Blog do Flavio Gomes
F-1

PRINCIPESCAS (1)

SÃO PAULO (esperado) – Qualquer resultado amanhã na classificação em Mônaco que não seja uma pole de Charles Leclerc será uma surpresa. De novo a Red Bull começou um fim de semana apanhando do carro, o que era mais ou menos previsível pelas características da pista do Principado. Max Verstappen ficou apenas em quarto, a […]

Leclerc: bom começo em casa

SÃO PAULO (esperado) – Qualquer resultado amanhã na classificação em Mônaco que não seja uma pole de Charles Leclerc será uma surpresa. De novo a Red Bull começou um fim de semana apanhando do carro, o que era mais ou menos previsível pelas características da pista do Principado. Max Verstappen ficou apenas em quarto, a mais de meio segundo do monegasco da Ferrari.

“Eles estão milhas à nossa frente”, constatou o holandês. “Não sei nem descrever o que está acontecendo. O carro está muito difícil de dirigir, e tudo que faremos agora é tentar encontrar um jeito de deixá-lo mais guiável”, completou, depois de reclamar pelo rádio que estava “pulando que nem um canguru”.

É a segunda corrida seguida em que o líder do Mundial sobre para encontrar um ritmo decente. Em Ímola foi assim, mas ele fez a pole e ganhou do mesmo jeito. Em Monte Carlo as coisas tendem a ser um pouco diferentes. Mas nunca se sabe. Pole em Mônaco é essencial, mas não brota do nada. Mesmo com um carro claramente melhor, é preciso acertar uma volta muito boa para garantir a posição de honra no grid. É o que Charlinho vai tentar amanhã.

Seu maior adversário, caso a Red Bull siga se debatendo com as dificuldades que demonstra em pistas onduladas e de baixa velocidade média, deverá ser a Mercedes de Lewis Hamilton — o melhor carro do mundo da última semana, Ferrari à parte. O inglês disse que teve hoje seu melhor dia no ano em termos de desempenho. Foi o único a ficar perto de Leclerc, 0s188 atrás. Alonso também andou direitinho e fechou a sexta-feira em terceiro. Lance Stroll em sétimo é a prova de que a equipe verde, pelo menos nessa prova, pode ensaiar uma reação ao mau início de temporada.

A McLaren, pintada de verde e amarelo em homenagem a Ayrton Senna, teve um dia discreto e fechou a segunda sessão em quinto e 12º com Lando Norris e Oscar Piastri. E o nono lugar de Alexander Albon, com a Williams, foi a surpresa da abertura dos trabalhos nas ruas de Mônaco. Os tempos de hoje estão aí embaixo.

Segundo treino livre: Ferrari forte com Leclerc

Mas o que eu queria hoje era falar sobre os tempos registrados nos últimos anos pela F-1 em Monte Carlo. E fazer algumas comparações com o passado e outras categorias.

Vamos voltar um pouco no tempo e usar o rei de Mônaco, Senna, que venceu a corrida seis vezes e largou cinco vezes na pole-position — recordes que o brasileiro detém até hoje. Ayrton foi o primeiro no grid em 1985, pela Lotus, e de 1988 a 1991, pela McLaren. Ganhou a prova em 1987 e de 1989 a 1993.

Quando a gente vê aquelas voltas de Senna em Monte Carlo com a câmera on-board, a sensação de velocidade é alucinante. Ele era quase imbatível nas ruas estreitas e traiçoeiras que formam o circuito, e não raramente humilhava seus adversários. Em 1988, colocou 1s427 sobre Alain Prost, o segundo colocado no grid com o mesmo carro. No ano seguinte, enfiou 1s148 no francês, ainda seu companheiro de equipe, que também dividiu a primeira fila com ele. E o terceiro colocado no grid, Thierry Boutsen, ficou 2s024 atrás. Hoje, nos treinos livres, a diferença entre Leclerc e Valtteri Bottas, o 19º, foi de 1s779.

E quanto virava um F-1 no final dos anos 80? E como foi a evolução dos tempos nessa pista ao longo dos anos? Preparem-se para cair da cadeira. Das cinco poles de Senna em Mônaco, a mais rápida foi a de 1991: 1min20s344, com a média de 149,119 km/h. Ano passado, Verstappen largou na pole com 1min11s365. Sua média de velocidade foi de 168,334 km/h. O recorde da pista, em classificações, é de 2019: Hamilton com 1min10s166, média de 171,211 km/h.

