Blog do Flavio Gomes
F-1

O ENTORTADOR DE COLHERES

SÃO PAULO (entorta mesmo) – Uri Geller apareceu pela primeira vez na minha vida, e na de milhões de brasileiros, lá por 1976, no “Fantástico”. Eu tinha 12 anos e não entendia direito qual a utilidade de se entortar colheres e garfos com o poder da mente, esfregando o dedo no metal. Chaves ele também […]

SÃO PAULO (entorta mesmo) – Uri Geller apareceu pela primeira vez na minha vida, e na de milhões de brasileiros, lá por 1976, no “Fantástico”. Eu tinha 12 anos e não entendia direito qual a utilidade de se entortar colheres e garfos com o poder da mente, esfregando o dedo no metal. Chaves ele também entortava. Mandavam a gente colocar uma colher sobre o aparelho de TV e garantiam que ela só sairia dali torta. Minha mãe nunca arriscou, justamente por não entender a utilidade de uma colher torta.

Eu continuo não entendendo. Três décadas se passaram e Uri Geller passou esse tempo todo por aí, entortando talheres e chaves e, ao que parece, vivendo disso.

É uma atividade tão legítima e honesta quanto qualquer outra. Pode não ser útil, mas está cheio de gente ganhando dinheiro por aí fazendo coisas tão inúteis quanto entortar talheres. Aquele pintor pernambucano Romero Britto, por exemplo, que mora em Miami e também fatura algum estampando biquínis. Ou o Luciano Huck, com seu programa de TV. Ou eu, fazendo um blog.

Por conta da inutilidade de sua atividade, porém, sempre achei que Uri Geller era apenas um picareta a mais, até o dia em que vi um vídeo de uma matéria antiga na TV Globo, que infelizmente não consigo encontrar em lugar algum. Uri Geller fazia mais uma de suas visitas ao Brasil, país que curiosamente se encantou com o entortador de colheres, e propôs um desafio à repórter, que era conhecida e não se prestaria a uma picaretagem do sujeito.

Ele pediu que a moça pegasse uma folha de papel, fosse a um canto da sala e, escondida, desenhasse alguma coisa. Nada muito sofisticado, apenas um desenho básico. Ela o fez, dobrou o papel e colocou no bolso, ou escondeu em algum lugar, não lembro direito. Uri Geller pegou um lápis, ou uma caneta, outra folha de papel, se concentrou por uns instantes e fez um desenho rapidamente. Não havia cortes de câmera, e nem motivos para que a produção se envolvesse numa fraude besta, porque qualquer que fosse o resultado, a matéria estaria garantida. Se ele fizesse um desenho igual, bingo!, o cara era foda, mesmo. Se fizesse diferente, pau nele.

E não é que o Uri Geller desenhou um peixinho idêntico ao da repórter?

Depois de ver esse vídeo, deixei de achar que o Uri Geller é um picareta, embora continue não entendendo por que resolveu entortar colheres para provar que é um fodão, em vez de, sei lá, consertar carburadores ou vedar vazamentos a distância. Seria mais útil e lucrativo.

Por isso não me espantei muito quando soube que Lewis Hamilton andou telefonando para o Uri Geller por estes dias. Ele tem duas habilidades fartamente comprovadas, a de entortar colheres e copiar desenhos por telepatia, o que pode ser útil, por exemplo, se funcionar também com barras de suspensão ou rascunhos de estratégia de corrida.

Sei lá, nessas horas vale tudo.