Blog do Flavio Gomes
F-1

PREZINHO (2)

SÃO PAULO (de amanhã não passa) – Por que é que ontem todo mundo deu o tetra a Verstappen e hoje Sainz baixa o tempo para 1min29s921, anda na frente da Red Bull e ninguém está dizendo que a Ferrari vai ser campeã? Por causa disso, ó: “Não há dúvidas de que eles ainda estão […]

Os tempos de hoje: Sainz com pneus macios

SÃO PAULO (de amanhã não passa) – Por que é que ontem todo mundo deu o tetra a Verstappen e hoje Sainz baixa o tempo para 1min29s921, anda na frente da Red Bull e ninguém está dizendo que a Ferrari vai ser campeã?

Por causa disso, ó:

“Não há dúvidas de que eles ainda estão à frente.” Leclerc, Charles

“Lutar pelo título não é realista, pelo que eles trouxeram este ano. Não sei se é um décimo, três, meio segundo, mas se vê pelo design que estão meio passo à frente.” Del Pulgar, Carlos Sainz Vázquez de Castro Cenamor Rincón Rebollo Virto Moreno de Aranda Don Per Urrielagoiria Pérez

“Eles” vocês sabem quem é. Os dois pilotos da Ferrari acham o mesmo que a gente. O espanhol, doravante chamado apenas de Carlos Sainz dada a extensão de seu nome completo, fez a bela volta de hoje com pneus macios designados como C4, que não serão usados no GP do Bahrein. Com o médio C3 (que será o macio da corrida do dia 2 de março), ele foi 0s7 mais lento. Donde se conclui que Pérez, segundo colocado hoje a 0s758 de Sainz, poderia empatar com ele com os mesmos pneus. E sabendo, como todos sabemos, que o mexicano é bem mais lento que Verstappen, concluímos que tudo que concluímos ontem vale para hoje e valerá amanhã.

Max não andou no segundo dia da pré-temporada, embora estivesse prevista sua participação na segunda metade da sessão. Mas esta foi interrompida com uma bandeira vermelha no final da primeira parte, por conta de uma tampa de bueiro solta. Assim, a Red Bull achou melhor deixar Checo na pista até o final. Amanhã ele anda na primeira parte e Verstappen volta na segunda. Provavelmente para, em algum momento, colocar os pneus macios e tripudiar sobre a concorrência de novo.

Ferrari: rápida em uma volta, como em 2023

Virar rápido em ritmo de classificação é algo que a Ferrari já fez no ano passado, marcando sete poles numa temporada de amplo domínio da Red Bull. Portanto, ninguém deve arrancar os cabelos e dizer “oooooohhhhhh” por causa da folha de tempos lá do alto. Está tudo mais ou menos dentro do previsto.

A quinta-feira teve 17 pilotos treinando. Russell, Verstappen e Albon não andaram. Suas equipes optaram por deixar seus companheiros trabalhando o dia todo. No caso da Mercedes, Hamilton teve o primeiro gostinho com o W15 e disse que o carro é “bem mais agradável” de pilotar. Notem: ele não disse “bem mais rápido”. Disse “bem mais agradável”. Interpretem como quiserem.

Lewis com o W15: agradável

Quem voltou a se colocar entre os primeiros foi a Vale Refeição de Ricciardo e Tsunoda, com o australiano na frente. O carro tem um monte de coisa da Red Bull e vem provocando muxoxos de alguns rivais. Por enquanto, fica nisso; nenhum protesto à vista. Aliás, Christian Horner, que hoje apareceu de uniforme da equipe, falou que as pessoas deveriam agradecer à fábrica de energéticos por manter duas equipes na F-1, e não criticá-la.

OK, parabéns.

