Blog do Flavio Gomes
F-1

XING-LING (4)

SÃO PAULO (lovely) – Se Max Verstappen tiver na parede um daqueles mapas-múndi em que a gente vai colocando alfinetes para assinalar alguma coisa, hoje espetou o 26º para marcar mais um circuito onde venceu na Fórmula 1. O holandês ganhou o GP da China, prova que estava fora do calendário desde 2019 por causa […]

Sorriso de quem só ganha: 58 vitórias na carreira, quarta no ano para Verstappen

SÃO PAULO (lovely) – Se Max Verstappen tiver na parede um daqueles mapas-múndi em que a gente vai colocando alfinetes para assinalar alguma coisa, hoje espetou o 26º para marcar mais um circuito onde venceu na Fórmula 1. O holandês ganhou o GP da China, prova que estava fora do calendário desde 2019 por causa da pandemia. Completou, assim, o que a gente pode chamar de barba, cabelo e bigode no fim de semana de Xangai. No sábado, venceu a Sprint e fez a pole-position para a prova principal. No domingo, ganhou a corrida. Com a tranquilidade esperada. Foi a 58ª vitória de sua carreira, quarta no ano em cinco etapas disputadas. Lando Norris, da McLaren, foi o segundo colocado. Sergio Pérez, parceiro de Verstappen na Red Bull, completou o pódio.

A prova chinesa foi disputada com tempo nublado e 19°C de temperatura. Apesar das estratégias de pneus terem variado bastante ao longo das 56 voltas, a maioria dos pilotos — 16 de 20 — optou por largar com os compostos médios, os que se adaptaram melhor ao asfalto do circuito chinês. Só um largou de duros — Kevin Magnussen, da Haas. Três foram de macios: Lance Stroll (Aston Martin), Lewis Hamilton (Mercedes) e Yuki Tsunoda (Não Tá Passando a Senha).

Largada em Xangai: Alonso foi esperto e passou Pérez

Faster than a bullet from a gun, Verstappen não deu a menor chance a ninguém quando as luzes se apagaram dando início ao GP da China. Nem tchauzinho deu. Pulou na frente e, como se diz, só foi. Fernando Alonso também largou muito bem e passou Pérez, para se colocar entre os dois carros da Red Bull. Nico Hülkenberg, um pouco mais atrás, almoçou as duas Ferrari – refeição rápida, porque logo depois Charles Leclerc, Carlos Sainz e também Stroll deixariam o alemão da Haas para trás. Na Se Quiser Pode Parcelar, Daniel Ricciardo caiu de 12º para 15º e Tsunoda subiu de 19º para 16º. Ninguém bateu.

Max abriu 4s sobre Alonso nas quatro primeiras voltas. Checo só conseguiu passar o espanhol na quinta volta, colocando ordem no pelotão. Na turma do fundão, Hamilton, que largara em 18º, levou um ano para passar Magnussen – o que dá bem a medida da desgraça de carro que tem a Mercedes nesta temporada.

O showzinho de El Fodón del Auto Verdón durou mais um pouco, até a volta 8, quando Norris também conseguiu ultrapassar o espanhol para assumir o terceiro lugar. A caminhada de Fernandinho em busca de um pódio seria árdua. E, no fim, não daria muito certo.

Alonso: bom início, sétimo no final

De falta de ultrapassagens no começo da corrida o público em Xangai não podia reclamar. Com longas retas e generosos trechos para uso de asa móvel, elas se sucediam em bom volume, embora sem muita disputa. A dupla ferrarista, por exemplo, deixou George Russell na saudade nas voltas 9 e 12 – primeiro foi Charlinho, depois veio Carlinhos, quando o inglês foi para os boxes. Leclerc também passou Norris, mostrando um bom ritmo de corrida dos carros vermelhos enquanto os pneus não abriam o bico. No ano passado, a Ferrari só andava bem em classificação. Neste, as coisas mudaram.

Naquela altura, os primeiros pit stops já começavam a dar trabalho aos mecânicos nos boxes. Hamilton foi um deles. Pouco depois vieram Alonso e Russell. O primeiro trocou para duros; o segundo, para médios de novo. Seriam pelo menos duas paradas para a maior parte do grid, com compostos diferentes em momentos distintos sendo escolhidos por cada um. “A estratégia é de vocês” – Schmidt, Tadeu.

Na volta 14, Verstappen, que tinha mais de 10s de vantagem sobre Pérez, parou e colocou pneus duros. O companheiro fez o mesmo. Norris, assim, assumiu a ponta, com Leclerc em segundo. Max, em terceiro após o pit stop, não levou muito tempo para chegar no monegasco. Passou sem esforço algum.

Parada de Russell: táticas diferentes

Registrem-se, neste momento, duas comunicações radiofônicas curiosas. Empacado atrás de Esteban Ocon, Hamilton falou para seu engenheiro que não conseguia passar o Clio azul do francês. “Este carro é muito lento, parceiro”, disse. Imaginem a alegria da cúpula da Mercedes com tal declaração de cunho público. Leclerc, por sua vez, recebeu a sugestão de seu engenheiro para aplicar o “plano D” na corrida. Demorou a responder, porque não lembrava direito quais eram o A, o B e o C. Imaginou-se, na hora, que seria fazer a prova toda com apenas uma parada. Na dúvida, ficou na pista.

