Blog do Flavio Gomes
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SÃO PAULO (bella roba) – No dia 31 de julho, o Victor Martins publicou no Grande Prêmio a notícia de que Cacá Bueno tinha assinado com a Red Bull, e que iria correr defendendo a marca na equipe que fosse escolhida para a temporada 2009 da Estoque. E já antecipava que deveria ser a WA […]

SÃO PAULO (bella roba) – No dia 31 de julho, o Victor Martins publicou no Grande Prêmio a notícia de que Cacá Bueno tinha assinado com a Red Bull, e que iria correr defendendo a marca na equipe que fosse escolhida para a temporada 2009 da Estoque. E já antecipava que deveria ser a WA Mattheis. Dois dias depois, em Interlagos, Cacá Bueno deu um chilique na entrevista coletiva pós-corrida, dizendo que era tudo mentira, “falta de respeito”, “coisa de jornalista sem fundamento”. E avisou a todos ali presentes que iria processar o Victor e o Grande Prêmio — que, no caso, é meu site; portanto, o rojão iria estourar aqui.

O Bruno Vicaria estava cobrindo essa prova, se não me engano, e me telefonou, claro, para dizer que o Cacá Bueno iria me processar. Perguntei por quê, e ele explicou que era por causa da notícia que antecipáramos, sobre a Red Bull. Queria saber o que fazer. Eu disse para não fazer nada, primeiro porque considerava o assunto pouco importante, e depois porque a notícia era verdadeira, e portanto ele não iria processar ninguém. Sempre me dei bem com o rapaz, nas poucas vezes que nos falamos e nos encontramos a gentileza foi mútua, conheço bem a Letícia, sua irmã, e achei que seu piti não era relevante para os leitores do site, apenas uma babaquice a mais num mundo tão cheio de bobagens, e para a maioria delas não vale a pena dar muita atenção.

Foi o que fizemos, então: nada.

Hoje a Red Bull confirmou que Cacá Bueno será seu piloto em 2009 na WA Mattheis, exatamente como Martins escreveu (aliás, se vale a sugestão, postem no blog do Victor o que postarem aqui, também; ele vai ficar feliz). A favor da empresa, diga-se que ela foi ouvida na época e não ameaçou abrir processo algum, disse apenas que estava concentrada em 2008 e que não tinha nada a confirmar para a temporada seguinte. Quanto ao piloto, é óbvio que não processou ninguém, fez apenas papel de bobo diante dos jornalistas que cobrem sua categoria — porque a notícia se confirmou, e nunca vi alguém ser processado por dizer a verdade.

Cacá brinca de jornalista e comentarista, também, nas transmissões de F-1 da Rádio Bandeirantes, e algumas pessoas já me disseram que ele passa boa parte do tempo dizendo que “nessa hora da manhã o negócio é tomar um Red Bull pra ficar acordado” — com variações sobre o tema, dependendo do horário da corrida; nas provas de madrugada, a sugestão deve ser reforçada. Não me importo, já trabalhei na Bandeirantes, não trabalho mais, e não escuto as transmissões. São os ouvintes da emissora que têm de achar alguma coisa, não eu.

Mas como ele tem uma atuação na mídia, talvez possa extrair algumas lições do episódio “vou-processar-o-cara-que-descobriu-onde-eu-vou-correr”. A primeira delas, sobre a natureza de algo chamado “notícia”, o sentido de algo chamado “apuração” e o risco de misturar propaganda com jornalismo. Para sugerir que o ouvinte tome uma latinha de Red Bull, uma “não-notícia”, o que chamamos de “jabá”, não é necessário apurar nada, exceto o saldo na conta no fim do mês. Nós, no Grande Prêmio, fazemos jornalismo, não publicidade. Demos um furo sobre Cacá e a Red Bull, e temos a Red Bull como nossa anunciante. Por isso, corremos o risco de desagradar alguém e perder um contrato que não é nada mau. Isso é jornalismo; deu para entender, ou quer que desenhe?

O assunto, como disse acima, me interessa muito pouco. Se Cacá Bueno acha que as pessoas nas ruas estão comentando sua contratação pela Red Bull, deve viver em outro planeta. Esta é a segunda lição: compreender o que é relevante para a maioria dos mortais. As pessoas normais não se importam muito com a Estoque, nem com Cacá Bueno, é tema que diz respeito apenas ao mundinho do automobilismo, e olhe lá. Por isso que seu chilique “vou-processar-o-cara-que-descobriu-onde-eu-vou-correr” não teve a menor repercussão em lugar algum, nem mesmo dentro da minha empresa, que é minúscula, assim como sua saída do time do laboratório para o time do energético não é algo que vá provocar manifestações de júbilo na fábrica das latinhas, ou de revolta na fábrica de comprimidos.

Para o Grande Prêmio, o destino de Bueno-filho é apenas mais uma notícia de uma categoria que cobrimos, e como toda notícia deve ser dada, com o peso que acharmos melhor — no seu caso, proporcional ao fato de ele ser um bicampeão, bom piloto e astro das transmissões da TV oficial. Como era apenas mais uma a notícia antecipada de onde ele iria correr.

E se acho isso tudo tão pouco importante, por que escrevi tanto sobre esse assunto? É o que deve estar se perguntando o atento blogueiro…. Bem, fi-lo justamente para mostrar como é fácil, e corriqueiro, desperdiçar tempo, saliva, energia e fosfato com coisas pouco importantes. Nossas vidas são muito assim, um festival de desperdícios. Se Cacá Bueno, em vez de pensar em me processar, agisse para acionar e questionar a CBA, por exemplo, talvez soubéssemos hoje qual a substância encontrada no antidoping de seu colega de competição. Poderia também empreender maior esforço para discutir as normas de construção das jabirongas que dirige, ou ainda contestar a segurança das pistas caindo aos pedaços onde corre.

Isso, porém, tomaria mais tempo e daria mais trabalho do que sair estrilando e dizendo que vai processar esse ou aquele, algo simples, rápido e descartável.

Da mesma forma, talvez alguém ache que eu não deveria me preocupar muito com Cacá Bueno e seus acessos de estrelismo, e poderia usar meu tempo para escrever alguma coisa mais útil ou interessante. Quem pensa assim, provavelmente tem razão. Mas não se incomodem. Não perdi muito tempo, afinal. Escrevo rápido.