Blog do Flavio Gomes
F-1

FOLIAS NA NEVE

MADONNA DI CAMPIGLIO (com um frio dos diabos) – Well, começou o ano. Este evento da Ferrari, o “Wrooom”, meio que abre a temporada de F-1. Jornalistas do mundo todo são convidados, para um dos grandes jabás do ano. Jabá, para os pouco familizarizados com o “jornalistês”, é como chamamos os pequenos e grandes mimos […]

MADONNA DI CAMPIGLIO (com um frio dos diabos) – Well, começou o ano. Este evento da Ferrari, o “Wrooom”, meio que abre a temporada de F-1. Jornalistas do mundo todo são convidados, para um dos grandes jabás do ano. Jabá, para os pouco familizarizados com o “jornalistês”, é como chamamos os pequenos e grandes mimos que a imprensa recebe de empresas, políticos, organizações e o diabo a quatro. Pode ser um chaveirinho, uma garrafa de uísque, um buquê de flores, um boné, uma camiseta, um carro, uma viagem.

Neste caso aqui, é tudo “de grátis”, como se diz. A passagem de avião, o traslado entre o aeroporto de Milão e a cidadezinha nos Alpes, os almoços, os jantares, os passeios, bolsas e malas da Puma, belíssimos. Uso tudo, inclusive o gorro providencial, porque esqueci o meu em casa.

Trabalha-se um pouco, também, porque os pilotos dão entrevistas e participam de folias na neve. Temos de acompanhar, porque se um dia desses o Schumacher quebrar a perna andando de esqui, é de bom tom estar por perto.

Nós, jornalistas, discutimos muito os jabás. Se devemos aceitá-los ou não. Como tudo, depende. A editora Abril, por exemplo, não aceita convites para nada. Viagens de lançamentos de carros, cortesias de departamentos oficiais de turismo, tudo é recusado. Em compensação, coloca na banca uma revista como a “Veja”, das grandes aberrações editoriais do país. Ou seja, não aceitar jabá não faz de ninguém, automaticamente, um jornalista melhor.

(Cancelei minha assinatura de “Veja” anos atrás. E olha que tenho muitos e grandes amigos trabalhando lá. Gente de talento, que deve sofrer horrores tendo de aceitar as pataquadas da revista e seu tonzinho editorial supostamente chique e liberal, que no fundo é de um conservadorismo medonho, feito para a classe média besta de SP, que mora em Moema, anda de Corolla, xinga o governo e sonega impostos. Um desses meus amigos, outro dia, me contou que levou um esporro da editora de plantão porque, no dia do fechamento, estava sorrindo. Ele tinha acabado de ser contratado. Porra, não pode rir na hora do fechamento! Vão ser pentelhos assim no inferno.)

Voltemos a Madonna. A intenção da Ferrari, ao trazer centezas de repórteres até aqui, não é aliciar ninguém para garantir que a equipe seja menos criticada ao longo de uma temporada de F-1. Trata-se apenas do que se chama de “marketing de relacionamento”. Eu não dou muita importância às discussões filosóficas e acadêmicas sobre o assunto. Venho porque é legal, encontro amigos, faço entrevistas, trago minha mulher (sim, eles pagam tudo para as esposas, também), ela se diverte, e eu nunca faria isso com minha grana se tivesse de pagar, porque não ganho o bastante para passar temporadas em estações de esqui na Europa. E, mesmo se ganhasse, preferiria uma praia.

Bem, aqui estou. Depois de 10 horas de avião e cinco torturantes horas numa van subindo os Alpes. Cheguei com o estômago embrulhado. Enjôo mais em carros do que em navios no meio de tempestades. Amanhã tem entrevista do Felipe Massa, a quem já encontrei por aqui, simpático e atencioso como de costume. Faz frio, 8 abaixo de zero neste momento. Mas o lugar é lindo. Se der, coloco fotos depois.

Agora é hora de jantar. Jabá também tem disciplina. Este ano, mudaram a sede “jornalística” do “Wrooom”. As entrevistas aconteciam até o ano passado no Golf Hotel, onde ficava a salinha de imprensa, e tudo agora passou para o centro de convenções da cidade. Estamos no Hotel Relais des Alpes, cinco minutos a pé, daqui. Debaixo de neve e escorregando no gelo. Tentarei chegar sem quebrar a perna.

Ciao.