Blog do Flavio Gomes
#69

O VÍDEO DO ANO

GUARUJÁ (e agora, José?) – OK. Não chegamos aos 500 votos em cada categoria do Best Blogs Brazil, mas reconheço o esforço da blogaiada, que colocou esta humilde página em primeiro lugar nas duas. Nada mau para um domingo. Vamos ver se durante a semana as posições se mantêm… E para mostrar minha enorme generosidade, […]

GUARUJÁ (e agora, José?) – OK. Não chegamos aos 500 votos em cada categoria do Best Blogs Brazil, mas reconheço o esforço da blogaiada, que colocou esta humilde página em primeiro lugar nas duas. Nada mau para um domingo. Vamos ver se durante a semana as posições se mantêm…

E para mostrar minha enorme generosidade, vou colocar o vídeo prometido no ar, mesmo sabendo das consequências que poderá ter para a carreira deste piloto-jornalista.

Mas, antes de assisti-lo, é importante que vocês saibam o que se passou dentro daquele carro naqueles segundos fatídicos.

Era a largada da segunda prova da rodada dupla da Superclassic, algumas semanas atrás. A última corrida do ano, terceira do Meianov.

As imagens foram gravadas de dentro do Fusca AP do piloto Paulo Souza — que é da minha equipe, diga-se. Estávamos no pelotão do fundo. Eu, porque me classifiquei lá atrás, mesmo. O Paulo, porque não treinou na sexta e teve de largar nas últimas filas.

A largada na Superclassic, neste ano, foi lançada em todas as provas. No sábado, deixei o pelotão da frente descolar demais. No domingo, ficamos mais juntos. Larguei bem. O Meianov aparece à esquerda, no vídeo. Ganhei a posição de um Fusca e consegui deixar os Chevettes para trás.

O S do Senna foi contornado em trajetória pouco confortável, mas é normal, em largadas. A gente vai se defendendo e monitorando os outros pelos espelhos, procurando espaços e fugindo das possíveis confusões. Lá de trás, com carros fortíssimos, o Nenê (Topolino) e o Magnusson (Bianco) começam a atropelar todo mundo já a partir do início da Reta Oposta.

Desci a reta por dentro, em posição de defesa de novo, com o Puma amarelo do Furrier babando atrás de mim, e tendo de controlar os Chevettes à minha direita. No Lago, dei uma esparramada porque não tinha tangência, mas foi algo razoavelmente pensado, para manter os Chevettes atrás. O Furrier passou e retomei o traçado na subida para o Laranjinha na frente dos representantes ianques da GM.

E o Paulo chegando com seu Fusca prateado…

A freada para o S é complicada, quando três carros chegam juntos para fazer a curva. Foi o que aconteceu. Eu estava atrás do Fusca do Fernando, que seria meu grande adversário na corrida. Abri um pouco para a esquerda para tentar fazer a curva direito, e o Paulo colocou de lado.

Naquelas frações de segundo, pensei em muita coisa. Pensei nos operários da fábrica de Togliatti, que incansáveis montaram o Meianov sob os rigores do inverno soviético, com todo carinho e zelo. Nas doses de vodca que beberam na noite em que o Meianov saiu da linha de montagem, nas tavernas escuras e enfumaçadas das redondezas, depois de mais um dia duro de trabalho. Pensei nas Elenas, Olgas, Irinas, Valentinas e Tatianas, que enquanto o Meianov era montado, esperavam seus maridos acordadas, prontas para lhes esquentar um prato de sopa e lhes dar uma noite de amor. Pensei nos czares abastados e nos revolucionários bolcheviques que tombaram em outubro de 1917 para colocar o povo no poder.

A curva chegando, e eu pensando em tudo isso. Ao meu lado, um carro alemão. Lembrei-me do cerco a Leningrado, da crueldade do exército de Hitler, dos 900 dias em que a cidade ficou sitiada. Um milhão de mortos, muitos deles de fome. À frente, outro carro alemão. Eu estava cercado de alemães! O Meianov, naquele momento, era Leningrado! Carregava dentro daquele carro milhões de almas subjugadas pelas tropas comandadas pelo marechal Ritter von Leeb, e precisava resistir!

E a curva chegando, e o cerco aumentando. A história se repetiria, mais de 60 anos depois? Não, eu não permitiria jamais! Então, parti para a contra-ofensiva. E o Meianov saiu da trincheira e…

Bem, de verdade verdadeira, nem vi o Paulo. Vi que tinha um buraco por dentro, entrei e acabei passando os dois.

Mas estava pensando em tudo aquilo, juro.