Blog do Flavio Gomes
DKW & cia.

ENFIM

SÃO PAULO (valeu a pena) – Foi em julho de 2007 que fiz um primeiro contato por e-mail com Peter Kober, assessor de imprensa da Audi Tradition. É o braço da Audi que cuida do acervo histórico da marca. Escrevi para oferecer a eles meu DKW de corrida, o saudoso #96, para o museu de Ingolstadt. […]

SÃO PAULO (valeu a pena) – Foi em julho de 2007 que fiz um primeiro contato por e-mail com Peter Kober, assessor de imprensa da Audi Tradition. É o braço da Audi que cuida do acervo histórico da marca. Escrevi para oferecer a eles meu DKW de corrida, o saudoso #96, para o museu de Ingolstadt. Afinal, era o último DKW correndo regularmente no mundo e eu já tinha decidido encerrar sua carreira. Não queria nada, um tostão sequer, apenas mandar o carro para a Alemanha, onde ficaria muito bem guardado.

Peter respondeu e nasceu uma bela amizade, que se tornou maior ainda porque ele é casado com uma brasileira e adora futebol.

Meses antes, em Goodwood, a Audi levara um Type C para exibição e Emerson Fittipaldi, um dos convidados de honra do evento, foi ver o carro de perto e comentou com Peter que, nos anos 60, tinha pilotado um DKW no Brasil.

O #96 não interessou, mas a história do Emerson com um DKW, sim. E contei a ele exatamente o que foi isso, as Mil Milhas de 1966, que o Rato quase ganhou, correndo em dupla com Jan Balder, pilotando um Malzoni. “Malzoni?”, perguntou Peter. “O que é isso?”

Expliquei, e a cabeça fervilhante do meu amigo, fã de Sócrates e Éder, começou a trabalhar de maneira incontrolável, até que chegou à conclusão: queremos um Malzoni para o museu.

No fim daquele ano, Peter veio ao Brasil com Ralfie, o cara da Audi Tradition que caça carros das quatro argolas por todos os cantos do mundo. Queriam conhecer meus DKWs e saber como arrumar um Malzoni. No fim, decidiram levar também um Belcar 1967 e um Fissore, carros feitos pela Vemag que lá eles não tiveram, novidades absolutas para a turma de Ingolstadt.

Arrumei um Malzoni no Sul com outro grande amigo, mas ele precisava ser totalmente restaurado, iria levar algum tempo. Não quis vender nem meu 67, nem meu Fissore, que a Audi quis comprar. Essa etapa ficou para depois, já arrumei os carros, também, eu e Doctor Hélio Marques, e mantivemos essa história toda sob sigilo para não inflacionar valores e para não aparecerem espertalhões no meio do caminho — esse meio dos caros antigos tem alguns tubarões, como em todo lugar.

Nem eu, nem o Hélio levamos um centavo nisso tudo. Nossa recompensa foi poder participar do maior encontro de DKWs do mundo no ano passado em Zwickau, com um carro do museu para cada um passear — o meu foi um 3=6 amarelo conversível, o do Hélio foi uma Schnellaster vermelha recém-restaurada.

E, claro, a recompensa maior: deu tudo certo. Hoje o Peter me escreveu para avisar que dois anos e quatro meses depois do nosso primeiro contato, o Malzoni chegou à Alemanha. E, em breve, estará exposto no museu da Audi em Ingolstadt. É algo que me enche de alegria e orgulho. Primeiro, porque é a constatação de que dá para fazer as coisas sem pensar em dinheiro, sem passar por picaretas, sem olhar para o mundo como se tudo não passasse de um grande comércio de coisas e ideias. A gente queria, apenas, ver um Malzoni em Ingolstadt. E isso aconteceu. O segundo motivo desse orgulho e alegria é saber que o carro estará imortalizado na Alemanha, legítimo fruto da imaginação e do trabalho de Rino Malzoni, Anísio Campos e Jorge Lettry, pessoas tão caras a nós, que amamos a história da Vemag.

Essa foto valeu meu dia, é o resultado de uma paixão meio desembestada e inexplicável por um carro, uma marca, um cheiro.

Peter é o carequinha segurando a bandeira do Brasil. Danke, my friend. Como a gente diz aqui (espero que a Claudinha traduza), você é o cara.