Hoje, na F-2, o holandês Richard Verschoor fez a pole com 1min21s238. Em 1988, 1989 e 1990, largaria na pole. Sim, suas voltas foram tão alucinantes, do ponto de vista da velocidade pura, quanto as de Senna com a McLaren. No GP de 1993, última vitória e também participação de Ayrton no circuito, a pole-position de Prost foi registrada em 1min23s998 — 2s760 mais lenta que a do garoto da F-2.

A evolução é assustadora. Em 2004, duas décadas atrás, o último colocado no grid foi Gianmaria Bruni, de Minardi. O tempo dele: 1min20s115. Bem melhor que a pole de Prost 11 anos antes. Em 2014, Marcus Ericsson, de Caterham, fechou o grid com 1min21s732. Também faria a pole em 1993 — não estou usando 1994 como referência por respeito a Senna, que morreu na corrida anterior, em Ímola. Voltemos mais um pouco no tempo, a 1984, há 40 anos. A pole de Prost: 1min22s661.

Trulli em 2004: pole na casa de 1min13s

Como se nota, de 1984 a 1993 as coisas não mudaram muito em Mônaco, com tempos na casa de 1min20s. A maior estilingada se viu na década seguinte. Em 2004, a pole de Jarno Trulli foi registrada em 1min13s985. De lá para cá, os tempos foram caindo com menor intensidade. E para fechar esse festival de cronometragem, cito o ritmo dos carros da Fórmula E, criticados por sua lentidão crônica que, para muitos, é o motivo da baixa popularidade da categoria. Há algumas semanas, Pascal Wehrlein fez a pole com o carro elétrico da Porsche em 1min29s861. Com esse tempo, ele não teria alinhado no grid do GP de Mônaco de 1984. Naquela corrida, 20 largaram e sete não obtiveram tempos de classificação. O pior de todos foi Philippe Alliot, da obscura RAM, que fez sua melhor volta em 1min29s576.

A pole amanhã deve ser cravada na casa de 1min10s, coisa de 10s melhor que a mais rápida obtida pelo melhor piloto de Mônaco de todos os tempos, Senna.

E tem gente que acha que os carros de F-1 de hoje são fáceis de guiar.

Caixinhas, agora.

TSUNODA EM ALTA – De acordo com reportagens da imprensa inglesa, Yuki Tsunoda passou a ser considerado pela Red Bull como possível substituto de Sergio Pérez, a quem a equipe ofereceu para renovar um contrato de apenas um ano — e o mexicano não gostou muito da ideia. Pode até ser. Mas minha aposta é que o japonês fica onde está. E Checo também.

SAINZ EM BAIXA – Depois de muita conversa, a Mercedes aparentemente descartou a possibilidade de contratar Carlos Sainz. E a Red Bull, idem. A Audi está cansada de esperar uma resposta do espanhol. E quem entrou na briga para ter o piloto, pasmem, foi a Williams. Capaz de o rapaz terminar lá. Mas mantenho minha aposta muito firme: no fim das contas, vai para a Audi — que ainda se chamará Sauber em 2025.

Newey nos boxes: sem uniforme da Red Bull

SEM DESTINO – Garante a imprensa alemã que a Mercedes desistiu de Adrian Newey. O projetista, que já anunciou sua saída da Red Bull, esteve nos boxes em Mônaco com seu infalível caderninho vermelho. Mas sem o uniforme da equipe. É cada vez maior a chance de um acerto com a Ferrari. Se é que já não aconteceu.

SEM SENTIDO – Mario Andretti revelou numa entrevista à NBC que o CEO da Liberty, Greg Maffei, disse a ele em Miami que “fará tudo para que a Andretti não entre na F-1”. “Foi um tiro no coração”, disse o pai de Michael. Segundo ele, Stefano Domenicali, chefe da categoria e empregado do grupo de mídia, estava presente. Não faz nenhum sentido o tanto que a F-1 está espicaçando o time americano. Um dia essa história terá de ser bem contada.