Blog do Flavio Gomes
F-1

SEPANGADAS (9)

SÃO PAULO (à tarde, Canindé) – Como só teve meia corrida, estou com vontade de escrever metade do que costumo, também. E na base dos pitaquinhos sem ordem de importância. Mas vá lá, até que esse GP da Malásia teve bastante coisa. – Estou tentando lembrar quando foi que um GP terminou com menos de 75% […]

SÃO PAULO (à tarde, Canindé) – Como só teve meia corrida, estou com vontade de escrever metade do que costumo, também. E na base dos pitaquinhos sem ordem de importância. Mas vá lá, até que esse GP da Malásia teve bastante coisa.

– Estou tentando lembrar quando foi que um GP terminou com menos de 75% de seu percurso original, valendo apenas a metade dos pontos. Acho que foi em 1991 na Austrália, aquela corrida de 14 voltas que teve Senna, já campeão uma prova antes, em Suzuka, declarado vencedor. Choveu barbaridade.

– Fosse um jogo de futebol, eu diria que o resultado da contenda foi justo. Button pode até ter largado mal, mas depois se recuperou, ganhou a posição de Little Nico nos boxes e não se atrapalhou com as escolhas de pneus. Está guiando com segurança e velocidade. Duas provas, duas vitórias. Tivesse sido adotado o sistema do Zé das Medalhas, estaria bem na fita.

– O mesmo vale para o segundo lugar de Nick “Emo” Heidfeld. Ele não tem brilhado nos treinos livres, nem nas classificações, nem se destacou nos testes de pré-temporada. Mas o rapaz, em condições adversas, consegue alguns resultados surpreendentes. É só lhe dar uma chance que pinga um pódio. O mais impressionante de Heidfeld nesta prova foi que ele parou uma única vez nos boxes. Button, Glock e Trulli fizeram três pit stops, Webber e Rosberg fizeram quatro… O alemão sabe enxergar uma corrida e é minimalista, não perde tempo com bobagens. Choveu, coloca pneu de chuva. Só. Sem apostas muito arriscadas.

– Rosberguinho merecia algo mais do que meio ponto do oitavo lugar, pela largada e pelo bom domínio da prova nas primeiras voltas. Mas quando chegou a água, se perdeu.

– Glock foi muito esperto. O único que acertou na mosca que no primeiro sinal de chuva o negócio era colocar intermediários e, depois, os de chuva forte. Se é verdade que largou muito mal, recuperou-se com os intermediários virando tempos 7 ou 8 segundos melhores que a concorrência até a chuva apertar. Pódio justo, também.

– Já a Ferrari… Duvido que Raikkonen tenha pedido os pneus de chuva forte. Ele pode até ver as nuvens negras no horizonte, mas não tem, dentro do carro, condições de avaliar se vai chover ou não, muito menos qual será a intensidade do aguaceiro. O que passa para a equipe pelo rádio é o relatório do que está vendo na pista. E, no momento de seu primeiro pit stop, o asfalto estava seco como farinha de rosca. Aí os caras metem uns pneus que nem no meu Lada eu colocaria, especiais para dilúvios, tsunamis e furacões. Enquanto isso, quem parava na mesma hora colocava pneus slicks. Kimi foi 20s mais lento do que todos por quatro voltas. Alguma coisa estava claramente errada, ali. Essa coisa era a Ferrari. Duas corridas sem pontos, última colocada no Mundial. Belo início de temporada.

– Detalhe: a melhor volta da prova, 1min36s641, foi anotada por Button. Sabe quando? Na 18ª. Foi exatamente quando Raikkonen parou nos boxes para colocar pneus de tempestade. No momento em que o piloto de outra equipe fazia a volta mais rápida da corrida. Estava molhado?

– Kovalainen me lembrou o Michael Andretti, hoje. A gente olha o cara na largada e faz um bolão não para adivinhar quantas voltas vai dar, mas quantos metros andará. Já Hamilton fez boa corrida, como fizera na Austrália. Com o tanque de guerra que a McLaren tem, chegar nos pontos está bom demais.

– Los brasileños… Barrichello largou bem e poderia sonhar com um pódio, mas a chuva não o ajudou, como costuma acontecer, e Button, com duas vitórias em duas corridas, já é o primeiro piloto do time. Algo que Rubens pode reverter, claro. Basta ganhar na China. Em caso de nova vitória de Jenson, esquece. O inglês assume a primazia no time, como acontece em qualquer equipe cujo piloto abre a temporada com três vitórias seguidas, seja ele britânico, brasileiro, boliviano ou venusiano. Massa foi discreto, largou direito, mas empacou onde estava, não passou ninguém e terminou em nono. Nelsinho, ao menos, se manteve na pista na chuva. Mas também não fez nada, resultado de sua má posição de largada.

– Por fim, a decisão de interromper a corrida. Correta, claro. Afinal, até as águas da enchente baixarem, o manto da noite já teria sido estendido sobre Sepang. E como diz o observador Galvão Bueno, carro de F-1 não tem farol — algo que eu também já havia notado. No fim, as 31 voltas válidas (pelas minhas anotações, a bandeira vermelha apareceu na 32ª) foram percorridas em 55min30s622. Tudo isso só aconteceu por conta do horário esdrúxulo da largada. Mas sobre isso já falei.