Blog do Flavio Gomes
Gira mondo

GIRA MONDO, GIRA

SÃO PAULO (quanto tempo…) – Lá. Dubai quebrou. A ilha da fantasia, erguida nos últimos anos às custas do trabalho quase escravo de operários asiáticos (indianos, paquistaneses, cingaleses, bengalis e outros), está devendo 80 bilhões de verdinhas na praça. É o preço da especulação imobiliária, dos hotéis faraônicos, dos arranha-céus, das ilhas artificiais, da putaria […]

dubaiSÃO PAULO (quanto tempo…) – Lá.

Dubai quebrou. A ilha da fantasia, erguida nos últimos anos às custas do trabalho quase escravo de operários asiáticos (indianos, paquistaneses, cingaleses, bengalis e outros), está devendo 80 bilhões de verdinhas na praça. É o preço da especulação imobiliária, dos hotéis faraônicos, dos arranha-céus, das ilhas artificiais, da putaria promovida pelo petróleo, que lá nem é tão farto, e pela farra financeira internacional. Uma mentira árabe, entusiasticamente abraçada pelo Ocidente irresponsável.

Aí chegou o boleto, sabe como é? Vencimento dia tal. O xeique puxou o extrato e viu que não tinha dinheiro. Só não vai quebrar o mundo inteiro porque, felizmente, não é o mundo inteiro que acredita nessa farsa no meio do deserto. Azar de quem acreditou nessa farsa. Bem-feito.

Aqui.

A “Folha” publica hoje artigo do ex-guerrilheiro César Benjamin, o “Cesinha”, um dos ícones da luta armada. Citado em quase todos os livros sobre esse período, “Cesinha” era admirado e respeitado por, aos 17 anos, ser um guerrilheiro tão vigoroso, decidido e convicto em sua ideologia. Quase um herói. Eu diria que para mim, que li tudo que se publicou sobre o período, um herói de verdade.

Preso aos 17 anos, ficou cinco encarcerado. Depois, ajudou a fundar o PT, do qual saiu em 1995.

No artigo, Benjamin diz que em 1994, durante a campanha eleitoral, ouviu de Lula que quando ele, Lula, ficou preso, tentou estuprar um garoto que dividia cela com ele. Benjamin não se lembra dos nomes dos que estavam à mesa com ele e teriam ouvido essa conversa. Aqueles de quem se lembra negam que Lula tenha dito algo parecido.

A “Folha” deu uma página inteira a “Cesinha” para fazer a acusação, que é tão grave quanto frágil — há testemunhas que negam o fato e outras que não têm nome, endereço, cara. Lula se disse “triste” com o que leu e não pretende processar ninguém.

Durante anos, a “Folha” e toda a grande mídia brasileira esconderam do país a existência de um filho fora do casamento de Fernando Henrique Cardoso. O menino foi fruto de um relacionamento do então ministro da Fazenda com a jornalista Miriam Dutra, que trabalhava para a TV Globo em Brasília. A moça foi “exilada” pela emissora na Europa, onde vive até hoje com o menino, um jovem de quase 18 anos. Primeiro Portugal, depois Espanha. Como FHC seria candidato à presidência pelo PSDB, o acordo com os barões da imprensa foi de abafar o caso, porque filhos fora do casamento não pegam bem no Brasil e podem decidir eleições. Recentemente, FHC declarou que pretende reconhecer a paternidade do filho.

Conheço Miriam, um doce de pessoa, e sempre soube da existência desse filho, mas nunca me preocupei em “revelar” nada. Se eu dissesse a algum eventual chefe que tinha “descoberto” o filho de FHC, iriam dar risada na minha cara. Todos sabiam. Além do mais, política não era minha área de atuação, e sim F-1. Foi no ambiente da F-1 que conheci Miriam e o menino, e não tenho nada a ver com a vida particular de ninguém. E mais ainda: acho que ter um filho fora do casamento não diz nada sobre a capacidade de alguém de ser presidente. Ocorre que a mídia não decidiu ocultar o caso por ética, ou respeito à vida pessoal dos envolvidos. Foi para não prejudicar a candidatura de FHC, mesmo. O tratamento dispensado não seria o mesmo se o filho fosse de Lula, ou de Brizola, ou de alguém não-alinhado às ideias neoliberais que tomaram conta do Brasil na metade da década de 90.

O que está em discussão aqui é justamente a maneira de lidar com dois fatos que guardam certa semelhança. FHC tinha um filho na Europa, era algo sabido e comprovado, e ninguém falou nada para não arranhar sua reputação. Agora, vem um cara dizer que Lula tentou estuprar um colega de cela, sem prova alguma, sem evidência nenhuma, e ganha uma página inteira no maior jornal do país.

Tenho muita saudade dos tempos em que trabalhei na “Folha”, e do jornal que fazíamos então. Jamais publicaríamos um artigo desses, com acusação tão grave, sem a menor comprovação. O jornalismo, tal qual aprendi a fazer na Barão de Limeira, não existe mais.