Blog do Flavio Gomes
F-1

COMO RECOMEÇAR?

SÃO PAULO (que sol é esse?) – Sempre tem como começar de novo. Sempre. É o que a F-1 precisa fazer, se quiser sobreviver. Porque começar a temporada com 18 carrinhos vai ser patético. Autódromos monstruosos, reluzentes e luxuosíssimos, sem carros para correr neles… Nesse cenário, as idéias do espevitado Mosley são cada vez menos […]

SÃO PAULO (que sol é esse?) – Sempre tem como começar de novo. Sempre. É o que a F-1 precisa fazer, se quiser sobreviver. Porque começar a temporada com 18 carrinhos vai ser patético. Autódromos monstruosos, reluzentes e luxuosíssimos, sem carros para correr neles… Nesse cenário, as idéias do espevitado Mosley são cada vez menos excêntricas, a do motor único inclusive.

Que pode ser motor-padrão, também — que se deixe quem quiser fazer o seu fazê-lo. Era assim nos anos 70 e 80, com Renault, Ferrari, BMW, Porsche. Mas havia uma base, uma espinha dorsal, a Cosworth (que entrou na briga de novo, pelo jeito), a quem qualquer time independente podia recorrer para montar seu carro. E tinha equipe saindo pelo ladrão.

A F-1 perdeu o freio do desenvolvimento ilimitado quando o dinheiro começou a jorrar sem controle, na euforia da grana fácil e farta. Sem exagero algum, o valor do atual motorhome da McLaren é mais ou menos o orçamento inteiro de um time médio de 20 anos atrás.

Tamanhas exigências de verbas afastaram da competição os… competidores! E entraram as corporações. Não se faz um campeonato de futebol apenas com estádios. Não se faz um campeonato de corridas apenas com autódromos. São necessários times, jogadores, equipes, pilotos. O erro básico dessa F-1 perdulária foi esse: dar atenção ao supérfluo (autódromos, motorhomes, jantares, apresentações, festas, uniformes, camarotes, paddock-clubs, VIPs, catracas eletrônicas, pulseirinhas) e esquecer o essencial (carros, mecânicos, equipes, torcedores, paixão por corridas).

A F-1, como o mundo em geral, ficou babaca. É algo que alguém como eu, que passou 18 anos viajando atrás de cada GP, começou a perceber há uns oito, dez anos. Uma diferença radical no comportamento de todos, no relacionamento com as equipes, na montagem do esquemão de coletivas, almoços, acessos, risadas. O marco definitivo dessa transição foi quando Eddie Jordan, com quem a gente se sentava para contar piadas e falar de corridas, vendeu sua equipe. Quando sai da turma um cara como o Eddie e entram almofadinhas como Nick Fry, é porque a turma acabou.

Ficaram todos babacas, viraram todos funcionários de grandes empresas, participantes do big business, e foram embora aqueles que, de fato, amavam o automobilismo.

E como recomeçar? Trazendo de volta à vida as equipes. Algumas delas, hoje, existem na GP2, por exemplo. Criando um regulamento que reduza o abismo entre corporações milionárias e times montados na garagem. Limitando o orçamento (olha o Max Mosley aí de novo), cortando as frescuras, correndo mais na Europa, em autódromos mais simples e próximos, deixando de lado essa palhaçada de correr em oásis deprimentes como Abu Dhabi, Bahrein e Cingapura, tentando reencontrar algo fundamental para que esse negócio continue a existir: paixão e simplicidade.

Parece ridículo falar em paixão e simplicidade nestes tempos de debêntures e derivativos, mas há certas coisas que só apaixonados conseguem fazer. E se eles estão recolhidos, amuados, vivendo de lembranças, as coisas não acontecem. Simples assim.