Blog do Flavio Gomes
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COISAS QUE ODEIO

SÃO PAULO (tolerância zero) – Quem tem carro antigo, sabe. Além de um ou outro olhar de admiração e um ou outro sorriso que a passagem de um velhinho motiva, tem sempre as duas perguntas clássicas quando você para num farol. O cara do carro ao lado, geralmente à sua direita, faz um sinal, você […]

SÃO PAULO (tolerância zero) – Quem tem carro antigo, sabe. Além de um ou outro olhar de admiração e um ou outro sorriso que a passagem de um velhinho motiva, tem sempre as duas perguntas clássicas quando você para num farol. O cara do carro ao lado, geralmente à sua direita, faz um sinal, você é obrigado a se inclinar, abrir o vidro e escutar: 1) que ano é? 2) vende?

A primeira pergunta tem por objetivo assegurar ao cidadão o direito de se virar para o lado e dizer “te falei?” ao/à acompanhante. Se for mulher, é demonstração tola de erudição. As mulheres estão cagando e andando para o ano de um DKW ou de um Fiat 147. Se for homem, alguém dado às mesmas necessidades de demonstrar conhecimento amplo sobre a indústria automobilística, pode ser que se inicie uma animada discussão sobre o sentido de abertura das portas, o fato de ser a álcool ou a presença/ausência de frisos na tampa do porta-malas (portamalas, portammalas, sei lá).

A segunda pergunta, “vende?”, é retórica, porque o indigitado não vai comprar seu carro mesmo se você lhe disser que sim. Se não há um cartaz de “vende-se”, é porque não está à venda; se há, a pergunta torna-se desnecessária. Mesmo assim, o cara sempre pergunta “vende?”, esperando uma resposta para se virar ao/à acompanhante e dizer “se eu tivesse um dinheirinho sobrando, comprava” ou, em tom mais baixo, “esse cara tá louco, não vale a metade”.

Mas a resposta é sempre “não”, tirando do cara a chance de fazer seu comentário besta ao/à acompanhante, o que leva à terceira intervenção do vizinho do carro ao lado, quando o sinal está prestes a abrir, o que é um alívio. “Meu pai teve um desse. Vemaguet, né?”, ou a variável “Gordini, né?”, e não, não é Vemaguet, nem Gordini, provavelmente é um Belcar, e o cara ainda diz “três marchas, né?”, e não, são três cilindros e quatro marchas, mas aí o farol abriu e tchau.

Só que nada irrita mais do que quando o cara te pergunta “é econômico?”. Como é que alguém pode perguntar a alguém que está andando de DKW se ele é econômico? O que leva a tal pergunta? Será que o cara acha que eu tenho um DKW, ou uma Variant, porque é econômico/a? Se eu responder “sim”, ele vai vender seu Fiesta ou Corolla para comprar um DKW ou uma Variant, de modo a realinhar seu orçamento?

À pergunta “é econômico?”, nunca tenho resposta.