São países comandados há séculos por dinastias de xeques simpáticos à política externa norte-americana, e ninguém se importa que por aquelas bandas o poder seja exercido indefinidamente por famílias que estão cagando para as camadas mais pobres de suas populações, gente que brinca com a economia mundial, que financia guerras, que se aproveita da miséria alheia. Não fazem eleições, desprezam a democracia, mas rezam pela cartilha do capitalismo, compram Mercedes e Ferraris, banham suas torneiras de ouro, então são aceitos de bom grado, porque são chiquérrimos.
Aí Hugo Chávez convoca a população da Venezuela para saber se ela apoia a possibilidade de reeleições seguidas, ganha o plebiscito, e a mídia ocidental se ergue em seus tamancos contra o índio que pretende se eternizar no poder, torce o nariz, acha sua farda verde-oliva um horror.
Em Dubai, ficar no poder por séculos pode. Na Venezuela, não.
Sou contra as pretensões chavistas de continuísmo, acho que a alternância do poder é algo sadio quando acontece sob regras claras e democráticas, mas não moro na Venezuela, não voto lá, e o mínimo que qualquer cidadão de qualquer país tem obrigação é de respeitar a vontade popular de uma nação soberana.
Depois, a realidade da Venezuela precisa ser entendida não sob a ideia que os EUA têm de democracia, mas procurando compreender um pouco sua história muito particular. É um país que poderia ser tão esfuziante quanto qualquer emirado árabe cheio de Lamborghinis nas ruas, com a vantagem de ter um clima mais civilizado e belezas naturais incomparáveis. Só que é pobre de dar dó, porque suas elites tomaram o poder e suas riquezas de assalto por décadas, delas desfrutaram à vontade, até passarem o bastão, pelo voto popular, a um cara que não se importa com elas, porque tem coisa mais séria com que se preocupar.
Não entendo a grita contra Chávez, que encontra eco na mídia neoliberal do Brasil, que por sua vez influencia barbaramente a classe média que se informa exclusivamente por ela — é, estou falando da “Veja”, de Boris Casoy, de José Nêumane Pinto, do “Estadão”, da direita enrustida que também não engole Lula e seus incríveis índices de aprovação.
A esses, sugiro a leitura deste artigo de Emir Sader, mesmo sabendo que poucos lerão (a indicação é do Luiz Alberto Pandini). Chávez é o legítimo presidente eleito da Venezuela, e tem o direito de consultar a população de seu país quantas vezes quiser sobre o tipo de nação que ela quer para o futuro.
Se os resultados não combinam com o que o “Estadão” e a “Veja” pensam, paciência. Assim é a democracia, não?