sobre seu segundo piloto para 2023 neste fim de semana. Existia uma expectativa de que hoje, conhecido como quinta-feira, a equipe revelasse que o jovem Mick Schumacher será substituído […]

Schumaquinho perdendo o lugar: mães atrapalham (foto Rodrigo Berton)

SÃO PAULO (esperem um pouco…) – Não creio que alguém vá bater a cabeça no muro do autódromo quando souber que não haverá anúncio da Haas sobre seu segundo piloto para 2023 neste fim de semana. Existia uma expectativa de que hoje, conhecido como quinta-feira, a equipe revelasse que o jovem Mick Schumacher será substituído por Nico Hülkenberg. Será, mas tal informação só se tornará oficial semana que vem.

Estou cravando? Mais ou menos. Às vezes — mas é muito às vezes, mesmo –, na F-1, algumas surpresas acontecem, e situações tidas como consumadas são revertidas aos 45 do segundo tempo com um pênalti marcado pelo VAR — estou no espírito da Copa do Mundo. Digo isso para me garantir caso Schumaquinho consiga segurar o emprego.

Mas neste momento, neste exato momento, o retrato é: Mick sai e Nico entra.

E por que, apesar do sobrenome, da simpatia, da elegância e da gentileza o pequeno Schumi está rodando?

Por causa da mãe. Da mãe e da empresária, que é quase outra mãe. A mãe é Corinna, a empresária é Sabine Kehm, uma faz-tudo de Michael Schumacher desde 1999, quando se tornou sua assessora pessoal. Michael a conhecera como jornalista. Depois de uma entrevista que Sabine fez com ele para o “Die Welt”, um jornal (que é um negócio de papel onde são impressas as notícias) cujo título em alemão significa “o mundo”, o piloto simpatizou com a moça e a trouxe para trabalhar com ele.

Sabine é uma espécie de sabujo da família Schumacher e desde o acidente do heptacampeão em 2013, quando caiu esquiando e nunca mais voltou à consciência, ao menos que se saiba, opera como um eficiente escudo entre ele e o resto do planeta. Se não existe uma foto, uma imagem, um vídeo, uma informação precisa sequer sobre o estado de saúde de Schumacher nove anos depois da queda, é por obra e graça de Sabine.

Quando Mick chegou à F-1, no ano passado, ela assumiu o papel de guarda-costas do rapaz. E segundo conversa que tive agora há pouco com um colega lusitano sempre muito bem informado que convive de perto com o submundo da categoria, ninguém na Haas aguenta ela. Tudo que acontece no time, vem Sabine e diz: não é assim, com Michael era assado; este vaso não fica aqui, tem de colocar ali, com o Michael era diferente; esse prato está ruim, o Michael gostava com pimenta do reino; essa camiseta está apertada, o Michael usava mais larga; essa música está muito alta, o Michael gostava mais baixa.

A chatice de Sabine vem acompanhada do tato sempre exagerado de uma mãe que está o tempo todo do lado do filho que disputa corridas de carros e pede sempre para ele correr devagar e tomar cuidado com desconhecidos. Mick, coitado, não pode espirrar e lá vem Corinna com um casaco, uma pastilha de Cebion e a recomendação para colocar um gorro e não pegar friagem.

Talvez fosse assim com Michael — é o que diria Sabine, certamente. Mas Michael tinha sete títulos mundiais e trocentas vitórias e poles e sei lá mais o quê, e Mick tem 12 pontos e nada mais. Michael podia fazer o que quisesse, e se Sabine pedisse à Ferrari para forrar o banco de seu piloto com penas de flamingos da Flórida, a Ferrari providenciaria flamingos da Flórida. Mas… penas de flamingos da Flórida para Mick?

Há outros motivos, claro, para a dispensa do efebo da família. Não se deve jogar tudo nas costas da mãe e da segunda mãe. O rapaz não é exatamente um virtuoso e de vez em quando bate o automóvel da equipe num grau que quando a seguradora faz a vistoria conclui que deu PT. E haja franquia. Em três ocasiões neste ano — Arábia Saudita, Mônaco e Japão — as avarias foram sérias. E custosas. Mick deu prejuízo à Haas neste ano, e com teto de gastos a coisa é ainda mais séria. Precisa repor as peças, mandar para funilaria e pintura, fazer polimento, alinhamento… Se fossem só as penas de flamingo da Flórida, estava bom; nem entram nos custos, essas coisas.

Hülkenberg, 35 anos, 181 GPs no lombo, carteira de trabalho com carimbos de seis equipes diferentes (Williams, Sauber, Force India, Renault, Racing Point e Aston Martin) — ainda que três delas sejam a mesma –, campeão da GP2, vencedor de Le Mans, não é conhecido como emérito destruidor de carros, tem experiência, é casado com uma lituana, tem uma filha e sua mãe, que se saiba, não vai às corridas para saber se estão dando almoço na hora certa para o menino.

Parece uma opção meio maluca recorrer a alguém que fez sua última temporada completa em 2019, mas também é bom lembrar que Nico correu pela última vez neste ano, abrindo a temporada pela Aston Martin no lugar de Sebastian Vettel, que covidou no começo do ano. Contra ele pesa apenas um recorde assaz incômodo, que ostenta sem muito orgulho: é o cara que disputou mais GPs na história da F-1 sem conseguir uma única tacinha; o máximo que conseguiu foi chegar em quarto três vezes (Bélgica/2012, Coreia do Sul/2013 e Bélgica/2016).

Mas quebra bem o galho. Tudo que a Haas não precisa é de um piloto novinho que chegue à garagem de mãos dadas com a mãe. Quanto a Schumaquinho, anotem: a Mercedes pode ser um destino interessante como piloto reserva. Estaria à disposição de três times que usam os motores alemães (a própria, mais Williams e McLaren; a Aston Martin não precisa), poderiam rachar o salário, mamãe Corinna voltaria a dormir sossegada. Afinal, são todos alemães e foi pelas mãos da Mercedes que Michael chegou à F-1. Com Michael também foi assim, lembrará Sabine, satisfeita.