Horner participou de coletiva com alguns chefes de equipe e, como se esperava, foi perguntado sobre a investigação interna de que é alvo e falou que não pode comentar nada, justamente porque o caso está sendo investigado. Zak Brown, da McLaren, estava junto e comentou: “Não é o tipo de publicidade de que a F-1 precisa, e esperamos que haja transparência nesse episódio”. Recado dado.

Brown (McLaren), Famin (Alpine), Mekies (Visa etc.), Bravi (Sauber) e Horner: coletiva

Pérez aproveitou bem o dia e completou 129 voltas com o RB20. Saiu sorrindo. A equipe que mais rodou hoje foi a Ferrari, com 138 voltas. A McLaren ficou na outra ponta da tabela, com apenas 87. Até agora, Red Bull e Haas, com 272 voltas em dois dias, foram as que aproveitaram melhor o tempo de pista. A Williams, com 178, foi o time que andou menos.

Mas nada disso tem muita importância. O que pude apurar de mais, digamos, picante depois destes dois primeiros dias de pilotos confinados numa ilhota sórdida do Golfo Pérsico é que houve um encontro de todos num restaurante esta noite, e deve ser o único restaurante bom da cidade, que se chama Manama por causa dessa música aí embaixo.

Raramente todos se encontram no mesmo lugar, a última vez foi na despedida de Vettel, e todos se comportaram. Hoje, não. Alguém propôs lavarem a roupa suja de anos de convivência, ainda que alguns tenham chegado faz pouco tempo ao grupo. Um papo sincerão, se é que me entendem. Que começou com Ricciardo apontando o dedo para Norris e dizendo: “Você não suporta minha alegria!”, o que escancarou alguma mágoa dos tempos de McLaren. A resposta foi dura: “O que você pensa não me interessa nem um pouco”, retrucou o inglês. Hamilton interveio na hora, tentando mudar de assunto: “Gente, meu carro estava muito agradável hoje, vamos falar de coisa boa?”, no que foi interrompido por Stroll, num azedume só: “E você está sendo desagradável”.

Nessa hora Alonso, enfastiado, se encheu daquela situação e ameaçou ir embora. “Não estou mais aguentando isso aqui”, falou. “Então por que não vai logo?”, sugeriu Lewis, mudando completamente o tom conciliador de minutos antes. Aí Bottas entrou no meio da discussão. “Essa sua fala é problemática, você não tem de dizer o que o outro tem ou não de fazer”, argumentou o finlandês, mas aí alguém o chamou de “bunda branca” — não foi possível ver quem, mas pelo sotaque pareceu ser Tsunoda –, o que gerou uma discussão acalorada sobre quão inadequado é usar características físicas dos outros para desqualificar suas opiniões. Sargeant tentou entrar na conversa mas logo Russell, um tanto arrogante, o interrompeu: “Você não tem lugar de fala, e além do mais é uma planta!”. Aí Piastri se enfezou: “Na boa, quem você pensa que é pra chamar a gente de planta?”, e aí todos começaram a falar ao mesmo tempo, menos Zhou, que nada compreendia daquela esbórnia.

Nisso Gasly passou a citar salmos em voz alta, enquanto Ocon puxava Leclerc para um canto e articulava alguma forma de isolar o companheiro que, segundo ele, “grita o tempo todo e se faz de vítima”. Mas o monegasco tentou ser compreensivo: “Ninguém se relaciona com ele, está sozinho aqui”. “Nada, é um biscoiteiro!”, criticou Magnussen. “Fica querendo aparecer.” Os ânimos se acalmaram quando Albon pediu a palavra. “Pessoal, o sonho de todo mundo é estar aqui. Eu já saí e voltei”, disse. “Eu também”, emendou Hülkenberg. “Mas ninguém está mais ferrado que eu”, falou Sainz, quase chorando, no que foi abraçado por Pérez: “Sei o que você está sentindo”.

Então todos olharam para Verstappen. Que, acuado, colocou um ponto final na balbúrdia: “É só um jogo. Cada um com sua estratégia”. E foi se servir no bandejão.