Blog do Flavio Gomes
Gira mondo

GIRA MONDO, GIRA

SÃO PAULO – Escrevo antes da confirmação da morte de Michael Jackson, o que diante do espetáculo midiático que se monta passa a ser quase um detalhe. A batalha pela informação, para mim que nunca fui exatamente um fã, é o que mais empolga nessas horas. A morte ao vivo. MJ está morrendo como morreu Senna, […]

SÃO PAULO – Escrevo antes da confirmação da morte de Michael Jackson, o que diante do espetáculo midiático que se monta passa a ser quase um detalhe. A batalha pela informação, para mim que nunca fui exatamente um fã, é o que mais empolga nessas horas. A morte ao vivo. MJ está morrendo como morreu Senna, com imagens aéreas de helicóptero transmitidas pela CNN.

Qualquer informação, qualquer uma, ganha enorme importância antes de o fato se consumar. Um diz que está em coma. Outro, que a família já está chorando. Outro ainda, que já não respirava quando o resgate chegou. A hora da ligação, as vans das TVs chegando ao hospital da UCLA, a multidão se aglomerando, é dia em LA, há tempo suficiente para mostrar tudo.

Não culpo a imprensa, esses grandes acontecimentos (a morte do cara que fez o disco mais vendido de todos os tempos é um grande acontecimento) exigem isso. Todos se atiram na notícia, a cobertura ganha contornos épicos, jornais preparam cadernos especiais, capas de revista são mudadas, imagens de arquivo são recuperadas, nessas horas o jornalismo é um show à parte.

Michael Jackson é um símbolo de uma era maluca. Atravessou os anos 70 como menino-prodígio, um “Mozart do soul”, como disse Ed Motta à GloboNews, explodiu como estrela pop nos 80, começou a definhar nos 90 como personagem emblemático de si mesmo, enriqueceu e quebrou, virou um espectro, vítima da máquina de moer gente em que o mundo se transformou.

Vítima voluntária, alguém poderá dizer, porque há dezenas de exemplos de ídolos pop que sobreviveram ao massacre e estão aí até hoje cantando, tocando, na estrada. Mas ele se transformou num cara esquisito, quis ficar branco, acusam, talvez fosse mesmo doente, nunca se saberá, pois se fechou numa reclusão que a necessidade que as pessoas têm de simplificar as coisas entendeu como mera excentricidade.

Por que esse rapaz virou o que virou é um mistério que perdurará para sempre. Seu último ato foi derrubar o Twitter.

No mesmo dia, morreu de madrugada Farrah Fawcett, outro ícone dos anos 70, produto da TV, a mais linda das Panteras, o sorriso mais cheio de dentes da América, os cabelos mais cacheados, o extrato da beleza.

Doente, esquecida e solitária aos 62 anos.

Será pé de página. O Ratzenberger de Michael Jackson.

Estranho mundo, o nosso.