Blog do Flavio Gomes
Gira mondo

GIRA MONDO, GIRA

SÃO PAULO (mundo doido) – Quase todos os países que boiam sobre o petróleo são riquíssimos. A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait, o Bahrein, são todas nações prósperas, exageradas, cintilantes. O Ocidente admira Abu Dhabi e Dubai, baba por seus prédios espelhados, suas ilhas artificiais, campos de golfe, autódromos, estádios, verdadeiros oásis construídos no […]

SÃO PAULO (mundo doido) – Quase todos os países que boiam sobre o petróleo são riquíssimos. A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait, o Bahrein, são todas nações prósperas, exageradas, cintilantes. O Ocidente admira Abu Dhabi e Dubai, baba por seus prédios espelhados, suas ilhas artificiais, campos de golfe, autódromos, estádios, verdadeiros oásis construídos no deserto graças à fartura do ouro negro (bonito, isso).

São países comandados há séculos por dinastias de xeques simpáticos à política externa norte-americana, e ninguém se importa que por aquelas bandas o poder seja exercido indefinidamente por famílias que estão cagando para as camadas mais pobres de suas populações, gente que brinca com a economia mundial, que financia guerras, que se aproveita da miséria alheia. Não fazem eleições, desprezam a democracia, mas rezam pela cartilha do capitalismo, compram Mercedes e Ferraris, banham suas torneiras de ouro, então são aceitos de bom grado, porque são chiquérrimos.

Aí Hugo Chávez convoca a população da Venezuela para saber se ela apoia a possibilidade de reeleições seguidas, ganha o plebiscito, e a mídia ocidental se ergue em seus tamancos contra o índio que pretende se eternizar no poder, torce o nariz, acha sua farda verde-oliva um horror.

Em Dubai, ficar no poder por séculos pode. Na Venezuela, não.

Sou contra as pretensões chavistas de continuísmo, acho que a alternância do poder é algo sadio quando acontece sob regras claras e democráticas, mas não moro na Venezuela, não voto lá, e o mínimo que qualquer cidadão de qualquer país tem obrigação é de respeitar a vontade popular de uma nação soberana.

Depois, a realidade da Venezuela precisa ser entendida não sob a ideia que os EUA têm de democracia, mas procurando compreender um pouco sua história muito particular. É um país que poderia ser tão esfuziante quanto qualquer emirado árabe cheio de Lamborghinis nas ruas, com a vantagem de ter um clima mais civilizado e belezas naturais incomparáveis. Só que é pobre de dar dó, porque suas elites tomaram o poder e suas riquezas de assalto por décadas, delas desfrutaram à vontade, até passarem o bastão, pelo voto popular, a um cara que não se importa com elas, porque tem coisa mais séria com que se preocupar.

Não entendo a grita contra Chávez, que encontra eco na mídia neoliberal do Brasil, que por sua vez influencia barbaramente a classe média que se informa exclusivamente por ela — é, estou falando da “Veja”, de Boris Casoy, de José Nêumane Pinto, do “Estadão”, da direita enrustida que também não engole Lula e seus incríveis índices de aprovação.

A esses, sugiro a leitura deste artigo de Emir Sader, mesmo sabendo que poucos lerão (a indicação é do Luiz Alberto Pandini). Chávez é o legítimo presidente eleito da Venezuela, e tem o direito de consultar a população de seu país quantas vezes quiser sobre o tipo de nação que ela quer para o futuro.

Se os resultados não combinam com o que o “Estadão” e a “Veja” pensam, paciência. Assim é a democracia, não?