Verstappen retomou a liderança em cima de Norris na volta 20. Na seguinte, Bottas parou com o motor quebrado. Se um safety-car fosse acionado ali, as coisas ficariam interessantes para Leclerc e Norris, que não tinham parado. Mas não foi o caso. A direção de prova instituiu apenas o regime de safety-car virtual. Charlinho, de qualquer maneira, aproveitou o ensejo e foi para os boxes. Voltou em quinto. Lando foi chamado pela McLaren e também usufruiu do período com os carros mais lentos, enquanto o Sauber de Bottas era retirado da área de escape – não sem alguma dificuldade, já que o automóvel parecia estar com o câmbio engatado.

E por isso mesmo, pela demora, colocaram um safety-car de verdade na pista na volta 24. Verstappen e Pérez foram para os boxes. Alonso & outros fizeram o mesmo. Aqui cabe anotar a estranha estratégia do espanhol: pneus macios. Retomou a corrida em sétimo. Max, Norris, Leclerc, Pérez, Oscar Piastri e Sainz eram os seis primeiros. Com as paradas, 17 dos 19 que estavam na pista calçavam pneus duros – a ideia era ir até o fim da corrida. Apenas Alonso, em sexto, e Ricciardo, em nono, tinham compostos diferentes: macios e médios, respectivamente. Esses teriam de trocar pneus de novo, porque a borracha não aguentaria.

A relargada se deu na volta 27, mas não durou quase nada. Houve um engavetamento envolvendo vários carros que tiveram de frear forte no cotovelo do fim da reta gigante de Xangai: Ricciardo tocou na traseira de Piastri e Stroll encheu por trás o Não Precisa Minha Via Não do australiano. Isso, antes da bandeira verde. Logo depois, Magnussen bateu em Tsunoda. O japonês abandonou. O australiano, incrivelmente, seguiu na pista após a pancada. Lance teve de ir aos boxes trocar o bico. Safety-car de novo para organizar aquela bagunça. Deu tempo, nos poucos metros de bandeira verde, de Alonso passar Sainz e ganhar a quinta posição.

Na volta 31, o Mercedão vermelho saiu da frente do líder Verstappen – foi a única vez que se viu Mercedes na frente no domingo – e a prova foi retomada. Ricciardo, que sobrevivera à batida de Stroll, abandonou com claros danos na traseira de seu carro. Três pilotos levaram punições de 10s: Logan Sargeant, Magnussen e Stroll. Em nada afetariam o resultado da corrida, posto que ocupavam a raspa do tacho do grid.

Na volta 39, Pérez passou Leclerc e assumiu a terceira colocação. Charlinho perguntou, com sinceridade, se o tal plano D ainda seria o melhor. “Todos estão no plano D”, respondeu o engenheiro. Leclerc seguia sem saber quais eram os planos A, B e C. Muito menos o D. Foi ficando na pista, por via das dúvidas. A dupla da Ferrari chegaria ao final da prova com apenas uma parada. Esse era o plano D, aparentemente.

Alonso não aguentou muito com seus pneus macios, parou na volta 44 e voltou em 12º, de médios. Daria para chegar nos pontos, mas o resultado final seria discreto para quem largara em terceiro. A corrida ficou ruim. Grandes intervalos entre os primeiros, Verstappen passeando, Pérez em terceiro sem conseguir chegar em Norris – que tinha feito apenas uma parada –, e no fim das contas só mesmo Alonso fazia alguma coisa, recuperando terreno com seus pneus novos. Passou Alexander Albon, Ocon e Hülkenberg em poucas voltas, chegou em Hamilton na 49ª, passou também, partiu para cima de Piastri, ganhou a sétima posição e ali ficou, porque o carro seguinte, de Russell, estava muito à frente.

Verstappen venceu com 13s773 de vantagem para Norris, o segundo. Pérez, Leclerc, Sainz, Russell, Alonso, Piastri, Hamilton e Hülkenberg fecharam a zona de pontos. Fernandinho levou o ponto extra da melhor volta. Em 14º, Zhou ganhou dos organizadores um presente, um totem com seu rosto diante das arquibancadas, onde parou seu carro para festejar com o público chinês. Foi às lágrimas, o rapaz. Que bonitinho.

A tabela de pontos depois de cinco corridas e uma Sprint tem Verstappen na ponta com 110, seguido por Pérez com 85. Leclerc (76), Sainz (69) e Norris (58) formam o grupo dos cinco primeiros. No Mundial de Construtores, a Red Bull tem 195 e a Ferrari, apesar do pouco brilho em Xangai, continua tranquila em segundo com 151. A McLaren foi a 96, abrindo ainda mais sobre a Mercedes (52) e a Aston Martin (40).

A próxima etapa acontece em Miami, no dia 5 de maio.