Blog do Flavio Gomes
F-1

MAX RING (2)

SÃO PAULO (deu até pena) – Max Verstappen vai dormir hoje com oito pontos a mais na classificação e muito próximo de somar pelo menos mais 25 amanhã, já que larga na pole-position para o GP da Áustria e é franco favorito à vitória. Ele conseguiu a posição de honra depois de vencer, algumas horas […]

Verstappen: 40 poles, oito nesta temporada

SÃO PAULO (deu até pena) – Max Verstappen vai dormir hoje com oito pontos a mais na classificação e muito próximo de somar pelo menos mais 25 amanhã, já que larga na pole-position para o GP da Áustria e é franco favorito à vitória. Ele conseguiu a posição de honra depois de vencer, algumas horas antes, a minicorrida Sprint no Red Bull Ring, pista caseira de sua equipe.

O que muita gente achou que seria uma tempestade no time austríaco, depois de crises internas e cinco corridas em que Verstappen teve algumas dificuldades – ganhou três delas –, não passou de uma brisa, pelo jeito. Quem apostava numa reviravolta do campeonato, numa decadência rubro-taurina, numa queda abrupta de desempenho e num crescimento dos rivais capaz de arranhar a perspectiva de seu quarto título mundial vai precisar refazer os cálculos.

O domínio de Max na Áustria faz com que o Mundial retroceda algumas casas, voltando ao estado do começo da temporada, de domínio absoluto do holandês. Hoje ele acrescentou às suas estatísticas a décima vitória em Sprints (foram 15 disputadas até hoje na F-1, desde 2021) e a 40ª pole, quinta seguida na pista (incluindo o GP da Estíria de 2021, ano da pandemia em que o circuito recebeu duas etapas). Foi a oitava pole-position no ano, depois de ser batido nas últimas três provas por três equipes diferentes: a Ferrari de Charles Leclerc, em Mônaco, a Mercedes de George Russell, no Canadá, e a McLaren de Lando Norris, na Espanha.

Briga com a McLaren: trabalho nas primeiras voltas da Sprint

Seu sábado começou com uma vitória na Sprint que só não foi mais tranquila porque nas primeiras voltas chegou a perder a liderança para Norris na quinta volta. Ele tinha largado bem, mas o inglês não permitiu que escapasse e aproveitou as três zonas de asa móvel do circuito austríaco para fazer a ultrapassagem. Sua alegria durou duas curvas. Max reagiu, passou de novo e Oscar Piastri, parceiro de Norris, aproveitou para ganhar a segunda posição. Daí até o final das 23 voltas (seriam 24, mas a primeira largada foi abortada pela presença de um fotógrafo em posição perigosa) ele só aumentou a diferença para o australiano, evitando qualquer ataque. Ganhou com 4s616 de diferença. Piastri, Norris, Russell, Carlos Sainz, Lewis Hamilton, Leclerc e Sergio Pérez fecharam o grupo dos oito que marcam pontos.

Foi uma Sprint frenética no início, mas que se estabilizou depois da oitava volta, quando Russell ganhou a posição de Sainz. Depois disso, ninguém mais conseguiu algo relevante e foram todos almoçar já imaginando o que aconteceria algumas horas depois, quando o grid para o GP da Áustria seria definido. Bater Verstappen seria uma tarefa dificílima.

Medalha, medalha, medalha: Piastri, Max e Lando, “pódio” da minicorrida

Com sol e céu azul, o calor aumentou na hora da classificação, com os termômetros batendo nos 31°C, 48°C no asfalto. Na Sprint, a temperatura ficara na casa dos 28°C e 40°C na pista. Com 1min06s154, Verstappen abriu os trabalhos fazendo uma volta bem meia-boca, rapidamente superada pelas duplas da Ferrari, da McLaren e até por Yuki Tsunoda. Hamilton e Russell foram os últimos a saírem dos boxes para suas primeiras voltas e também deixaram o #1 da Red Bull para trás.

A pista parecia um pouco mais lenta do que na véspera, por causa do sol forte. Alguns ajustes seriam necessários, inclusive na pilotagem, e Max, em sua segunda volta rápida, foi lá para cima na tabela de tempos. Quicou na primeira posição, mas caiu para segundo quase imediatamente, ultrapassado por Sainz. O espanhol fez 1min05s263, 0s073 melhor que o holandês. Faltava a McLaren acordar, o que aconteceu com Piastri, tirando Verstappen de onde estava.

