Blog do Flavio Gomes
F-1

MELBOURNETES (9)

SÃO PAULO (passando a régua) – Café tomado, jornais lidos, declarações registradas, vamos a alguns pensamentos imperfeitos sobre a madrugada australiana, sem hierarquia de importância na ordem das notinhas… – A Toyota, punida porque suas asas estavam mais flexíveis do que recomendam os bons costumes, aceitou quase calada a decisão da FIA. Emitiu comunicado dizendo […]

SÃO PAULO (passando a régua) – Café tomado, jornais lidos, declarações registradas, vamos a alguns pensamentos imperfeitos sobre a madrugada australiana, sem hierarquia de importância na ordem das notinhas…

– A Toyota, punida porque suas asas estavam mais flexíveis do que recomendam os bons costumes, aceitou quase calada a decisão da FIA. Emitiu comunicado dizendo que testou as peças, achava que estava tudo bem, mas que será mais rigorosa da próxima vez. Fosse eu assessor de imprensa da equipe, não faria tantos rodeios e escreveria: “A gente achou que ninguém ia perceber, mas perceberam. Nos fodemos”.

– Vettel teve problemas mecânicos num treino, errou em outro, andou pouquíssimo e, na classificação, enfiou seu Red Bull na terceira posição, sem difusor, sem asa flexível, sem nada. Palpite deste que vos fala? Vai ganhar corridas neste ano. Assim que a Red Bull tiver um difusor igual ao do trio BTW (by the way, para quem não sabe, Brawn-Toyota-Williams).

– Falando no “Trio Difusor”, está na cara que é esse pequeno túnel sob o assoalho, que acelera a passagem de ar por baixo do carro, o maior segredo da Brawn GP. Além de o carro ser muito bem concebido, claro. A redução da pressão aerodinâmica pretendida pela FIA com o fim das asinhas, asetas e asonas foi quase anulada pelos difusores brawnianos, toyotenses e williâmicos. A diferença para os outros carros é brutal. É como se esses três times usassem os níveis de “downforce” do ano passado.

– Agora, das duas uma: ou a FIA proíbe, ou as outras copiam. Acho que as outras vão copiar. Max Mosley está adorando ver um time independente enrabar as grandes montadoras e seus desafetos, como Ron Dennis e Flavio Briatore. Só que até copiarem, o trio BTW vai seguir na frente. Acho que só na Europa os outros vão conseguir fazer algo. Embora a urgência seja evidente. Que ninguém se espante se na Malásia já aparecer algo parecido. Ou vocês acham que os túneis de vento da Ferrari e da McLaren estão de férias?

– Estamos falando muito da Brawn, de Barrichello, de difusores, mas não devemos nos esquecer de Jenson Button. Este, a exemplo do brasileiro, estava morto e enterrado. Na Inglaterra, então, amargou o ostracismo mais cruel que um atleta pode viver em 2007 e 2008, diante do tsunami Hamilton. Passou os últimos anos apagadíssimo na Honda, assim como Rubens. Um pouco por desmotivação, um pouco pela ruindade do carro, um pouco pela falta de perspectivas para o futuro, um pouco pelo sucesso do compatriota. Mas Jenson é bom piloto. Quando a BAR teve um carro decente, andou na frente de muita gente, Schumacher inclusive. Hoje, fez uma pole com autoridade e competência. Foi a quarta de sua carreira. Se largar bem, pode ganhar a corrida.

– Aliás, qualquer resultado que não for uma dobradinha da Brawn amanhã será uma surpresa. Um mês atrás alguém escreveria isso?

– Isso porque na classificação, o domínio brawniano foi humilhante para a concorrência. Barrichello e Button fizeram 1-2 nas três partes do treino, com Rubens à frente nas duas primeiras e fechando a melhor volta do fim de semana no Q2, com 1min24s783. Um espanto. Segundo no grid, ele volta à primeira fila depois de um tempão. A última fora no GP do Brasil de 2004, quando fez a pole em Interlagos com a Ferrari

– Button, Barrichello, Brawn, Brackley, Branson. E boa, muito boa a Brawn GP. Um time B, mas classe A.

– Esse KERS só atrapalha. É uma das maiores bobagens inventadas pela F-1 nos últimos anos. Kubica, sem, larga em quarto. Heidfeld, com, em 11º. A Renault, com, ficou lá atrás no grid. A Ferrari, com, idem. A Brawn, sem, lá na frente. Neguinho vai acabar jogando esse negócio no lixo.

– Falando em Renault, Nelsinho Piquet teve mais uma de suas atuações horrorosas. No fim do dia, disse que não gosta do circuito de Melbourne. O problema será quando a Renault não gostar mais dele.

– E a Ferrari… Massa disse que seria bom ficar entre os cinco primeiros, essa era a expectativa do time. Terminou em sétimo. Cinco primeiros? Como se vê, o time italiano começa a temporada sem grandes ambições. Porque, a exemplo de McLaren e Renault, foi atropelada pela criatividade das equipes menores num ano em que, mais do que dinheiro, era preciso ter gente com cabeça boa para encarar um regulamento totalmente novo.