Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

BUUUUUUUU!!!!!

PEQUIM (hoje já é amanhã) – Voltei agora há pouco do Estádio dos Trabalhadores. Fui ver Argentina x Sérvia, futebol masculino. Já tinha notado ontem, no jogo das meninas, que o público chinês se comporta de maneira estranha em algumas situações. Os caras que carregam a maca, por exemplo, foram muito aplaudidos em suas três ou […]

PEQUIM (hoje já é amanhã) – Voltei agora há pouco do Estádio dos Trabalhadores. Fui ver Argentina x Sérvia, futebol masculino. Já tinha notado ontem, no jogo das meninas, que o público chinês se comporta de maneira estranha em algumas situações. Os caras que carregam a maca, por exemplo, foram muito aplaudidos em suas três ou quatro intervenções. E o locutor do estádio também, quando anunciou que os acréscimos seriam de três minutos.

O estádio estava bem cheio hoje: 53 mil pessoas. Mas não havia muvuca nenhuma do lado de fora. Para todo o sempre será um mistério para mim a zona que são os jogos de futebol no Brasil. Qualquer jogo. Qualquer joguinho de dez mil pessoas pára o trânsito, tem fila na bilheteria e não dá para entrar no banheiro.

O Estádio dos Trabalhadores não tem estacionamento subterrâneo, nem estação do metrô que desemboca no meio do gramado. Mas recebe (e se despede de) 53 mil pessoas com um sossego de irritar. Juro que procurei uma fila. Ou algum tumulto perto dos portões. Nada. Para não deixar passar o evento em branco, saí de dentro do campo e atravessei no meio do público que deixava as arquibancadas puxando minha mochila, o que quase levou um argentino careca com cara de lutador de jiu-jítsu ao solo. Ele deu um tropeção de respeito. “Atropeçou”, como eu dizia quando era pequeno. E ainda me pediu desculpas.

O técnico da Argentina deixou os caras bons do time no banco: Riquelme, Aguero e Messi. Colocou um bando de reservas em campo e mesmo assim a vitória foi tranquila, 2 a 0, e ainda perderam um pênalti. O mais interessante do jogo acabou mesmo sendo a torcida. Desde o primeiro tempo eu notava gritos estridentes da chinesada: “Méxi, Méxi, Méxi!”. Queriam o Messi de qualquer jeito. Quando o treinador alvianil de longos cabelos fez a primeira alteração, não era o Méxi, mas outro jogador qualquer.

Aí o cara despertou a ira da chinesada. Cada vez que a Argentina tocava na bola era um “buuuuu” ensurdecedor. A bola passava para os pés de algum sérvio, e as vaias viravam aplausos imediatamente. La pelota voltava para os argentinos, mais vaias. Lateral para os sérvios, aplausos. E quando a bola não estava nem com um, nem com outro, voltava o coro: “Méxi, Méxi, Méxi”.

E foi assim até o último minuto. Encheu bem o saco, para dizer a verdade. O insensível do treineiro alvianil não quis nem saber e não colocou o Méxi, nem o Riquelme, nem o Arguero. No fundo, não precisava. Mas podia fazer pelo menos um agrado àquele monte de gente. Para eles pararem de gritar.

Agora a Argentina pega a Holanda. O Brasil ganhou da China e enfrenta Camarões, carrasco olímpico de outros carnavais. E eu publico mais uma foto minha, o que é meio ridículo, mas foi a única que se salvou deste evento, porque não fui eu que tirei. As demais ficaram muito ruins. Para fotografar futebol precisa daquelas lentes enormes que custam o preço de um carro.

Eu prefiro carros a lentes.