Blog do Flavio Gomes
Comes & bebes

Copo vazio

SÃO PAULO (um brinde, anyway) – Leio na “Folha” que o Riviera fechou, depois de 56 anos. Nunca fui de bares, ou de um bar só. É uma das lacunas de minha formação, não ter um bar, aquele bar onde você encontra sempre todo mundo, um copo para brindar. É por causa de minha vida […]

SÃO PAULO (um brinde, anyway) – Leio na “Folha” que o Riviera fechou, depois de 56 anos.

Nunca fui de bares, ou de um bar só. É uma das lacunas de minha formação, não ter um bar, aquele bar onde você encontra sempre todo mundo, um copo para brindar.

É por causa de minha vida de cigano, talvez, ou por nunca ter tido, eu, um bar. Mas alguns, como o Riviera, estiveram sempre lá, à espera de seus clientes assíduos. Sempre achei que um dia seria assíduo do Riviera, um bar de jornalistas, notívagos, boêmios de todos os tipos. O bar da Rê-Bordosa do Angeli, do Belas Artes, de Chico Buarque e, vejam só, Fernando Henrique nos idos dos 70, quando era preciso derrubar alguma coisa, e era nos bares que se derrubava um mundo e se construía outro.

O Riviera era o bar de alguns de meus grandes amigos da “Folha”. Sempre que passava por lá, olhando-o de longe, e isso é quase todo dia, lembrava do Emílio, grande ilustrador do jornal, que com suas linhas retas e vigorosas parecia tentar dar algum sentido ao mundo e às coisas.

Onde anda o Emílio, cara e bola do doutor Sócrates, que me chamava de Flaveta nas nossas peladas de terça à noite?

No Riviera da Paulista com a Consolação, da parede de tijolos de vidro, não há de ser. Mas algum novo Riviera saberá recebê-lo, a ele e a toda a sabedoria dos que escolhem bares como extensões de suas casas e vidas.