A pista ficou cheia nos instantes finais, com 17 carros deixando os boxes. Apenas Sainz, Piastri e Verstappen, os três primeiros, se sentiram seguros para esperar a sessão acabar na sombrinha das garagens.

Alexander Albon, Lance Stroll, Valtteri Bottas, Logan Sargeant e Guanyu Zhou foram os eliminados. Fernando Alonso se safou na bacia das almas, em 15º. Nenhuma novidade na turma do fundão: Williams e Sauber, as duas piores do grid, mais um avulso que a eles se junta quase sempre em classificações; Stroll tem sido habitué.

Os tempos no Q1: menos de 1s do primeiro ao 20º

Um detalhe interessante: de Sainz, o líder, a Zhou, o lanterninha, apenas 0s798 de diferença. Todos os carros dentro de um intervalo de menos de 0s8. Sim, a pista é curta (4.318 m), os tempos tendem a se aproximar, mas não deixa de ser digno de nota. Os piores carros da F-1 de hoje, em alguns circuitos, andam no mesmo segundo que os melhores. A excelência na categoria é um fato.

Isso posto, começou o Q2 com os dois carros da Ferrari saindo dos boxes com pneus usados para suas primeiras voltas. Leclerc virou em 1min05s532 e Sainz foi 0s213 mais lento. Não foram bons tempos. Ambos precisariam de pneus novos. Isso ficou claro na primeira volta de Verstappen: 1min04s577, quase 1s mais rápido. Nos boxes das outras equipes, mecânicos e engenheiros se entreolharam: de onde o cara tirou esse tempo?

A constatação era simples. Seria impossível bater Max se ele acertasse uma volta nos trinques no Q3. Os pneus usados da Ferrari não serviram para nada. Estavam os dois carros fora dos dez primeiros quando Sainz e Leclerc voltaram à pista com pneus novos, para saírem da desconfortável zona da degola. Conseguiram. Carlos foi para a segunda posição. A diferença dele para Max era um acinte: 0s439. Pérez estava 0s615 atrás.

Sádico, Verstappen voltou à pista nos últimos momentos do Q2. Virou 1min04s469 — já que é para humilhar, que seja com estilo. Daniel Ricciardo, Pierre Gasly, Kevin Magnussen, Tsunoda e Alonso caíram na guilhotina da eliminação.

No intervalo, antes do Q3, uma trupe de fiscais entrou em campo com sopradores de ar para tirar do asfalto a brita que ficou espalhada em algumas curvas aqui e ali. Era preciso deixar o palco limpinho para mais um show do dono da casa.

O grid de Spielberg: massacre do holandês

Max fez 1min04s426 em sua primeira saída dos boxes. Norris, que abriu bem a volta, fechou 0s361 atrás. Uma distância intransponível. Pérez, seu companheiro, terminou a primeira bateria de voltas rápidas em oitavo, 1s078 mais lento. Um abismo — resvalando na vergonha absoluta, mesmo. Na segunda volta, o holandês melhorou ainda mais, 1min04s314. Quando Norris fez sua tentativa, ficou a 0s404 de distância. O massacre estava consumado.

Verstappen, Norris, Russell, Sainz, Hamilton, Leclerc, Piastri (que era terceiro, mas teve uma volta cancelada por exceder os limites de pista e reclamou barbaridade), Pérez, Nico Hülkenberg e Esteban Ocon são os dez primeiros no grid.

As diferenças foram grandes, anormais para um traçado tão pequeno. Russell, o terceiro colocado, terminou mais de meio segundo atrás da pole – 0s526. A melhor Ferrari, de Sainz, ficou a 0s537. Pérez, em oitavo, a acachapantes 0s888. É muita coisa.

“On fire”: o carro da Red Bull “acordou” na Áustria

Na corrida, amanhã, Max vai ser assediado nos primeiros metros por Norris, repetindo o que aconteceu na Sprint. Isso se Lando largar bem. E não vai passar disso. Como é um piloto frio, calculista, preciso e absurdamente talentoso, deve segurar a ponta sem se abalar muito para, em poucas voltas, se livrar dos ataques com a asa móvel e ganhar de novo. “O carro estava em chamas”, foi o que disse pelo rádio ao seu engenheiro assim que estacionou no Parque Fechado.

Se mesmo quando as coisas estão complicadas Verstappen vence, em situações como a deste fim de semana, de superioridade técnica inquestionável, achar que alguma coisa diferente vai acontecer é como acreditar no coelhinho da Páscoa. “Creio que hoje mandamos um recado para todo mundo”, falou o piloto, que não é muito afeito a bravatas.

A Páscoa já passou, e não existe coelhinho.