Blog do Flavio Gomes
#96, Superclassic, farnéis

CHEGANDO A HORA…

SÃO PAULO (uma hora chega…) – Pouca gente sabe que a estréia do #96 em corridas se deu com outro piloto ao volante, não eu. Foi no dia 19 de abril de 2003, quando começou nossa primeira tentativa de campeonato de antigos, o “Historic Racing Cars”. Era um sábado, e eu estava em Imola. Meu […]

SÃO PAULO (uma hora chega…) – Pouca gente sabe que a estréia do #96 em corridas se deu com outro piloto ao volante, não eu. Foi no dia 19 de abril de 2003, quando começou nossa primeira tentativa de campeonato de antigos, o “Historic Racing Cars”. Era um sábado, e eu estava em Imola. Meu DKW tinha sido batizado em Interlagos no início daquele mês, no dia 6 de abril, fazendo quatro voltas de exibição no autódromo, como preliminar do GP do Brasil de F-1, diante de 70 mil pessoas e ostentando na testeira a frase “STOP BOMBING IRAQ”. Os EUA estavam bombardeando os pobres iraquianos sem dó. Narrei aquelas voltas para o som do autódromo com um equipamento de rádio instalado no capacete. É por isso que até hoje o #96 tem uma anteninha no teto. Finjo que é telemetria…

O piloto foi meu manager Luiz Salomão, que aparece na foto acima e relembra aquele dia em um delicioso texto em seu blog. Fez a pole, mas abandonou com o motor pedindo para explodir. Depois descobriríamos que o marcador de temperatura é que era exagerado…

Em 2004, como o Cesar Carloni estava fazendo uma réplica da Brasília do Ingo e me pediu para usar o #17, acabei trocando meu número para 12. Foram dois anos com o #12, embora o carro tenha usado o #6 numa prova extra-campeonato.

 Foi só em 2006, graças a este blog, que adotei o #96, depois de um concurso para definir a pintura do carro que tinha uma única exigência: o número, para homenagear Norman Casari, que morrera no final de 2005 quando eu estava de férias em Angra dos Reis.

Recebi algumas dezenas de sugestões e acabei escolhendo a pintura que persiste até hoje, criada pelo Bruno Mantovani. É com ela que o #96 vai à pista amanhã pela última vez, pouco mais de cinco anos depois daquela estréia nas mãos do meu “teamate”, companheiro das primeiras aventuras no final dos anos 80, quando colocava meu Belcar 1962 verde na pista em provas da antiga APCAH (Associação dos Pilotos de Carros Antigos e Históricos). 

A gente usava, na época, o número 11, que acabaria sendo adotado na nossa primeira tentativa de carro de corrida. Quando achamos que iria sair um campeonato de antigos, encontramos um sedã 1960 e levamos ao Crispim para desmontar. Arrancamos tudo, pintamos de branco, metemos um 11 enorme que o Saloma fez usando um balde como molde para a bolota, e botamos na pista.

Esse carro nunca chegou a andar direito, acho que uma ou duas corridas em 1989, não lembro ao certo, e aí o autódromo entrou em reforma e acabaram as provas de clássicos. Não andava nada, de qualquer maneira. Ficou anos encostado na casa da minha avó até que arranquei o motor, as rodas e os pneus e dei a carcaça para um cara que nem lembro quem é. Coisas da juventude…

O #11 nem tinha santantonio, apenas um banco de competição e um cinto de segurança mequetrefes, era um negócio meio improvisado, mas eu gostava do carrinho, sempre quis ter um DKW de corrida e ele foi, afinal, o primeiro deles.

Muitos anos se passaram até aquele desfile em Interlagos e o nascimento do #96, agora para correr de verdade, feito para isso, construído a partir de uma quase sucata de Belcar 1963 que estava na garagem dos Klinchen, que na época restauravam minha Caiçara. Já havia uma carroceria velha de carreteira por lá, apontei o dedo para ela e decidi: isso aí vai virar um carro de corrida.

Acabou virando, como se sabe. Mudou de equipe, para a LF, já em 2004, e tornou-se o símbolo de alguma coisa que não sei direito o que é.

Amanhã ele dará suas últimas aceleradas, depois de mais de 50 corridas (nunca fiz as estatísticas do #96, falha grave…) sem grandes resultados, mas com muita história para contar. Certamente ficarei emocionado ao pilotá-lo pela última vez, e mais ainda ao olhar para as arquibancadas e ver os blogueiros acenando em despedida. Toda despedida é meio dolorosa.

Estarei meio arredio, com certeza, fico muito tímido quando noto que tem um monte de gente em algum lugar para ver o que estou fazendo, e já peço desculpas por eventuais sumiços entre a classificação e a corrida. Piloto precisa se concentrar, afinal… Pode ser que muita gente queira falar comigo e eu não consiga falar com todo mundo, mas tenho certeza que todos compreenderão.

De mais a mais, a estrela da festa não sou eu, é o #96 velho de guerra, que será muito bem tratado na sua aposentadoria, isso eu prometo.